Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) -A liquidação de dólares prosseguiu nesta quarta-feira e derrubou a moeda norte-americana abaixo da importante linha psicológica dos 5,10 reais, com analistas avaliando que a cotação poderá perder o suporte de 5 reais se dados nos Estados Unidos a serem divulgados até o fim da semana vierem mais fracos que o esperado.
O dólar à vista caiu 1,20%, a 5,0843 reais na venda. É o menor patamar desde 17 de dezembro (5,0782 reais).
Ao longo do dia, a moeda variou de 5,1756 reais (+0,57%) a 5,0676 reais (-1,53%). O real ficou entre as três divisas que mais se valorizaram nesta sessão em todo o mundo.
Em dois dias de forte baixa, a moeda acumula desvalorização de 2,70%. A divisa recua em seis das últimas oito sessões, período em que tem perda de 5,06%.
A última vez que o dólar fechou abaixo de 5 reais foi em 10 de junho de 2020 (4,9398 reais).
As vendas de dólares foram ditadas novamente por um movimento de "compra de Brasil", a exemplo dos últimos dias --sobretudo na véspera, quando dados melhores do PIB provocaram um rali nos ativos domésticos. Nesta quarta, o Ibovespa fechou em nova máxima recorde, de quase 130 mil pontos (segundo dados preliminares), e os juros futuros de longo prazo chegaram ao fim da tarde em quedas de 10 pontos-base.
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"Estou vendo todo mundo comprar real", afirmou um gestor de fundo em São Paulo, que se diz "construtivo" na venda de dólar.
Segundo ele, há forte fluxo no mercado físico, com exportadores internalizando recursos, até então deixados lá fora, pela melhora do custo de oportunidade de se aplicar no país e também para não correr o risco de entrar no mercado local com o dólar ainda mais fraco.
Outros países exportadores de commodities também têm visto aumento de vendas externas e de seus termos de troca, além de melhor crescimento econômico. Mas o que pode deixar o real em destaque global, segundo analistas, é toda a depreciação sofrida pela moeda nos últimos anos, que a deixou atrás em relação a seus pares e com espaço para alta.
Apesar dos ganhos recentes, o real ainda está quase 17% mais fraco que o peso mexicano no acumulado dos últimos dois anos. A moeda mexicana é muitas vezes vista como a principal concorrente do real no mundo emergente.
"A princípio a pressão vendedora de dólar é por conta do crescimento mais forte que o esperado e da expectativas de que o BC vai tirar todo estímulo até final do ano", disse um profissional da área de câmbio de um banco estrangeiro, em referência a expectativa de mais altas de juros, o que deixaria o real mais atrativo aos olhos do estrangeiro.
A economia em ritmo mais acelerado e novos riscos à inflação relativos à crise hídrica começam a guiar mais analistas a projeções de Selic de até 7,5% para 2022, com alguns vendo 6,5% ainda neste ano, o que indica que nos próximos meses o Banco Central teria de abandonar o discurso de normalização "parcial" da política monetária.
Victor Scalet, estrategista macro da XP, disse que a melhora do sentimento em relação ao Brasil e a expectativa de continuação de elevações de juros já têm despertado mais interesse de clientes estrangeiros para investimentos em renda fixa e bolsa do Brasil --o que prenuncia ingresso de dólares ao país.
"Nos dois casos, o Brasil ainda não é o 'queridinho' do mundo. Mas é muito sensível o aumento da quantidade de perguntas sobre o que você está olhando na curva de juros, o que você está olhando de crescimento... Esse é o primeiro sinal de que se está fazendo a lição de casa para ver se vai investir ou não. A gente está começando a ver os motores esquentando", afirmou.
O estrategista da XP disse que mesmo com a queda recente o dólar ainda pode ir mais para baixo. "Estamos numa dinâmica positiva, o fluxo comercial está muito forte... Está sobrando dólar."
(Edição de Maria Pia Palermo)