Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com. Publicado originalmente em inglês em 10/08/2020
- Commodities agrícolas podem apresentar alta volatilidade;
- Açúcar rompe máximas;
- Café sobe e registra mínima mais alta;
- 2008-2011 foi um período altista; de 2020 em diante, podemos ver uma repetição desse desempenho.
O açúcar e o café pertencem ao setor de soft commodities do mercado mais amplo de matérias-primas. O Brasil é o principal produtor desses dois insumos agrícolas. O clima do país sul-americano é ideal para cultivar grãos de café arábica e a cana-de-açúcar.
Os contratos futuros de café e açúcar no mercado internacional são negociados na Intercontinental Exchange, e o dólar estadunidense é seu mecanismo de precificação. Como os custos de produção locais são incorridos em reais, a relação cambial entre a moeda brasileira e a norte-americana impacta os preços dessas commodities. A alta do real e a queda do dólar tendem a ser altistas para o café e o açúcar, enquanto a fraqueza da divisa brasileira e a força da moeda americana geralmente pesam sobre os preços.
Embora os diferenciais de câmbio possam impactar as cotações, os fundamentos de oferta e demanda ditam a trajetória de menor resistência dos preços. Condições climáticas adversas ou doenças nos cultivos podem provocar uma queda na safra. Em 2020, a pandemia mundial pode afetar a produção. O Brasil registra o segundo maior número de infecções e mortes pelo coronavírus no mundo.
Os preços do açúcar e do café chegaram perto do fundo dos ciclos de cotação no início do ano. O café estava abaixo de US$ 1 por libra, enquanto os futuros do açúcar atingiram a mínima de 9,05 centavos em abril, o nível mais baixo desde 2007. Nas últimas semanas, os preços de ambas as commodities agrícolas apresentaram uma impressionante recuperação.
Commodities agrícolas podem apresentar alta volatilidade
As commodities tropicais têm um longo histórico de extrema volatilidade. Clima, doenças vegetais, flutuações cambiais – tudo isso contribui para a variação dos preços no tempo.
No açúcar, a faixa de preços desde o início da década de 1970 foi de 2,29 centavos para 66,00 centavos por libra. A máxima mais recente ocorreu em 2011, a 36,08 centavos, e a mínima deste século foi a 4,62 centavos por libra no contrato futuro de açúcar com vencimento mais próximo na ICE.
O café tem sido negociado na faixa de 41,50 centavos até a máxima de US$ 3,3750 por libra desde 1973. Desde 2000, a mínima foi de 41,50 centavos, e a máxima foi de US$ 3,0625.
Açúcar rompe máximas
No final de julho, o açúcar rompeu sua resistência de curto prazo a 12,29 centavos por libra no contrato futuro contínuo. Desde março, os futuros com vencimento mais próximo eram negociados abaixo do patamar de 12,30 e atingiram os preços mais baixos desde 2007 em abril, a 9,05 centavos por libra.
O gráfico semanal mostra um rompimento da máxima da última semana de janeiro. Na semana passada, os futuros do açúcar para outubro registraram máxima a 13,00 centavos, fechando o gap entre 12,95 e 12,93 desde março. O próximo alvo de alta é a máxima de fevereiro de 2020 a 15,90 centavos por libra.
Os indicadores de força relativa e momentum de preço indicaram condições sobrecompradas no mercado de açúcar no fim da semana passada. A volatilidade histórica semanal, em mais de 38%, estava acima do ponto médio deste ano.
O número de posições de compra e venda em aberto superou um pouco mais de um milhão de contratos em 6 de agosto. A métrica atingiu seu pico de mais de 1,26 milhão de contratos em meados de fevereiro, quando o açúcar atingiu seu preço mais alto desde 2017. Esse pico em posições em aberto foi recorde no mercado açúcar. O declínio se deu em função das condições de aversão ao risco geradas pela pandemia global.
Café sobe e registra mínima mais alta;
Em meados de junho, os futuros do café arábica na Intercontinental Exchange atingiram seu patamar mais baixo de 2020, quando foram negociados a 92,70 centavos por libra. O fundo deste ano foi mais alto do que o de 2019, quando a commodity agrícola registrou um declínio de 86,35 centavos, o menor patamar desde 2005.
O gráfico semanal ilustra o repique no mercado futuro de café, que fez sua cotação atingir a máxima de US$ 1,2725 por libra na semana passada.
Nos últimos dois meses, os futuros do café subiram 37,3%. As métricas de força relativa e momentum de preço estavam acima do território neutro.
A volatilidade histórica semanal estava mais perto da máxima do que da mínima de 2020, a quase 40%. As posições em aberto um pouco acima de 265.000 contratos no fim da semana passada têm continuado estáveis desde meados de junho.
O próximo alvo de alta é a máxima do fim de março a US$ 1,3065 e o pico de dezembro de 2019, a US$ 1,3840 por libra. Os preços corrigiram no fim da semana passada e fecharam a US$ 1,1545 por libra nos contratos futuros para setembro.
2008-2011 foi um período altista; de 2020 em diante, podemos ver uma repetição desse desempenho
O açúcar foi mais doce nos últimos meses, e o café tem flertado com um movimento de alta maior desde meados de julho. A desvalorização do dólar, a alta do real brasileiro contra a moeda americana e os níveis recordes de estímulos dos governos e bancos centrais têm contribuído para a alta das duas commodities agrícolas.
Além disso, o Brasil vem registrando o segundo maior número de infecções e fatalidades por coronavírus no mundo. A pandemia mundial pode impactar significativamente a produção e a logística dos mercados de açúcar e café nos próximos meses. Enquanto isso, os grãos de café robusta do Vietnã têm elevado a cotação dos grãos de arábica.
Acredito que a ação dos preços nos mercados de commodities de 2008 a 2011 serve de modelo para os próximos anos. No alvorecer da crise financeira mundial de 2008, os estímulos dos bancos centrais criaram um fluxo de liquidez que desencadeou uma disparada nos produtos agrícolas. Em 2020, níveis de estímulo ainda maiores devem provocar a mesma reação.
O gráfico trimestral mostra que o preço dos contratos futuros com vencimento mais próximo subiu a partir da mínima de 9,44 centavos em 2008 para máxima de 36,08 em 2011, quando a commodity doce praticamente quadruplicou seu valor.
O café saiu da mínima de US$ 1,0170 por libra em 2008 e atingiu a máxima de US$ 3.0625 em 2011, período em que os preços do grão mais do que triplicaram.
Se o período de 2008 a 2011 servir de modelo para 2020, a expectativa é que o açúcar fique ainda mais doce e o café suba ainda mais nos próximos meses e anos.