Por Eduardo Simões
(Reuters) - O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, rebateu o presidente Jair Bolsonaro em um duro discurso na abertura da sessão da corte nesta quinta-feira e disse que as alegações de fraude na eleição de 2018 são "retórica vazia" e que a população já sabe quem é o "farsante nessa história".
O presidente do TSE também disse que Bolsonaro descumpre a palavra dada ao manter o que chamou de "campanha insidiosa" contra o sistema eletrônico de votação após a derrota da proposta do voto impresso no Congresso.
Barroso anunciou no início da sessão da corte que rebateria os ataques que Bolsonaro fez "com o vocabulário e a sintaxe que consegue manejar" nas manifestações do 7 de Setembro, e garantiu que um presidente eleito democraticamente pelo voto popular tomará posse em 1º de janeiro de 2023.
Diante da insistência de ataques a ele, pessoalmente, e ao sistema eletrônico de votação, o presidente do TSE lembrou que Bolsonaro jamais apresentou provas das fraudes que alega ter ocorrido na eleição de 2018, quando se elegeu.
Disse ainda que uma transmissão feita pelo presidente nas redes sociais no final de julho, na qual afirmou que apresentaria provas de fraudes sem cumprir a promessa, "deverá figurar em qualquer futura antologia de eventos bizarros".
"É tudo retórica vazia. Hoje em dia, salvo os fanáticos --que são cegos pelo radicalismo-- e os mercenários --que são cegos pela monetização da mentira--, todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história", disparou.
Barroso, que tem sido frequentemente atacado por Bolsonaro, rebateu a afirmação do presidente no 7 de Setembro sobre a desconfiança da população em relação às eleições e disse que as suspeitas em torno da urna eletrônica são minoritárias e resultado de uma "campanha insidiosa" patrocinada pela máquina governamental.
"Depois de quase três anos de campanha diuturna e insidiosa contra as urnas eletrônicas, por parte de ninguém menos do que o presidente da República, uma minoria de eleitores passou a ter dúvida sobre a segurança do processo eleitoral. Dúvida criada artificialmente por uma máquina governamental de propaganda. Assim que pararem de circular as mentiras, as dúvidas se dissiparão", disse Barroso.
"O slogan para o momento brasileiro, ao contrário do propalado, parece ser: 'Conhecerás a mentira e a mentira te aprisionará'", disse Barroso, em referência ao versículo bíblico frequentemente citado por Bolsonaro como seu lema "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".
Barroso lembrou que foi o Congresso, e não o TSE, que rejeitou a proposta do voto impresso. Ele negou ter feito "ativismo legislativo" contra a proposta e chamou de covardia atacar a Justiça Eleitoral por falta de coragem de Bolsonaro para atacar o Parlamento.
"O presidente da Câmara afirmou que após a votação da proposta, o assunto estaria encerrado. Cumpriu a palavra. O presidente do Senado afirmou que após a votação da proposta, o assunto estaria encerrado. Cumpriu a palavra", disse Barroso.
"O presidente da República, como ontem lembrou o presidente da Câmara, afirmou que após a votação da proposta o assunto estaria encerrado. Não cumpriu a palavra."
MOTIVO DE CHACOTA
O presidente do TSE afirmou ainda que a democracia vive um momento delicado em várias partes do mundo e que o Brasil não quer entrar no clube de países que vivem uma erosão democrática, citando como exemplos Turquia, Hungria, Venezuela, Polônia, Nicarágua e El Salvador.
"Quando o fracasso inevitável bate à porta --porque esse é o destino do populismo--, é preciso encontrar culpados, bodes expiatórios. O populismo vive de arrumar inimigos para justificar o seu fiasco. Pode ser o comunismo, a imprensa ou os tribunais", afirmou.
"Já começa a ficar cansativo, no Brasil, ter que repetidamente desmentir falsidades, para que não sejamos dominados pela pós-verdade, pelos fatos alternativos, para que a repetição da mentira não crie a impressão de que ela se tornou verdade. É muito triste o ponto a que chegamos."
Barroso disse ainda que a situação atual faz com que o Brasil seja vítima de desprezo mundial e fez uma defesa do fortalecimento das instituições democráticas.
"A marca Brasil sofre, nesse momento, uma desvalorização global. Somos vítimas de chacota e de desprezo mundial. Um desprestígio maior do que a inflação, do que o desemprego, do que a queda de renda, do que a alta do dólar, do que a queda da bolsa, do que o desmatamento da Amazônia, do que o número de mortos pela pandemia, do que a fuga de cérebros e de investimentos", disse.
"Mas, pior que tudo, nos diminui perante nós mesmos. Não podemos permitir a destruição das instituições para encobrir o fracasso econômico, social e moral que estamos vivendo."