Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O Santander Brasil (SA:SANB11) fez nesta quinta-feira expressivas revisões para cima em suas estimativas para dólar, juros e inflação em 2021, em meio à deterioração das condições financeiras diante de riscos fiscais e do iminente retorno do auxílio emergencial.
O banco agora projeta que o dólar fechará o ano em 5,20 reais (4,60 reais antes). O IPCA aumentará 3,6%, ante 3,0% da projeção anterior. E a Selic terminará em 2021 em 4,00%, frente à taxa de 2,50% esperada antes.
Os ajustes nos números têm como pano de fundo crescente pressão por uma reedição do coronavoucher, que passou a ser contemplada no cenário-base do Santander, no valor de 25 bilhões em gastos sociais fora do teto constitucional neste ano, com o programa custeado por créditos extraordinários e efeito fiscal compensado por reformas que neutralizam o impacto intertemporal sobre a dívida pública.
A demanda pelo benefício, segundo o banco, ocorre diante de um mercado de trabalho "enfraquecido", da segunda onda de Covid-19 e do vácuo deixado pelo auxílio emergencial que vigorou durante alguns meses de 2020.
"Apesar da 'neutralidade', acreditamos que uma nova exceção ao regime fiscal, após fortes estímulos em 2020, e um ambiente político tensionado (focado em 2022) limitarão a queda do prêmio de risco embutido nos preços dos ativos nacionais e a incerteza inerente às expectativas econômicas para o país", disse o Santander em relatório assinado pela economista-chefe da instituição, Ana Paula Vescovi, e pela equipe de macroeconomia.
O Santander piorou a estimativa para a taxa de câmbio também para 2022, que passou de dólar a 4,15 reais para 5,40 reais --o dólar fechou esta quinta-feira em 5,3881 reais. Por outro lado, o banco manteve os prognósticos para Selic e inflação.
"As projeções (de inflação) de 2021 e 2022 encontram-se um pouco abaixo da trajetória das metas centrais do BC (3,75% e 3,50%, respectivamente) e têm uma composição benigna... Contudo, o risco segue enviesado para cima, especialmente em 2021, em função de custos. Uma eventual desancoragem de expectativas em função de tensões fiscais também constitui um risco para 2022", disse o Santander.
No caso do PIB, houve manutenção do número previsto para 2021 (+2,9%), mas corte no crescimento estimado para 2022 (de 2,5% para 2,3%).
"Baseado no forte crescimento da atividade no final de 2020 e na possível deterioração sequencial da atividade no primeiro trimestre de 2021... estamos mantendo nossas projeções do PIB para 2020 e 2021... A nova trajetória de política monetária motivou uma revisão baixista do PIB para 2022", disseram os profissionais.