Por Ana Julia Mezzadri
Investing.com - Em relatório que compara o desempenho econômico de Brasil, México e Turquia desde o início da pandemia de Covid-19, o Banco Inter (SA:BIDI4) afirma que a situação fiscal no Brasil é a mais severa entre os três países, com a dívida podendo ultrapassar 100% do PIB nos próximos anos.
A dívida elevada será, segundo o banco, o maior risco para a conjuntura da economia brasileira nos próximos anos, o que aumenta a pressão por reformas e traz volatilidade para os ativos. “Caso o cenário de reformas se concretize, devemos ver redução do prêmio de risco ao longo da curva de juros e possível valorização dos ativos financeiros”, defende o Inter.
Em contraste, a Turquia tem a menor dívida, mas tem o maior risco derivado da indexação do passivo ao dólar. Em termos de câmbio, “os riscos idiossincráticos no Brasil e na Turquia trouxeram desvalorização cambial mais acentuada do que no México”, aponta o relatório.
A economia mexicana, no entanto, foi a mais atingida, com queda de 8,5% no PIB em 2020, seguida pela brasileira, que apresentou retração de 4,1%. Na direção oposta, a Turquia registrou crescimento de 1,8%, apesar da pandemia. A forte queda do México tem como principais fatores a dependência do turismo e as transferências baixas do governo.
Tradicionalmente, segundo o banco, os países emergentes tendem a sofrer mais em períodos de turbulência global. Isso porque “países emergentes têm maior dificuldade em implementar políticas fiscais e monetárias que limitem os efeitos recessivos de uma crise, seja em função de orçamentos pressionados, dificuldade de financiamento ou falta de confiança na moeda doméstica”, explica o estudo.
A pouca diversificação dessas economias também pode gerar volatilidade adicional. Há ainda o fator “ciclo vicioso no balanço de pagamentos”, em que a aversão ao risco desvaloriza a moeda doméstica, o que aumenta as despesas com juros, deteriorando ainda mais a economia e pressionando novamente a taxa de câmbio.
Também em relação ao quadro sanitário a situação do Brasil é a pior entre os três, com o maior número de casos e óbitos. O nível de isolamento social, no entanto, foi similar nos países, aponta o estudo.
Em relação a políticas fiscais, a atuação dos países analisados foi bem diferente. Enquanto o Brasil efetuou gastos na ordem de 7,5% do PIB, muito acima dos outros, a Turquia focou seus esforços em prover liquidez e o México adotou uma postura mais austera, com respostas reduzidas.
Daqui para a frente, na análise do banco, os três países terão desafios econômicos distintos. Na visão do Inter, a Turquia apresenta as fragilidades mais acentuadas entre as economias analisadas, devido aos passivos externos elevados, à compressão das reservas internacionais, à falta de governança política e à inflação alta.
O México, por sua vez, é o com maior estabilidade, por sua inflação baixa, seu câmbio menos volátil e sua dívida estável. A queda na atividade e a vacinação lenta, no entanto, merecem atenção.