Por Geoffrey Smith
Investing.com – Os preços referenciais do gás natural na Europa voltaram a cair nesta sexta-feira, atingindo seu patamar mais baixo em quatro meses, após a Alemanha ceder à pressão da União Europeia para estabelecer um mecanismo de teto de preços no atacado no próximo inverno local.
Às 8h20 de Brasília, o contrato futuro do TTF holandês com vencimento mais próximo, que serve de referência para o noroeste da Europa, recuava 9,32%, a 114,60 euros por megawatt-hora, aproximando-se da mínima de 107,3 EUR/MWh tocada na semana passada.
Em uma reunião com autoridades governamentais da UE, que se estendeu até as primeiras horas da manhã desta sexta-feira, o chanceler alemão Olaf Scholz removeu sua oposição às propostas da Comissão Europeia, defendidas pela França e outros países, no sentido de aplicar um “teto dinâmico de preços” ao TTF e possivelmente outros contratos futuros. Embora ainda seja necessário detalhar melhor o funcionamento desse mecanismo, o fato é que ele pode ajudar a evitar disparadas vistas durante o verão local, quando o mercado precisou se ajustar à interrupção do abastecimento de gás da Rússia, devido à eclosão da guerra na Ucrânia.
A expectativa é que a comissão sele um acordo definitivo em relação ao mecanismo em outra reunião de ministros de energia na terça-feira.
A interrupção do fornecimento de gás por parte da Rússia gerou temores de que os estados membros da UE poderiam ter que racionar o produto durante o próximo inverno, mas tais temores caíram nas últimas semanas, dado que praticamente todos os estados membros atingiram antecipadamente suas metas de preencher as instalações de armazenamento de gás. Isso abriu espaço para que os preços no mercado à vista registrassem uma profunda correção, graças às temperaturas levemente mais quentes do que as de costume em outubro.
Contudo, contratos TTF com vencimento mais longo tiveram uma queda menor, refletindo expectativas de que será difícil preencher totalmente os estoques no próximo ano, que deve ser o primeiro em quatro décadas sem volumes significativos de gás da Rússia. Canais alternativos de importação, seja na forma de gás natural liquefeito ou tubulações a partir da África Setentrional e do Cáucaso, não são suficientes para substituir os volumes russos por completo, segundo analistas.
Dessa forma, os preços do gás ainda estão cerca de cinco vezes mais altos do que os níveis registrados no início da crise na Ucrânia, o que deve pesar bastante sobre a perspectiva econômica europeia no próximo ano.
“O fato de que o euro esteja se beneficiando muito pouco da queda recente dos preços do gás é um testemunho de como os mercados estão claramente focando dinâmicas muito além do curto prazo, podendo inclusive estar preocupados com a oferta de energia na Europa no ano que vem, não apenas neste inverno”, declarou o analista do ING, Frantisek Taborsky, em uma nota aos clientes na sexta-feira.