O “status quo” da política cambial no Brasil não sugere alteração de curtíssimo/curto prazo, portanto é preciso sensatez para entender isto e não ser levado por movimentos oportunistas do mercado orquestrado por investidores posicionados para estimular entendimento errático.
O “legado” presente no câmbio não sugere solução nem mesmo para a atual Presidente Dilma, se reeleita, nem para o postulante Aécio, se vier a ser eleito.
Há um longo período para “reconstruir-se” as diretrizes focando recolocar o país em linha de crescimento, reconquista de credibilidade e confiabilidade de forma concreta e não somente como anseio, e, isto certamente demandará um período considerável do novo período presidencial.
E, se ajustada de forma correta a linha de reconstrução positiva do país, com sinais concretos, então poder-se-á imaginar a mudança da política cambial no Brasil.
Temos atualmente uma taxa cambial ancorada num volume de contratos de swaps cambiais colocados pelo BC próximo de US$ 100,0 Bi, caso contrário o preço da moeda nacional em relação à moeda americana, unicamente pelo critério credibilidade, já teria sido exacerbada exponencialmente.
Isto sem considerar que este é o terceiro ano que o país não consegue cobrir a insuficiência de fluxos cambiais que vem se revelando anualmente, dos quais ainda restam US$ 15,3 Bi que vem sendo suportado pelas posições vendidas dos bancos, que assim geram liquidez ao mercado, substituindo o papel que deveria ser cumprido pelo BC e que equivalem neste momento a 4,07% das reservas cambiais brasileiras.
O país detém US$ 376,0 Bi de reservas cambiais e está sem condições de elevá-las já que não tem atratividade para gerar fluxos cambiais favoráveis excedentes que permita o BC estoca-los, muito pelo contrário, se considerarmos que estamos financiando a geração de liquidez no mercado à vista com linhas externas, liquidamente as reservas cambiais “lactu sensu” são de US$ 360,0 Bi.
Além disto, há ainda no país um volume considerável de recursos externos, predominantemente especulativos, que tem a deixar o país tão logo o FED americano dê sinais mais precisos de alteração da política monetária nos Estados Unidos.
A taxa de R$ 2,50/2,60 é efetivamente a taxa mais justa para o preço da moeda americana no Brasil ao final do ano e chegará a isto com naturalidade, só foi agilizada no tempo pelo pessimismo eleitoral que predominava antes do 1º turno das eleições e agora esta repercutindo o otimismo do mercado financeiro com as novas, no seu entendimento, perspectivas eleitorais.
Mas, no câmbio é preciso cuidado e serenidade, não há “atalhos” e nem caminhos rápidos para que se passe deste quadro desfavorável presente para um melhor sem percalços.
No trajeto acreditamos haverá perturbações e certamente precisará piorar para depois melhorar, desde que o programa de reconstrução do país seja feito corretamente, reconduzindo-o a reconquista da credibilidade, confiabilidade e consequente atratividade perante aos investidores estrangeiros, que assim seriam motivados a promover direcionamento de seus investimentos para o Brasil.
Neste momento, a taxa cambial de R$ 2,38 merece tantos cuidados quanto à de R$ 2,50, ambas tem mais conteúdo emocional que racional.
Se o governo atual permanecer não tem como mudar de imediato o quadro no câmbio e a estratégia atual, e, se considerarmos a hipótese de um novo governo, também não vemos condições de realizar no curtíssimo/curto prazo algo diferente.
A reversão de expectativas em relação ao Brasil demandará pelo menos um ano de acertos, para que então seja possível idealizar o “desmonte” do “status quo” presente.
Somente anseios não resolverão a questão cambial no Brasil, serão necessários muitos acertos na política macroeconômica para que, na ponta final, ocorra a mudança de postura dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil.
O escudo das reservas cambiais de US$ 376,0 Bi é na realidade um “escudo” emblemático, pois se o BC passar a utilizá-las dará mais um sinal de fraqueza do país, e poderá até motivar um movimento especulativo sobre o real.
É preciso separar o que é euforismo e o que é realidade no quesito cambial.