Inflação: Alimentação e dólar devem ter sido os vilões em 2024

Publicado 09.01.2025, 14:36
© Reuters.

Investing.com – As pressões nos preços de alimentos ainda devem ter impulsionado a inflação oficial de dezembro, assim como um dólar forte frente ao real. A expectativa de economistas é de que o ano passado tenha registrado inflação acima do teto da meta estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os dados oficiais nesta sexta-feira, 10 de janeiro.

Economistas consultados pelo Banco Central projetam uma inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,89% ao final de 2024, de acordo com o último Boletim Focus, apresentado nesta semana.

No acumulado em doze meses até novembro, o índice atingiu 4,87%, enquanto a meta estabelecida pelo CMN é de 3%, com limite de 1,5 ponto percentual, ou seja, até 4,5%.

Em 2023, o IPCA fechou o ano com alta acumulada de 4,62%. O intervalo era o mesmo, mas não o centro da meta, que era de 3,25%, com teto em 4,75%.

Inflação em alimentos pesando em 2024

Desde a pandemia, o país registrou aumento significativo nos preços de alimentos, detalha Bruno Imaizumi, economista da LCA 4intelligence. “No começo de 2024, a gente tinha uma projeção de uma alimentação do domicílio próximo dos 4%, 5%, e a gente deve fechar o ano de 2024 com 8,7%”, projeta.

Eventos climáticos extremos prejudicaram as safras brasileiras, e condições de preços externas também trazem pressão diante da redução da oferta, como azeite na Espanha e Portugal, além do cacau na Costa do Marfim.

As chuvas no Rio Grande do Sul e incêndios no interior de São Paulo também afetaram as colheitas. “Basicamente foi um ano bem ruim para a inflação de alimentação do domicílio. Para o ano que vem, a gente espera uma desaceleração nesse crescimento do nível de preços, mas ainda assim vai continuar incômodo”, entende o economista.

Câmbio também pressiona preços durante o ano

Com a desvalorização do real frente ao dólar americano, o câmbio também teve um papel fundamental no aumento dos preços em 2024, de acordo com Mauricio Nakahodo, economista sênior da DA Economics.

“O câmbio, junto com a expectativa de inflação, acaba retroalimentando a própria inflação. Por isso, está a importância do trabalho da própria política monetária, junto com a política fiscal, para amenizar as pressões inflacionárias durante o ano”, detalha o especialista.

Expectativas para leitura do IPCA em dezembro

A inflação de alimentos deve ter sido ponto de pressão em dezembro, principalmente carnes, diante de fatores sazonais, com as festas de final de ano, mas também devido à situação da oferta deste tipo de produto.

“As famílias aqui consomem muita carne, tanto para as festas de Natal quanto de Réveillon”, ressalta André Braz, coordenador da área de preços ao consumidor do Ibre/FGV. Além do efeito sazonal, Braz esclarece que o ciclo da pecuária também pesa.

“Ano passado foi um ano de renovação do rebanho, e normalmente isso obriga o pecuarista a sacrificar vacas reprodutoras, o que mexe com a oferta de carne, sem contar com o aumento da exportação dada a nossa desvalorização cambial, nossos produtos brasileiros ficaram mais baratos e estimulou muito a exportação”, completa. O café também vai aparecer com destaque na inflação de dezembro – e no ano de 2024 como um todo.

Outros produtos devem apresentar valorização de preços mais expressiva, como farinhas, féculas e massas, açúcares, frutas, hortaliças, verduras, ovos, pães, bebidas, enlatados e conservas, segundo a LCA 4intelligence, que estima IPCA de 0,56% em dezembro, com inflação fechando 2024 em 4,87%.

Além disso, Nakahodo cita os preços das passagens aéreas, com viagens de férias em alta, enquanto os preços de energia tendem a apresentar recuo menor do que na prévia. Com a passagem do mês, a bandeira passa da amarela para a verde. O economista projeta 0,58% para a leitura de dezembro, levando o IPCA para 4,89% em 2024 como um todo.

Apesar da expectativa de alta de 7% em dezembro, Braz ressalta que, no ano, as passagens aéreas recuaram 22%, em média. O especialista do Ibre/FGV estima variação positiva entre 0,45% e 0,5% em dezembro para o IPCA, com inflação em doze meses entre 4,8% e 4,9%.

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