Por Leandro Manzoni
Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) vai divulgar a nova taxa básica de juros nesta quarta-feira, após a finalização do segundo dia de reunião de política monetária, a antepenúltima do ano. A expectativa do mercado é de mais uma elevação de 1 ponto percentual, elevando a taxa Selic de 5,25% para 6,25% ao ano.
Além da atualização da taxa de juros, os investidores aguardam como o Copom vai apresentar seu cenário-base para a economia e o balanço de risco inflacionário no comunicado pós-reunião e, mais detalhadamente, na ata da reunião que será publicada na terça-feira da semana que vem.
A decisão vem após o último dado da inflação oficial (IPCA) vir novamente acima das projeções do mercado em agosto. De acordo com o IBGE, o índice veio 0,87% no mês passado em relação a julho, enquanto o mercado projetava alta de 0,71%. Na base anual, o IPCA subiu para 9,68%, enquanto as apostas eram de 9,5%.
Essa aceleração chegou a elevar as apostas de uma alta de 125 e até 150 pontos-base no mercado de juros futuros até semana passada, devido ao trecho do comunicado da última reunião no qual a autoridade monetária indica “ser apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro”. Porém, a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em um evento semana passada apaziguou o mercado. Campos Neto disse que o “tem um plano de voo que olha para o horizonte mais longo” e “não vai reagir a cada dado de alta frequência que sai”.
Além disso, a pressão inflacionária está provocando uma desancoragem das expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária - 2022 -, como mostra as projeções divulgadas no último Boletim Focus na segunda-feira (20). Isso significa que as estimativas do IPCA para 2022 está acima do centro da meta de inflação de 3,5% determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No último Focus, a projeção do IPCA em 2022 subiu de 4,03% para 4,1%.
Para entender o cenário econômico e os fatores que vão pesar na decisão dos dirigentes do Banco Central nesta e nas próximas reuniões, o Investing.com conversou com quatro economistas que abordaram:
- Expectativa de alta na reunião desta quarta-feira;
- Projeção de alta nas próximas reuniões;
- Estimativa da taxa Selic para o final do atual ciclo de alta;
- Comunicado e potencial surpresas
Confira abaixo a análise de cada economista entrevistado pelo Investing.com.
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos
A economista segue a expectativa do mercado e estima uma alta de 100 pontos-base na taxa Selic. “É uma extensão do ciclo, não aceleração”, afirma.
Abdelmalack projeta que o ciclo de alta prossiga até o 1º trimestre do ano que vem, quando a taxa Selic atingir entre 8,5% e 9%. A extensão ocorre, segundo ela, por causa do imbróglio do Orçamento de 2022 e inflação mais implicado com inércia em 2022. “A inflação em 2022, se não for o centro da meta, será dentro do teto, com folga”, estima.
A grande novidade no comunicado talvez seja uma observação em relação à reversão de estímulos monetários do Federal Reserve, cujo calendário pode ser publicado horas antes após a reunião de política monetária do banco central dos EUA. “A grande curiosidade é se tem possibilidade de acelerar o passo”, diz a economista também sobre o comunicado.
Rachel de Sá, chefe de Economia da Rico Investimentos
A economista, colunista do Investing.com, também estima alta de 100 pontos-base, com a taxa Selic terminando 2021 em 8%. Já o ciclo atual de alta deve ser finalizado em 2022 em 8,5%, uma taxa acima do nível neutro conforme sinalizado pelo Copom na última reunião.
“Copom não vai acelerar o ritmo, já achava isso antes do Campos Neto afirmar que não vai alterar a magnitude com cada dado publicado”, diz de Sá. Mas, a economista ensaia uma avaliação sobre o que justificaria uma aceleração do ritmo de contração monetária: uma combinação de inflação corrente e desancoragem de inflação em 2022. Para isso, ela recomenda verificar as estimativas de inflação do Boletim Focus e do modelo do Banco Central a ser divulgado no comunicado.
Apesar de reconhecer que a inflação esteja disseminada, não observa um aumento do ritmo de alta da taxa Selic devido à desaceleração da economia chinesa e, consequentemente, uma pressão menor no preço das commodities agrícolas e minerais. Além disso, indica que haverá, além desta, mais uma alta de 100 pontos-base na próxima reunião, uma de 75 pontos-base e uma final de 0,50 ponto percentual no primeiro trimestre do ano que vem.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV
O economista destoa da mediana do mercado e projeta uma elevação de 1,25 ponto percentual, argumentando que o Copom pretende reancorar as expectativas de inflação para 2022 e 2023. Com isso, Padovani estima uma outra alta de 125 pontos-base na reunião seguinte e o fim de ciclo de contração monetária com uma taxa de 9% em fevereiro do ano que vem após duas altas de menores (0,75 e 0,50 ponto percentual).
“O Banco Central não pode ir muito além disso”, diz, apontando que já há uma desaceleração econômica natural para o ano que vem. “É uma decisão difícil, o desafio é controlar a expectativa inflacionária, descontrole fiscal não está no radar”, afirma ao prever um trecho abordando uma “melhoria” na trajetória da dívida no comunicado, embora ela ainda esteja elevada.
Sobre o comunicado, Padovani recomenda observar se o Banco Central vai abordar se há espaço para elevações da taxa acima de 100 pontos-base, além de apontar para os próximos passos da estratégia do Banco Central.
José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator
Outro economista que estima alta de 100 pontos-base nesta reunião, Lima Gonçalves prevê mais duas altas de 1 ponto percentual, com a taxa Selic chegando a 8,25%. "Não para aí", diz ao apontar que ainda vão faltar 50 pontos-base, com um fim de ciclo de contração entre 8,75% e 9% no primeiro trimestre do ano que vem. Embora tenha incerteza se o Copom vai acelerar a magnitude de alta esse ano ou continua nesse ritmo.
A avaliação do economista é de que não haja outro cenário visto pelo Copom a não ser subir a taxa Selic, devido ao atual regime de metas de inflação. "[Essa alta] vai fazer cócegas na inflação", afirma ao avaliar que a inflação atual é de choques e que a elevação da Selic é para evitar disseminação na ótica do Copom. "Na verdade, vai acelerar a inflação", projeta ao abordar que a redução da demanda com o corte da taxa vai retrair a oferta futura que está atualmente contraída, o que vai piorar a atividade econômica. "Ninguém dá desconto com demanda em queda", complementa, além de ressaltar que as empresas atualmente estão endividadas e deve repassar para os preços à alta do custo financeiro.
O economista recomenda uma mudança no regime de metas de inflação. "Não elevar a meta, mas que não responda a um calendário gregoriano", diz em relação ao atual regime estabelecer que a meta é restrita a um período que inicia em 1º de janeiro e encerra em 31 de dezembro. "Se for uma meta para 12 meses a frente, já muda [a condução da política monetária]", complementa.
Por fim, apesar de dizer que a inflação corrente está piorando, diz que no horizonte é de arrefecimento dos preços. "Não é um ambiente de super ciclo de commodities, há uma desaceleração econômica no exterior e atividade interna está mais fraca".