Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Os prêmios de risco na curva de juros vão aumentar e o dólar baterá 6 reais, preveem estrategistas do Société Générale (PA:SOGN), acreditando que os mercados devem esperar por mais deterioração fiscal no Brasil.
De acordo com relatório do banco divulgado nesta sexta-feira, o câmbio sofrerá com lento crescimento econômico, deterioração dos cenários fiscal e de dívida e baixos juros. O noticiário sobre vacinas é positivo, mas pode levar tempo até que o imunizante esteja disponível a todos, num contexto em que os casos de Covid-19 no país estão em alta.
"Além disso, (Jair) Bolsonaro perdeu capital político nas eleições municipais de novembro, e a baixa visibilidade antes das eleições no Congresso em fevereiro tem prejudicado o cenário para reformas no curto prazo", disse o banco francês.
O Société Générale entrou com recomendação de compra de dólar ante o real em 2 de dezembro, com a moeda a 5,22 reais. A meta é de 6,0 reais, com "stop" em 4,90 reais.
O dólar era cotado a 5,2712 reais nesta sexta-feira.
Em 11 de dezembro, o banco iniciou recomendação de alta na inclinação da curva de DI entre os vencimentos janeiro de 2027 e janeiro de 2022, com ponto de entrada em 377 pontos-base, "target" de 540 pontos-base e "stop" em 320 pontos-base. O spread estava em 380,50 pontos-base nesta sexta.
O banco notou que a curva longa seguia pressionada por fracas perspectivas fiscais e de dívida, enquanto o trecho curto se mantinha ancorado pelo Banco Central, que deve manter a Selic na mínima recorde de 2% "pelo menos" ao longo do primeiro semestre, "devido ao amplo hiato negativo e com questões de oferta que afetam a inflação chegando ao fim".
"A chance de o Banco Central subir os juros no curto prazo não passa de zero", disse o Société, afirmando que, no mercado, as apostas são de que o Copom começará a elevar a Selic no primeiro trimestre, chegando ao fim do ano com um total de 350 pontos-base de acréscimo.
Os estrategistas do banco francês entendem que, com o Brasil enfrentando uma segunda onda de Covid-19 e a incerteza sobre a disponibilidade de vacinas para a população e se as pessoas querem se vacinar, aumentou o risco de outra "profunda desaceleração econômica e de mais estímulos do que menos", o que coloca em risco o teto de gastos.
"Consequentemente, os investidores deveriam esperar deterioração adicional das contas públicas. Enquanto isso, prevemos que a relação dívida/PIB ficará em torno de 100% em 2021", disse a equipe de estratégia para mercados emergentes do Société, chefiada por Jason Daw.