SÃO PAULO (Reuters) - Com a expectativa de safra e exportações recordes de soja em 2025 no Brasil, além de uma colheita mais concentrada em Mato Grosso, os custos do transporte deverão aumentar no próximo ano, avaliou nesta sexta-feira a Consultoria Agro do Itaú BBA, em relatório.
Os gargalos logísticos poderão se acentuar no caso de chuvas excessivas em fevereiro, quando a maior parte da soja de Mato Grosso, o maior produtor brasileiro, estará pronta para ser colhida, acrescentou a consultoria.
Com uma safra nacional em torno de 170 milhões de toneladas de soja, o Brasil deverá embarcar ao exterior 105 milhões de toneladas do grão. Além disso, é esperada uma recuperação da colheita e exportações de milho, enquanto no açúcar se espera alguma redução nas vendas externas do país.
"A perspectiva de uma safra (de soja) recorde -- e com uma demanda por frete mais concentrada -- deve elevar os preços nas principais rotas de escoamento", afirmou o Itaú BBA, citando que os preços do petróleo (e do diesel) mais controlados, por outro lado, podem evitar que os valores atinjam os altos patamares observados na safra 2022/23, ano do recorde anterior de escoamento.
O preço do frete vem mostrando queda no país desde o início do segundo semestre. Na rota Sorriso (MT) ao porto de Paranaguá (PR), o frete rodoviário saiu de 473 reais a tonelada em julho para 386 reais/tonelada na parcial de dezembro, e isso com uma certa estabilidade no preço do óleo diesel, notou o relatório.
"A quebra de safra em 2024 ocasionou uma demanda menor por frete no primeiro bimestre deste ano, algo que não deve se repetir em 2025, quando o pico de frete deverá acontecer em fevereiro".
"Além disso, em 2024, a irregularidade climática fez com que não houvesse concentração da demanda em um período específico, o que ajudou a conter a alta nas cotações do transporte de cargas, algo que deve apresentar comportamento oposto no próximo ano", acrescentou.
A alta no frete interno deve impactar negativamente os "basis" dos grãos. O diferencial da soja ante Chicago para embarque em março passou a operar neste mês com desconto.
Segundo o relatório, o plantio de soja do Mato Grosso, concentrado na segunda quinzena de outubro, deverá resultar em uma colheita acontecendo, majoritariamente, entre 26 de janeiro e 16 de fevereiro.
"O ponto de acompanhamento é o clima, uma vez que os mapas de chuva sinalizam grandes volumes para fevereiro, o que pode, pontualmente, gerar atrasos no ritmo dos trabalhos", afirmou.
Outra consultoria, a AgRural, já havia alertado sobre riscos de maiores gargalos logísticos em função de uma colheita concentrada e chuvas entre janeiro e fevereiro.
OUTROS PRODUTOS
"Com a expectativa de uma grande safra de grãos para o ano 2024/25, surge também a possibilidade de bons volumes de exportação durante todo o ano que vem", destacou a consultoria do banco de investimento.
Para o milho, o Itaú BBA projeta uma safra em 2024/25 de 125 milhões de toneladas e uma exportação de 42 milhões de toneladas.
Já as exportações de açúcar devem chegar aos 35 milhões de toneladas no ano que vem, uma queda de praticamente 10% frente à 2024, com expectativa de menores volumes no primeiro trimestre na comparação anual, o que tende favorecer o início do escoamento da soja.
O excedente exportável de farelo de soja deve crescer, e a expectativa é de aumento de 3,6% ante a temporada anterior, para 22,9 milhões de toneladas.
Somando-se soja, milho, farelo de soja e açúcar, o Itaú BBA projeta 205,4 milhões de toneladas, volume quase 10 milhões de toneladas maior que o estimado para o fechamento de 2024. Em 2023, o recorde anterior, o Brasil também superou 200 milhões de toneladas.
(Por Roberto Samora; edição de Letícia Fucuchima)