Por Marco Aquino e Eduardo Baptista
LIMA/PEQUIM (Reuters) - No Peru, país sul-americano rico em cobre, o novo governo de Donald Trump já se encontrará do lado perdedor em uma batalha comercial contra a China, parte de um realinhamento de poder maior em torno da região rica em recursos no quintal de Washington.
O segundo maior exportador de cobre do mundo receberá líderes da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) nesta semana e o presidente da China, Xi Jinping, deve comparecer e inaugurar um novo porto construído no país. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também está na lista de convidados.
O Peru reflete um desafio mais amplo para a Casa Branca na América do Sul, onde a presença da China tem crescido rapidamente devido ao seu enorme apetite pelas principais exportações da região: milho, cobre, soja, carne bovina e lítio metálico para baterias.
Isso tem feito Pequim se tornar o parceiro comercial preferido de Brasil, Chile e Argentina, corroendo a influência política regional de Washington, uma tendência que se ampliou com a abordagem "América em primeiro lugar" de Trump durante seu primeiro governo e novamente com Biden.
"O valor estratégico é que esse é o quintal dos Estados Unidos", disse Li Xing, professor do Instituto de Estratégias Internacionais de Guangdong, acrescentando que isso ajudou a combater a presença dos EUA no Indo-Pacífico e a compensar os riscos de guerra comercial.
"A China não pode começar construindo bases militares lá porque é muito sensível e tornará o conflito da China com os Estados Unidos muito pronunciado... Portanto, ela fez incursões primeiro com laços econômicos."
O Peru demonstra essa mudança radical. A vantagem comercial da China sobre os EUA aumentou para 16,3 bilhões de dólares no ano passado, de acordo com dados da ONU, uma inversão drástica em relação a apenas uma década atrás, quando Washington era o principal participante. Isso veio acompanhado de investimentos em energia e mineração.
Em 2015, a China ultrapassou os EUA no comércio com o Peru, aumentando a diferença durante o governo anterior de Trump, de 2017 a 2021, e novamente durante o governo de Biden.
"A China entrou na região de forma agressiva, está aprendendo rapidamente e está preparada para permanecer no longo prazo", disse Eric Farnsworth, ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA, atualmente no Conselho das Américas e na Americas Society.
"A menos que os Estados Unidos priorizem significativamente a política econômica regional de uma maneira nova e mais eficaz, a região continuará se inclinando para os interesses chineses."
A embaixada dos EUA em Lima não respondeu a um pedido de comentário. As autoridades de Washington têm advertido publicamente que os investimentos chineses na região são condicionados e afirmam que os EUA são um parceiro mais confiável.
Um sinal da mudança é um novo megaporto 80 quilômetros ao norte de Lima, em Chancay. Ele está sendo construído pela empresa estatal chinesa Cosco Shipping e promete encurtar as rotas marítimas para a Ásia, tanto para os produtos peruanos quanto para os brasileiros.
O porto controlado pela China, que será inaugurado por Xi quando ele estiver no Peru, tem despertado a preocupação dos EUA em relação à segurança regional, mas o mais importante é que ele turbinará a estrada comercial da região para a China.
O porto está levando a outros investimentos para impulsionar a conectividade, especialmente para os produtores de soja no Brasil, que estão interessados em reduzir os custos de transporte e o tempo de viagem para a Ásia, e evitar passar pelo Canal do Panamá ao norte.
Com isso, mais soja brasileira poderia ser transportada por terra para o Peru e depois seguir para a China. O Brasil tem visto o comércio com a segunda maior economia do mundo disparar nos últimos anos.
A maioria das autoridades e diplomatas locais, no entanto, adota um tom cauteloso. Eles dizem que tanto a China quanto os EUA são parceiros importantes. Mas, em particular, admitem que a China tem dado mais atenção concreta à América Latina.
O embaixador do Brasil em Lima, Clemente Baena Soares, disse que o porto de Chancay será um grande impulso para os produtores brasileiros de soja, reduzindo quase pela metade o tempo de viagem para a Ásia.
Ele pediu que o Peru alivie a burocracia para os transportadores brasileiros, como os limites de carga nas rodovias que ligam os países.