O fato não é novo, já ocorreu na semana passada, e após um discreto sinal de calmaria, retorna esta semana e provoca efeito idêntico pressionando o preço da moeda americana ante as emergentes, com especial ênfase ante o real, que é a moeda que tem no juro praticado no país uma severa disfuncionalidade.
Semana passada teve o mesmo fator pressionando a formação do preço do dólar no mercado global e, em especial, no nosso mercado. As expectativas ante o novo pacote americano de US$ 1,9 Tri induziram o mercado a pressupor pressões inflacionárias e assim os yelds dos Treasuries americanos de 10 anos abriram forte altas e catalisaram atratividade ao dólar, que em consequência ganhou valorização e isto pressionou as moedas, em especial, as emergentes depreciando-as.
Contudo, houve um hiato nesta percepção e desta forma 4ª e 5ª feira a moeda americana arrefeceu seu viés de alta, e, concomitantemente, o BC realizou de forma oportuna ofertas de leilões de dólares a vista e de novos contratos de swaps cambiais, o que possibilitou que o real recuperasse parte da sua desvalorização aproveitando os dois fatores, um interno e outro externo.
Contudo, ao início desta semana “voltou” a percepção anterior com os yelds dos Treasuries americanos de 10 anos voltando a abrir suas taxas e desta forma foi retomada o impacto sobre as moedas emergentes, acentuadamente maior sobre o real que havia sido beneficiado, também, pelos leilões do BC.
O BC buscou atenuar esta nova rodada de desvalorização da moeda nacional e então realizou dois leilões, um de pouco mais de US$ 1,0 Bi no mercado à vista e mais US$ 500,0 Mi de contratos de swaps novos no mercado futuro. Atenuou discretamente, mas não evitou a desvalorização em torno de 1,62 a R$ 5,63, registrando o pior desempenho entre as moedas.
Hoje tem início a reunião do BC/COPOM que até amanhã concluirá sobre a definição da taxa SELIC.
É notório e inquestionável que a autoridade está sob forte pressão para definir uma alta da taxa SELIC, absolutamente necessária neste momento, e efetivamente para ser eficaz precisa afastar-se das tradicionais mesmices, e ater-se firmemente à realidade que se revela em indicadores severamente agravados na economia, e mais e principalmente, nos efeitos que a manutenção da taxa de juro em 2% tem proporcionado excepcional impacto na formação da taxa cambial no país, o que irradia de forma intensa e imediata como inflação na economia brasileira.
Urge que o BC/COPOM saia do ostracismo, da postura muito atrás da curva, e compatibilize suas decisões como gestor maior da política monetária do país.
O Boletim FOCUS já projeta IPCA em 4,60% este ano, com grande propensão ao erro, se observarmos que fevereiro registrou alta de 0,86% e são acentuados os sinais de forte aquecimento inflacionário sem a característica de “temporário”, mas o grande fator de impulsão advém do preço do dólar, que decorre diretamente da falta de equanimidade da taxa de juro.
Idealmente, o BC/COPOM deveria ajustar a taxa SELIC em 0,75%, contudo, conhecendo a letargia do órgão, é mais provável que cometa o excesso de 0,50%.