Por Ana Julia Mezzadri
Investing.com - Divulgado na manhã desta terça-feira (8), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de novembro teve alta de 0,89%, a maior alta do ano e recorde de acréscimo para o mês desde 2015.
No acumulado em 12 meses, o índice teve alta de 4,31%, acima da meta central da inflação para o ano, que é de 4%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
O IPCA veio acima da estimativa dos analistas compilada pela Reuters, de alta de 0,78% em novembro e de 4,20% em 12 meses.
Os maiores responsáveis pela alta, que corresponderam a cerca de 90%, foram os aumentos nos preços dos alimentos (+2,54%) e na gasolina (+1,64%). Em 12 meses, a inflação do grupo alimentos e bebidas foi de 15,94%, a maior desde outubro de 2003 (+17,46%), segundo o IBGE.
O gerente de pesquisas do IBGE, Pedro Kislanov, explicou que “por trás da alta dos alimentos temos um câmbio alto que estimula exportações, auxílio emergencial aumentando o poder de compra e tem ainda uma pressão de commodities mais cotadas no mercado internacional."
Na análise do Banco Inter, “apesar de ainda se caracterizar como um choque de oferta temporário, o reajuste dos alimentos é bastante significativo”.
João Beck, sócio da BRA Investimentos, pontua que a alta dos preços dos alimentos também foi impulsionada pela escassez de oferta da carne bovina, que teve grande peso no aumento, além da demanda ainda sustentada pelos auxílios emergenciais.
O analista aponta ainda a antecipação para dezembro do reajuste da bandeira tarifária da Aneel, “o que deve pressionar a inflação no ano corrente mas reduz a do ano seguinte”, explica.
O BTG Pactual cita ainda, como fatores por trás da alta do IPCA, “a recuperação dos preços do petróleo em novembro ultrapassando o patamar dos 40 USD/barril que norteou os contratos de junho a outubro deste ano e o descasamento entre a escassez na oferta de alguns insumos da indústria versus a demanda mais forte de outros setores, como na indústria automobilística e na construção civil”.
Para a Guide Investimentos, a alta dos alimentos pode demorar um pouco mais do que o normal para se dissipar. “Esperamos uma normalização mais contundente da categoria já a partir do início do ano que vem, em linha com o arrefecimento da demanda causada pela extinção do auxílio emergencial”, explica a corretora.
O Itaú também espera que todos esses fatores sigam impactando a inflação nas próximas leituras. O banco cita como fatores que podem pressionar o indicador em dezembro o nível de utilização na indústria mais alto no curto prazo, a normalização dos serviços com a recuperação da mobilidade e da atividade econômica, a coleta extraordinária de preços de educação e a bandeira tarifária vermelha 2 nas contas de luz.
O Banco Central já reconheceu uma pressão inflacionária mais forte no curto prazo, mas manteve sua mensagem de orientação futura em que se compromete a não aumentar os juros, mantidas algumas condições, e vem passando a mensagem de que não vê o movimento de alta da inflação adentrando 2021 e 2022.
O Goldman Sachs tem a mesma visão, dizendo que a recente dinâmica da inflação requer monitoramento, mas que a inflação de serviços e os núcleos de inflação devem continuar dando ao BC algum grau de conforto no curto e médio prazos.
"O grande hiato do produto, elevado nível de folga no mercado de trabalho e expectativas de inflação abaixo da meta para 2021 devem contribuir para manter a inflação bem ancorada, a nosso ver, a despeito da alta dos preços dos alimentos", disse o economista Alberto Ramos em nota.
O BTG também acredita que, no longo prazo (segundo semestre de 2021), “o IPCA deve manter seu perfil comportado de preços, uma vez que os efeitos de curto prazo serão suavizados com a normalização da pandemia enquanto serviços só ganhará tração significativa à medida que a taxa de desemprego cair e a massa salarial da economia brasileira subir”.
João Beck também aposta na diminuição da pressão da inflação em 2021, citando atividade fraca, taxa de desemprego alta, grande capacidade ociosa das indústrias alta e o fim do auxílio emergencial.
A análise da Elite Investimentos é mais cautelosa: “Para 2021, os riscos ainda continuam altos para os dois lados. Se por um lado observamos um aumento do hiato do produto, crescimento do desemprego e perspectivas de redução da renda nacional alimentando um cenário deflacionário, a expressiva alta do IGP-M, os juros baixos, a indefinição sobre as contas públicas e a demora em implementar a agenda de reformas podem alimentar o dragão da inflação.”
A projeção para o IPCA de 2020 do Banco Inter é de 4,3%, mesmo número apontado pela XP. O BTG Pactual e o UBS-BB, por sua vez, esperam 4,4%.
Para 2021, o Banco Inter projeta 3,3%, o BTG e o UBS-BB esperam 3,4% e a XP prevê 3,5%.