Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar registrava queda acentuada contra o real na manhã desta terça-feira, ampliando as perdas registradas no dia anterior depois que Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) venceram as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente, elevando as perspectivas de retomada da agenda de reformas do governo de Jair Bolsonaro.
Lira, candidato apoiado pelo governo, foi eleito com larga vantagem em primeiro turno, dando fôlego ao governo para tocar sua pauta prioritária e ainda alguma garantia diante dos cerca de 60 pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Ao assumir, ele defendeu uma pauta emergencial, atenção à responsabilidade fiscal e à questão social.
Ao prometer união, Lira agradeceu seu principal adversário, Baleia Rossi (MDB-SP), mas em seguida destituiu o bloco que havia dado sustentação ao emedebista, alegando que seu registro ocorreu após o prazo limite predeterminado, atitude que pegou de surpresa boa parte do plenário e pode acirrar os ânimos na Casa.
No Senado, Rodrigo Pacheco -- em seu primeiro mandato na Casa -- também foi eleito com amplo apoio político. Ele prometeu um esforço para conduzir pautas de interesse do Poder Executivo, mas ressalvou que exigirá uma atuação independente e que também buscará diálogo com as demais instituições.
Na esteira desses acontecimentos, às 10:38 desta terça-feira, o dólar recuava 1,01%, a 5,3933 reais na venda. Na B3 (SA:B3SA3), o dólar futuro perdia 0,66%, a 5,3995 reais.
"Espera-se que o governo tenha mais abertura junto a esses presidentes (no Congresso) pra aprovar as reformas", explicou à Reuters Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da Ourominas.
A agenda de reformas estruturais é vista por boa parte dos mercados como essencial para a saúde fiscal do Brasil, num contexto de dívida pública recorde e persistentes temores de que o país fure seu teto de gastos.
"Já de cara pode ser que haja votações importantes, e provavelmente o Congresso vai buscar junto com o governo uma solução para os pacotes de estímulo" em resposta aos danos da Covid-19, disse Cavalcante, ressaltando que o respeito à meta fiscal deve ser mantido e que, apesar do alívio político momentâneo, os investidores seguem atentos à saúde das contas públicas.
Na semana passada, em meio a pressão da oposição por mais gastos com ajuda à população afetada pela Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a continuidade do auxílio emergencial quebraria o Brasil e teria uma série de outras consequências desastrosas.
Em 2020, o dólar teve salto acumulado de quase 30% contra o real, com a incerteza fiscal sendo apontada como um dos principais responsáveis para a fraqueza da moeda local, assim como o cenário de juros baixos e forte disseminação da Covid.
Enquanto isso, no exterior, esta terça-feira era marcada por otimismo em torno de estímulos econômicos e recuperação global, embora os lockdowns persistentes na Europa diante da disseminação do coronavírus continuassem limitando o bom humor dos investidores.
"A expectativa em torno da aprovação de um pacote fiscal nos EUA traz alívio à aversão ao risco", disseram analistas do Bradesco (SA:BBDC4) em nota, citando a notícia de que o presidente norte-americano, Joe Biden, se reuniu na véspera com republicanos de centro para discutir a ajuda federal relacionada à pandemia.
"Contudo, os ganhos são limitados pela cautela dos investidores com o avanço da pandemia, o que tem levado ao retorno de restrições de mobilidade em vários países."
O índice do dólar contra uma cesta de rivais operava entre estabilidade e leve alta, enquanto peso mexicano, lira turca e rand sul-africano, pares emergentes do real, registravam ganhos.
O dólar spot fechou a última sessão em queda de 0,55% contra a moeda brasileira, a 5,4486 reais na venda.
O Banco Central fará nesta terça-feira leilão de swap tradicional para rolagem de até 16 mil contratos com vencimento em junho e outubro de 2021.