Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caiu pelo oitavo pregão consecutivo nesta sexta-feira, a uma nova mínima desde março de 2020, marcando sua décima semana de perdas no ano e consolidando a posição do real como a moeda que mais ganha no mundo no acumulado de 2022.
Após cair 1,74% nesta sessão, a 4,7469 reais na venda, a moeda norte-americana à vista acumula agora queda de 14,8% no ano. O patamar de encerramento desta sexta-feira foi o menor desde 11 de março de 2020 (4,7207), e refletiu, segundo operadores, desmontes de posições compradas em dólar.
Com esse resultado, a divisa marcou sua maior sequência de desvalorização desde uma série de mesma duração --oito dias-- finda em 5 de março de 2010.
A desvalorização semanal do dólar foi de 5,38%, a quarta consecutiva e décima das 12 semanas de negociação completas deste ano. Também foi a maior perda nessa base de comparação desde a semana finda em 6 de novembro de 2020 (-6,07%).
A divisa norte-americana tem rompido níveis de suporte de maneira sucessiva. Ao longo da semana, cruzou os níveis de 5,00, 4,90, e, nesta sexta-feira, de 4,80 e 4,75 reais. Na mínima intradiária deste pregão, chegou a tocar 4,7439 reais.
Abaixo de suas médias móveis lineares de 50, 100 e 200 dias desde o final de janeiro, o dólar está agora muito próximo de perder outra barreira técnica importante: sua média móvel de 200 semanas, atualmente em 4,7089 reais.
"Tivemos uma explosão nos termos de trocas por causa da guerra, favorecendo os produtores de commodities", disse no Twitter Alfredo Menezes, sócio da Gestora Armor Capital, sobre a recente depreciação do dólar.
O conflito na Ucrânia levantou temores generalizados de restrição de oferta de produtos como petróleo e commodities agrícolas, impulsionando seus preços. Isso voltou a atenção de investidores internacionais para alternativas à Rússia e à Ucrânia --importantes exportadoras--, especialmente na América Latina, região considerada menos vulnerável à crise geopolítica.
Em relatório desta sexta-feira, a agência de classificação de risco Fitch Ratings notou que "as moedas na América Latina tiveram o melhor desempenho de qualquer região de mercados emergentes em meio à recente aversão ao risco global", ainda que a guerra represente riscos inflacionários e econômicos para os países da região.
Além do salto das commodities, "veremos uma Selic próxima a 13%", continuou Menezes, da Armor, afirmando que esse patamar de juros eleva o carrego oferecido pela moeda brasileira, além de tornar mais caro adotar posições compradas em dólar.
Seu comentário faz referências a estratégias de "carry trade", que buscam lucrar com a tomada de empréstimo num país de juro baixo e aplicação desses recursos num mercado com rendimentos elevados.
Com a taxa Selic atualmente em 11,75%, o Brasil tem uma das maiores taxas de juros nominais do mundo, perdendo apenas para Rússia --golpeada por sanções ocidentais em resposta à guerra--, Argentina e Turquia --dois países que sofrem com inflação galopante.
E os custos dos empréstimos brasileiros devem subir ainda mais, com ampla expectativa de que o Banco Central promova elevação de 1 ponto em sua reunião de maio. O presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, tem sinalizado que o ciclo de aperto monetário iniciado no ano passado deve parar por aí, mas algumas instituições financeiras e participantes do mercado projetam altas adicionais da Selic.
Nesta sexta-feira, após a leitura de março do IPCA-15 surpreender para cima, o Credit Suisse (SIX:CSGN) passou a estimar os juros em 14% ao fim de 2022, com ajustes de 1 ponto percentual em maio, 0,75 ponto em junho e 0,50 ponto em agosto.
Apesar da força recente do real, Menezes, da Armor, disse acreditar que o movimento de disparada das commodities não é permanente e vê o dólar de equilíbrio --valor ideal da moeda levando em consideração variáveis macroeconômicas-- acima dos patamares atuais.