Por Howard Schneider e Lindsay Dunsmuir
TAMPA, Flórida (Reuters) - Autoridades do Federal Reserve sinalizaram nesta sexta-feira que provavelmente manterão um aumento de 75 pontos-base na taxa de juros ao fim de sua reunião de 26 e 27 de julho, embora uma recente e forte leitura de inflação ainda possa justificar elevações adicionais, ou mais rápidas, até o término do ano.
Dados divulgados nesta semana mostraram que o salto dos preços ao consumidor norte-americano acelerou para uma taxa de 9,1% nos 12 meses até junho, o que levantou a possibilidade de o Fed optar por um aperto monetário maior, de 1 ponto percentual, na próxima reunião de política monetária.
Mas comentários de autoridades do banco central dos EUA nesta sexta-feira, juntamente com dados que mostraram resiliência na atividade econômica e melhora nas perspectivas de inflação entre os consumidores, minaram parte da urgência por um ajuste maior.
O presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, que está entre os principais defensores de aumentos de juros maiores e mais rápidos, disse que a leitura de inflação "pressionada" de 9,1% para junho justifica subir a meta da taxa de fundos federais a intervalo entre 3,75% e 4,00% até o fim deste ano, 0,50 ponto percentual acima de seu objetivo anterior para o encerramento de 2022.
"O Fed tem de reagir... traçando um curso um pouco mais agressivo no segundo semestre deste ano", disse Bullard em evento organizado pelo European Economics & Financial Centre em Londres.
Mas ele também se disse indiferente sobre se o banco central dos EUA deveria promover um aumento de 0,75 ponto percentual na taxa de juros neste mês, como algumas autoridades sinalizaram, ou um acréscimo de 1 ponto percentual.
"Provavelmente não faz muita diferença fazer 100 pontos-base aqui e menos nas outras três reuniões (em 2022) ou fazer 75 pontos-base aqui e um pouco mais nas três reuniões restantes do ano", disse Bullard.
Em comentários separados em um fórum organizado pelo Tampa Bay Business Journal, o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, alertou contra um movimento "muito dramático" por parte do banco central, porque poderia minar as fortes contratações e outras tendências positivas ainda vistas na economia.
Embora Bostic não tenha endossado explicitamente aumento de 75 pontos-base na reunião deste mês, seus comentários pareciam se afastar de um acréscimo maior dos juros em julho.
As declarações foram as últimas antes de os formuladores de política monetária entrarem em um período de silêncio, no qual devem se abster de falas públicas na semana anterior à reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do banco central, em Washington.
Operadores de contratos futuros vinculados à taxa de juros do Fed migraram suas apostas firmemente em favor de um aumento de 0,75 ponto percentual na próxima reunião após os comentários das duas autoridades do banco central.
Profissionais vinham se inclinando para um salto de 1 ponto percentual desde a divulgação do índice de preços ao consumidor, na quarta-feira.
CENÁRIO-BASE
Tanto Bostic quanto Bullard reiteraram o firme compromisso do Fed de aumentar as taxas de juros o quanto for necessário para controlar a inflação, com Bostic dizendo que "se a economia se mover de maneira consistente com a nossa meta de (inflação de) 2%, vamos parar. E se não se mover, não vamos."
Esse compromisso contrasta com as crescentes preocupações de que os esforços do Fed --que já provocaram grandes saltos nas taxas de hipotecas residenciais e outras formas de crédito que afetam diretamente os resultados financeiros das famílias e das empresas-- levarão a economia à recessão.
Tanto o TS Lombard quanto o Bank of America (NYSE:BAC) disseram nesta sexta-feira agora esperar que os EUA entrem em recessão ainda este ano.
Dados divulgados nesta sexta-feira mostraram que áreas importantes da economia ainda parecem resilientes.
As vendas no varejo se recuperaram em junho, embora tenham caído ligeiramente em uma base ajustada pela inflação, enquanto um índice de manufatura do Fed de Nova York registrou ganhos inesperados.
Enquanto isso, uma medida observada de perto das expectativas de inflação ao consumidor melhorou em junho, o que o vice-presidente da ISI Evercore, Krishna Guha, considerou um "alívio sortudo" para as autoridades do Fed preocupadas com a perda de controle da perspectiva de inflação e que precisam agir de forma mais agressiva para mantê-la "ancorada".
Um salto nas expectativas de inflação ao consumidor, em parte, levou os formuladores de política monetária do Fed a mudar em junho de um movimento esperado de 0,5 ponto percentual para o incremento maior de 0,75 ponto percentual --uma decisão com o objetivo de sinalizar o compromisso do Fed com o combate à inflação, mas que também amplificou os riscos de recessão.
Em comentários ao site de notícias online Newsy, a presidente do Fed de San Francisco, Mary Daly, disse nesta sexta-feira que, com a economia e o mercado de trabalho fortes, "não estou preocupada em exagerar" e provocar uma recessão.
O Fed não vai subir os juros para um "intervalo extremo", afirmou. "Estamos falando em aumentar a taxa de juros de quase zero, que é onde estava durante toda a pandemia que acabamos de passar, para algo mais na faixa de 3%... eu não tenho uma recessão no topo da minha lista de possíveis resultados."