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Entrar ou passar longe? Setores preferidos e deixados de lado por gestores em 2023

Publicado 19.01.2023, 16:18
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Por Jessica Bahia Melo e Leandro Manzoni

Investing.com – Em um cenário macroeconômico brasileiro e global ainda desafiador, os gestores têm se posicionado um tanto mais cautelosos diante de teses de crescimento e apostado em setores que seriam considerados de valor ou resilientes, conforme especialistas consultados pelo Investing.com. Acrescenta-se às incertezas um novo governo no Brasil com uma visão econômica diferente de seus antecessores.

"Não teve transição, e o [novo] governo assume com mudança em vários aspectos [de política econômica] após 6 anos", avalia Alexandre Silvério, CEO da Tenax Capital, apontando a inversão da pauta econômica liberal dos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro para uma agenda de maior gasto sob a administração do recém-empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"O governo ainda não começou, o segundo escalão ainda não foi nomeado", prossegue o gestor, que ressalta ainda ser cedo para elaborar um cenário assertivo do que vai ser a economia doméstica. "A expectativa é grande em pontos que ainda não foram adicionados pela equipe econômica, como a nova âncora fiscal", analisa Silvério, ao mencionar que o governo Lula ainda não estabeleceu expectativa alguma do que vai ser a política econômica.

"Houve alguns sinais de retrocesso, depois desmentidos, o que assusta os agentes econômicos" afirma o CEO da Tenax, ao citar discussões em pauta, como a reoneração dos tributos federais sobre os combustíveis, antirreforma da Previdência, nova política de preço dos combustíveis, o marco do saneamento básico e a reversão da privatização da Eletrobras (BVMF:ELET3). "Mercado não gosta de incerteza", completa.

Setores com oportunidades

Werner Roger, CIO da Trígono Capital, afirma que as empresas de maior concentração devido aos fundamentos são voltadas ao setor industrial, com foco na indústria automotiva pesada, como veículos leves, caminhões e máquinas de linha amarela, além de tratores agrícolas. Na visão do gestor, o governo eleito tem um apreço especial ao setor automobilístico, levando em consideração que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é ex-metalúrgico. Os períodos anteriores de gestão de Lula foram positivos para este segmento, segundo Roger. Além disso, o novo ministro da Indústria e Comércio Geraldo Alckmin já indicou que o país precisaria passar por um processo de reindustrialização.

Entre as empresas que vêm apresentando bom desempenho, na visão da Trígono, estão a Tupy (BVMF:TUPY3), Schulz (BVMF:SHUL4) e Metal Leve (BVMF:LEVE3). Com receitas no mercado externo por volta de 70% do total da Tupy, investir na companhia é uma forma de optar por uma empresa com foco na economia global, principalmente nos Estados Unidos. “Para nós, a grande cereja do bolo, a MWM [adquirida pela Tupy] desenvolveu uma tecnologia para fazer motores alimentados por biometano, gás de resíduos de lixo urbano e do agronegócio”, destaca. A Trígono espera resultados “excelentes em 2023”, com dividendos robustos, que não foram pagos nos últimos anos devido a aquisições da Tupy.

A Schulz também atende a indústria automobilística pesada, mas não compete com a Tupy, segundo Roger. “A companhia exporta cerca de 40%, está construindo duas fábricas novas, com produtos extraordinários e conta com uma demanda muito forte”, avalia. Em relação à Metal Leve, que fornece outras peças de reposição para montadoras, a expectativa é de um dividend yield em torno de 20%, com geração de caixa forte para remunerar os acionistas.

Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren, que também atua como gestora, elenca os setores de maior otimismo para 2023: commodities, energia elétrica e bancos. Nobre avalia que, olhando para o cenário doméstico, ainda há muitas incertezas, principalmente relacionadas aos ciclos de juros e inflação. “Quando a gente olha para o setor de utilidades públicas, são empresas que conseguem repassar essa inflação. Em relação às commodities, há a perspectiva de reabertura da China, que deve continuar impactando os preços, já tivemos uma alta no preço do minério de ferro, principalmente, no aço, nas commodities metálicas. Estamos vendo também uma recuperação do petróleo”.

Nobre lembra que os rendimentos são dolarizados e indica a perspectiva de que a moeda americana permaneça em patamar elevado por mais tempo, o que traria uma proteção para os ativos. “A gente prefere ser um pouco mais conservador na nossa alocação de carteiras, porque ainda tem algum nível de incerteza. Entendemos que essas empresas devem pagar bons dividendos, olhando para esse ano”.

Em relação ao setor financeiro, a Warren acredita que os bancos conseguem ser resilientes em qualquer cenário e apresentam bom valuation atualmente. Empresas como Bradesco (BVMF:BBDC4) e Itaú (BVMF:ITUB4) estariam descontadas.

Silvério, da Tenax, não foge da visão dos outros gestores quanto ao olhar com atenção em oportunidades ligadas à commodities. "Preponderam [grandes probabilidades de ganhos em setores] como papel e celulose, mineração e commodities agrícolas". diz o gestor, que está de olho no processo de reabertura da economia chinesa combinado com uma desaceleração econômica nos EUA - neste caso, enfraquecendo o dólar e favorecendo o preço das commodities.

Investidores devem correr de alguns setores

A Warren prefere ficar longe de empresas cíclicas neste ano, com foco em alto crescimento e dependentes da economia doméstica, como setores de varejo e ramo imobiliário.

“No caso do varejo, nós preferimos empresas do consumo básico e não discricionário, mas temos recomendações em Arezzo (BVMF:ARZZ3) e Grupo Soma (BVMF:SOMA3), que são os nossos preferidos porque atendem a classe AB, são menos suscetíveis à inflação, e à perda do poder de compra”, aponta Nobre.

A Trígono Capital deve manter distância das varejistas. Com a taxa Selic em patamares elevados, em 13,75%, empresas que estejam dependentes do consumo devem continuar a ser pressionadas. “Os juros aumentam o endividamento das famílias, que está em nível recorde, não há recursos para fazer novas aquisições de consumo em geral, roupa nova, eletrônico, celular”, completa Roger, que enxerga que em um cenário de cautela sobre o risco fiscal, o Banco Central não deve iniciar o ciclo de afrouxamento monetário tão cedo.

A Tenax Capital compartilha da avaliação das outras gestoras em relação ao investimento em ações de empresas ligadas à economia doméstica, devido ao grau elevado de incerteza econômica. E acrescenta mais um grupo de empresas para os investidores não aportarem seu dinheiro.

"Ficaria longe de empresas com alavancagem financeira e com dificuldade de repasse de preços", indica Silvério, citando que a taxa Selic alta vai continuar por muito tempo, o que deve elevar o custo de refinanciamento de empresas, elevando as despesas financeira e revertendo o lucro.

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