Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A já intensa pressão de compra de dólar aumentou nesta sexta-feira, com a moeda norte-americana disparando para acima de 4,10 reais, nos maiores níveis em oito meses, enquanto o mercado se mantém em alerta para eventuais atuações do Banco Central no mercado de câmbio.
Não houve uma notícia específica que catapultasse a moeda norte-americana, mas, segundo analistas, um mix entre falta de confiança na articulação política do governo, exterior avesso a risco e "teste" à disposição do BC para atuar no câmbio inflamou a demanda por dólares.
O dólar subiu contra várias divisas emergentes, mas, novamente, o movimento local foi mais intenso, evidência de que questões idiossincráticas têm tido peso mais notório na formação do preço da moeda.
O dólar à vista (BRBY) subiu 1,62%, a 4,1019 reais na venda.
É o maior patamar desde 19 de setembro de 2018 (4,1242 reais).
Na máxima durante os negócios, a cotação bateu 4,1140 reais.
A valorização desta sexta-feira é a mais forte desde 24 de abril (1,63%).
Na semana, o dólar acumulou ganho de 4%, maior rali desde a semana terminada em 24 de agosto de 2018 (4,85%).
Além dos ruídos políticos, que ameaçam atrasar mais o andamento da reforma previdenciária, o dólar disparou nesta semana conforme o mercado rebaixou mais os prognósticos para a atividade econômica. Isso respalda especulações de que o Banco Central possa reduzir mais os juros, deprimindo a atratividade do real frente a outras divisas.
Algumas casas já veem juro entre 5% e 6% ao fim do ano, ante os atuais 6,50%.
Com o dólar em espiral de alta, o mercado começou a debater de forma mais intensa a probabilidade de atuação do BC no mercado de câmbio.
Nos últimos anos, o BC tem atuado via contratos de swap cambial e leilões de linha de dólares. A última oferta líquida de swaps ocorreu no fim de agosto. No fim do último mês de março, quando o dólar havia tocado também os 4 reais, o BC anunciou oferta líquida de linhas de dólares com compromisso de recompra.
Para o chefe da mesa proprietária de um banco em São Paulo, o real já incorporou muitas notícias negativas e está "barato", quando comparado a outros ativos domésticos.
"Então, se essa deterioração continuar, esperamos algum tipo de intervenção", afirmou o profissional, acreditando que uma persistente depreciação cambial contamina outras classes de ativos, criando um ciclo "muito negativo".
Segundo Fabrizio Velloni, chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, o mercado tem "testado" a disposição do Banco Central para atuar. Mas ele considera a atual postura de observação da autoridade monetária como a mais acertada.
Corroborando a ideia de que, por ora, não há pânico nem disfuncionalidade no câmbio, as taxas de cupom cambial <0#FRC:>, que simulam taxas de juros em dólar, seguem perto de mínimas recentes.