Nenhuma verdade pode curar um drawdown.
Tudo o que podemos fazer é superar este drawdown e aprender alguma coisa com ele.
Porém, isso nada adiantará para enfrentar o drawdown seguinte, que nos atingirá sem aviso.
Tendo experimentado cada detalhe da crise do subprime, em 2008, e do Fim do Brasil, em 2014, confesso que me sentia razoavelmente treinado para encarar o atual drawdown do coronavírus, por mais profundo que fosse.
Mas aí, justamente, se fez o desafio em novidade.
Existe um drawdown, e ele parece ser longo. Mas, até o momento, não demonstra profundeza.
Talvez a carência de sua profundidade epistemológica acabe refletindo na também parca profundidade de preços.
Se os investidores se negam a enxergar o impacto da recessão mundial e do caos político local, não há como a Bolsa cair muito.
A Bolsa não tem vontade própria, não se ajusta automaticamente, nem precifica expectativas racionais. Ela é apenas o espelho de uma geração, o zeitgeist.
E a geração atual demonstra certa insistência em devolver as coisas para como estavam antes, independentemente de os problemas terem sido efetivamente resolvidos.
Resolvê-los é adiá-los, diluir no tempo. Sempre podemos tomar emprestado das gerações em infinito mais um.
Veja, não estou falando que isso está certo ou está errado, não se trata de um juízo de valor. Sou um dos primeiros a ganhar quando a Bolsa sobe, qualquer que seja o motivo (ou a falta de motivo).
Estou apenas relatando como as coisas são. Ou melhor, como têm sido até o momento.
Você pode estar indignado com a frivolidade desta recuperação ou pode estar ansioso para o Ibovespa retomar os 100 mil pontos.
Em geral, os investidores mais experientes estão indignados, enquanto os mais novatos se mostram ansiosos, e até mesmo entusiasmados.
Tenho que alimentar esses dois investidores dentro de mim, em pé de igualdade.
O medo e a ambição, Apolo e Dionísio, a disciplina e a farra.