SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta e perto das máximas desta terça-feira, com operadores acompanhando o fortalecimento da moeda norte-americana no exterior em meio ao ambiente de maior aversão a risco por dúvidas sobre a retomada econômica global, enquanto no Brasil agentes monitoraram falas de autoridades econômicas e ruídos em torno da Petrobras (SA:PETR4).
O dólar à vista fechou em alta de 0,68%, a 5,2589 reais. Na máxima, foi a 5,2646 reais (+0,78%), depois de recuar 0,47%, a 5,199 reais, na mínima.
A moeda brasileira teve o segundo pior desempenho global nesta sessão (o rand sul-africano caía 1,2% no fim da tarde), seguida por outras divisas que sentem o baque em momentos de maior estresse, como os dólares australiano, neozelandês e canadense, além de pares emergentes, como o rublo russo.
O índice do dólar no exterior, embora tenha chegado ao fim da tarde com apenas ligeira alta de 0,01%, recuperou-se de todas as perdas de mais cedo, quando chegou a cair 0,32%.
A busca por proteção no dólar aqui e lá fora ocorreu em sintonia com a piora de percepção de risco no mercado de ações, com Wall Street acelerando as perdas na reta final da sessão. O mercado teme desaceleração econômica mais forte e impactos mais expressivos nos lucros das empresas caso seja aprovada proposta de aumento de impostos corporativos nos EUA.
No Brasil, além do ainda fervente caldeirão político, investidores acompanharam falas dos dois principais representantes da equipe econômica sobre câmbio e juros.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, fez comentários entendidos por operadores como indicação de que não subirá tanto os juros quanto o estimado --o que derrubou as taxas de DI de curto prazo e enfraqueceu uma das variáveis de apoio à taxa de câmbio (a expectativa de juro mais alto).
"O mercado pode interpretar isso como uma maneira de você fugir um pouco da responsabilidade de combater a inflação nem neste ano, mas no ano que vem", afirmou Carlos Woelz, sócio-diretor da gestora Kapitalo, chamando atenção para o perigo de alongar o horizonte de política monetária para 2023, ano em que, lembrou, não se sabe nem quem será o presidente da República.
Mas Campos Neto também afirmou que o BC deve atuar no câmbio para amenizar efeitos de maior demanda associada ao "overhedge" (proteção cambial extra dos bancos) no fim do ano.
Agora no fim da tarde, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o dólar já deveria estar descendo e admitiu que o "barulho político" não deixa, dizendo logo em seguida que não há problema, uma vez que isso daria mais tempo para benefício às exportações. Segundo Guedes, "tudo normal", a taxa de câmbio de equilíbrio deveria estar entre 3,80 reais e 4,20 reais.
Mas o mercado prevê que o câmbio seguirá por um bom tempo mais desvalorizado do que o sinalizado pelos fundamentos, e nesse sentido tem chamado atenção a piora nas expectativas para as contas externas, num momento em que investidores revisam para cima as estimativas para o dólar apesar dos também mais elevados prognósticos para a taxa Selic.
Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, manteve a perspectiva para o dólar ao término de 2021 (5,40 reais) e 2022 (5,60 reais) a despeito de ter elevado a estimativa para a Selic ao fim do ciclo de aperto monetário de 7,5% para 8,5%. Ele destacou ainda fatores externos, como risco de redução de estímulos nos EUA em 2022 e até mesmo de elevação de juros por lá.
"Quando você combina esses pontos os fluxos de capitais podem não vir para cá e aí o dólar fica pressionado."
As chances de mudança na política monetária nos EUA também foram mote para a piora pelo Itaú Unibanco (SA:ITUB4) na estimativa para o dólar ao fim de 2022 --o número passou de 5,10 reais para 5,20 reais. Para 2021, a expectativa subiu de 4,75 reais para 5,00 reais.
"As incertezas domésticas (especialmente relacionadas à evolução das contas públicas nos próximos anos) impedem uma apreciação mais expressiva da moeda (em relação aos patamares atuais)", disse a equipe de pesquisa econômica do Itaú em nota de revisão de cenário Brasil.
Além do risco fiscal, os profissionais apontaram ainda fluxos pontuais de compra (estimada pelo Itaú em cerca de 15 bilhões de dólares) decorrentes de ajustes ao "overhedge" e eventual antecipação de dividendos em função da reforma tributária.