Por Rodrigo Viga Gaier e Roberto Samora
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - Um acordo assinado nesta terça-feira entre a rede de cafeterias chinesa Luckin Coffee e o setor cafeeiro brasileiro prevê envios de 4 milhões de sacas de 60 kg de café do Brasil à China, de acordo com autoridades presentes no evento em Brasília.
O volume representa mais da metade do consumo de café na China, estimado para crescer a 6,2 milhões de sacas em 2024/25, em comparação com 5,8 milhões de sacas em 2023/24, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
O país asiático tem ampliado as compras de café do Brasil, maior produtor e exportador global, à medida que cresce o consumo em cafeterias chinesas, um mercado ainda com grande potencial. Diferentemente de outros produtos, a China não é líder na demanda do segmento, mas tem avançado fortemente nos últimos anos.
"Foi uma reunião extremamente importante, o evento do acordo de intenção de compra por parte da Luckin Coffee de 240 mil toneladas (4 milhões de sacas)... que demonstra essa expansão do mercado chinês para os cafés brasileiros...", afirmou o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira.
No acumulado de janeiro a outubro deste ano, a China aparece como o 14º destino do café brasileiro, tendo importado 713 mil sacas, segundo dados do Cecafé.
Ferreira ressaltou que o Brasil tem condições de ampliar a produção, mas para isso precisa de "bastante demanda", algo possível com números que envolvem consumidores potenciais de 300 milhões de chineses.
Não foi possível falar com representantes chineses, que estiveram no evento com autoridades em Brasília.
A negociação ocorre após Luckin Coffee ter assinado em junho um acordo prevendo a compra de aproximadamente 120 mil toneladas de café brasileiro pela empresa, no valor de cerca de 500 milhões de dólares.
Mas dessa vez o café canéfora (robusta e conilon) será incluído no acordo, uma vez que o Vietnã, importante produtor dessa espécie, lida com problemas de menor oferta.
"Os chineses compravam café do Vietnã, que começou a ter problemas com clima. Para o Brasil, que produz um terço do café do mundo, entrar na China, isso abre um horizonte enorme e perspectivas muito boas para os produtores de café", afirmou o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana.
Viana havia adiantado o volume do acordo mais cedo. Segundo ele, a negociação de café com a empresa chinesa deverá envolver valores da ordem de 2,5 bilhões de reais.
Os acertos anteriores focaram grãos arábica, mais valorizados pelas cafeterias, embora os canéforas de qualidade estejam ganhando espaço.
A assinatura do acordo, por ocasião da reunião do G20 no Brasil nesta semana, ocorre em meio à expectativa de novos acertos comerciais entre brasileiros e chineses no setor agropecuário.
Na véspera, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que seriam feitos pactos para exportação de miúdos de bovinos e suínos, além de frutas, para a China.
Viana lembrou da importância da transação com a Luckin, que tem 21 mil cafeterias na China, e que está "fazendo a opção de comprar café do Brasil".
"Já se nota uma paixão dos chineses pelo café brasileiro, eles têm até lojas temáticas", revelou Ferreira, do Cecafé, lembrando que o acordo representa uma oportunidade de apoio aos produtores e uma "parceria duradora".
(Por Rodrigo Viga Gaier e Roberto Samora)