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Copom eleva Selic mais uma vez em 0,50 p.p.; mantém porta aberta para novas altas

Publicado 03.08.2022, 18:10
Atualizado 03.08.2022, 18:32
© Reuters.
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Por Leandro Manzoni

Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central confirma a expectativa do mercado e eleva, nesta quarta-feira (3), a taxa básica de juros em meio ponto percentual. Agora, a taxa Selic passa de 13,25% para 13,75%. A decisão foi unânime.

O colegiado mantém a porta aberta para novas altas da taxa Selic nas próximas reuniões. "O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista", afirma o comunicado. 

Desta vez, a alta seria residual, segundo o comunicado, provavelmente de 0,25 ponto percentual, sem se comprometer com o fim do atual ciclo contracionista na próxima reunião, nos dias 20 e 21 de setembro. "O Copom enfatiza que seguirá vigilante e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas".

O Copom persegue, além da desinflação em convergência com a meta de inflação do horizonte da política monetária - 2023 e, agora, 2024 - a "ancoragem das expectativas em torno de suas metas", de acordo com o próprio comunicado.

Contexto

O reforço da política contracionista ocorre para tentar frear a inflação, que está na marca de dois dígitos. "As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação", diz o comunicado.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,67% em junho e atingiu 11,89% em doze meses. O IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial, chegou a 0,13% em julho, indicando diminuição na pressão após medidas do governo para reduzir o preço da gasolina com a diminuição da alíquota do ICMS - imposto estadual - e zerar as alíquotas do PIS e Cofins - contribuições federais - sobre o combustível. Mesmo assim, a taxa anual do IPCA-15 ficou em 11,39%.

Além disso, a expectativa de deflação no IPCA em julho e agosto não sensibilizou a autoridade monetária em puxar o freio de mão na agressividade da política monetária. Isso porque a expectativa de inflação para 2023 e 2024 se deteriora.

De acordo com o último Boletim Focus divulgado na última segunda-feira (1), apesar da melhoria no indicador de inflação deste ano de 7,3% para 7,15%, a projeção para 2023 passou de 5,30% para 5,33%. A expectativa do IPCA para 2023 ficou acima da meta de 3,25% da inflação, como também do limite superior de 1,5 ponto percentual acima do alvo, o que seria o terceiro ano consecutivo de estouro da meta.

Para 2024, quando a meta para o IPCA será de 3%, a expectativa do mercado é de uma inflação de 3,3%. Já as projeções do Banco Central em seu cenário-base para inflação, que julga ser incerto, são de 6,8% para 2022, 4,6% para 2023 e 2,7% para 2024, com todos esses anos sob a hipótese de bandeira "amarela" para as contas de energia.

Riscos fiscais

As medidas fiscais para reduzir os preços dos combustíveis, juntamente com o fortalecimento e criação de programas de transferência de renda, soam alarmantes para o Copom, pois podem alimentar a inflação e contrabalançar a atuação da autoridade monetária por sustentar a demanda na economia brasileira. "O Comitê pondera que a possibilidade de que medidas fiscais de estímulo à demanda se tornem permanentes acentua os riscos de alta para o cenário inflacionário", avalia. 

O risco fiscal, juntamente com a persistência de inflação global, são os fatores que podem elevar a inflação no horizonte da política monetária. Em contraposição, uma queda parcial no preço das commodities globais e desaceleração da atividade econômica global maior do que o projetado podem fazer com que a inflação brasileira se arrefeça, segundo o Copom.

Comunicado

Confira abaixo o comunicado completo após a decisão:

Em sua 248ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 13,75% a.a.

A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

O ambiente externo mantém-se adverso e volátil, com maiores revisões negativas para o crescimento global em um ambiente inflacionário ainda pressionado. O processo de normalização da política monetária nos países avançados tem se acelerado, impactando o cenário prospectivo e elevando a volatilidade dos ativos;

Em relação à atividade econômica brasileira, o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom seguiu indicando crescimento ao longo do segundo trimestre, com uma retomada no mercado de trabalho mais forte do que era esperada pelo Comitê;

A inflação ao consumidor continua elevada, tanto em componentes mais voláteis como em itens associados à inflação subjacente;

As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;

As expectativas de inflação para 2022, 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 7,2%, 5,3% e 3,3%, respectivamente; e

No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,30*, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). Esse cenário supõe trajetória de juros que termina 2022 em 13,75% a.a., reduz-se para 11,00% em 2023 e 8,00% em 2024. Supõe-se que o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária "amarela" em dezembro de 2022, de 2023 e de 2024. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 6,8% para 2022, 4,6% para 2023 e 2,7% para 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de -1,3% para 2022, 8,4% para 2023 e 3,6% para 2024. As projeções do cenário de referência incorporam o impacto das medidas tributárias recentemente aprovadas. Para o horizonte de seis trimestres à frente, que suaviza o efeito ano-calendário, mas incorpora os impactos secundários das medidas tributárias que incidem entre 2022 e o primeiro trimestre de 2023, a projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,5%. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local; e (ii) uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada. O Comitê pondera que a possibilidade de que medidas fiscais de estímulo à demanda se tornem permanentes acentua os riscos de alta para o cenário inflacionário. Por outro lado, nota que o aumento do risco de desaceleração da economia global também acentua os riscos de baixa. O Comitê avalia que a conjuntura ainda particularmente incerta e volátil requer serenidade na avaliação dos riscos.

Notou-se que as projeções de inflação para os anos de 2022 e 2023 estavam sujeitas a impactos elevados associados às alterações tributárias entre anos-calendário. Assim, o Comitê optou neste momento por dar ênfase à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024, que reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora seus impactos secundários sobre as projeções de inflação relevantes para a decisão de política monetária.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2023 e, em grau menor, o de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

O Comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião. O Copom enfatiza que seguirá vigilante e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas. Nota ainda que a incerteza da atual conjuntura, tanto doméstica quanto global, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.

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