Por Ana Beatriz Bartolo
Investing.com - Apesar da retomada econômica estar impulsionando os preços das commodities, esse movimento deve ser limitado a alguns trimestres. O verdadeiro superciclo provavelmente será guiado pela adoção da agenda ESG e a implementação de mais programas sociais em governos ao redor do mundo.
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Essa foi a base da discussão no painel “O impacto do superciclo de commodities no Brasil e nos investimentos” na Expert XP. A conversa, mediada por Carolina Oliveira, economista e analista de Fundos da XP, contou com a presença de Sylvio Castro, CIO da Grimper Capital, Tony Volpon, estrategista-chefe da Wealth High Governance, e Marcio Fontes, gestor do ASA Hedge na ASA Investments.
Volpon disse que a alta nos preços atual é um choque de curto prazo, causado pela volta das atividades após a reabertura de muitos países. Porém, o que deve sustentar esses valores é a demanda da sociedade por uma matriz econômica mais sustentável.
Ele explica que essa mudança de comportamento vai pressionar uma oferta até então reduzida, já que não haviam tantos investimentos no compromisso ambiental. Assim, commodities que funcionam como um substituto para o petróleo ou carvão, por exemplo, teriam os preços elevados já que a oferta ainda não está tão desenvolvida para atender a demanda.
Sob a perspectiva de energia, Castro diz que até 2050 é improvável que a matriz energética se torne de zero carbono, mas é possível que haja um investimento em tecnologia mais limpa e em crédito de carbono, de forma que o modelo atual acabe perdendo a competitividade.
Essa seria uma mudança lenta. O petróleo, por exemplo, pode ter a sua produção reduzida, para que a oferta caia mais rápido do que a demanda, o que manteria os preços altos. Ainda assim, Castro aponta que o petróleo poderá ser substituído pela energia nuclear ou de hidrogênio, assim como o carvão seria trocado pelo gás natural.
Programas sociais
Marcio fala que a pandemia trouxe para a sociedade, além da questão ambiental, um olhar para o social. É possível que os governos se sintam pressionados a manter e ampliar programas sociais, o que, como consequência, aumentaria a demanda por commodities agrícolas e de pecuária.
O aumento do poder aquisitivo será complementado pelo crescimento populacional. Em 2050, a previsão é que o mundo chegue a 10 bilhões de pessoas.
Com mais gente e a população de países emergentes obtendo maior poder econômico, graças à distribuição de renda, a tendência é que se melhore os hábitos alimentares, aplicando o consumo de grãos e proteínas.
Brasil
Castro explica que esse novo superciclo das commodities não será parabólico, mas sim, um crescimento contínuo no longo prazo. O Brasil, junto com a América Latina, tem a capacidade de se beneficiar desse processo, caso não haja uma restrição hídrica.
Segundo Volpon, o Brasil tem uma vantagem competitiva natural, porque possui boas reservas disponíveis e tem a capacidade de aumentar a produção. A única questão seria desenvolver uma política econômica que permita aproveitar esse superciclo e revertê-la de forma positiva para o país.