Com diz o ditado: gato escaldado tem medo de água fria. No caso do ouro, esse ditado parece não se aplicar, já que, quanto mais ele é castigado, mais forte fica.
Uma semana atrás, o ouro estava na lona, nocauteado pela notícia sobre a vacina contra a covid-19 da Pfizer (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34), responsável por fazer o metal perder 5%, ou US$ 100, do seu valor, a maior desvalorização diária desde agosto.
Uma semana depois:
O ouro toma outra pancada, agora da atualização da Moderna (NASDAQ:MRNA) em relação à sua vacina contra o coronavírus. Mas, longe de ter sido um golpe fulminante, desta vez a pancada fez o ouro ir para as cordas. Depois de um momento, o metal voltava a ficar de pé, baqueado, mas não fora de batalha.
Questão: será que o ouro perdeu o medo das injeções de covid-19, que servem tanto de salvaguarda contra o vírus como de antítese para um rali no metal amarelo?
Jeffrey Halley, analista da corretora nova-iorquina OANDA radicado em Sydney, certamente acredita nisso, afirmar em nota, no início desta terça-feira:
“Depois do trauma do comportamento dos preços pós-Pfizer, o ouro conseguiu manter seu suporte na linha de tendência de alta três vezes na última semana. Isso sugere que a força mudou para a alta, principalmente diante de mais flexibilização por parte do Federal Reserve".
O preço spot do ouro, que rastreia a cotação do lingote, caiu quase US$ 26, ou 1,64%, depois da atualização da vacina da Moderna. Mas encerrou o dia com uma desvalorização de apenas US$ 2, ou 0,1%,
O metal seguia no vermelho durante o pregão desta terça na Ásia, mas caindo menos de US$ 1, ou 0,02%, a US$ 1.888,26.
Ouro perto de um “rompimento de sorte”?
Halley observou que o lingote não derrapou abaixo do suporte de US$ 1864,50 na segunda-feira. Além disso, ressaltou que o fechamento de US$ 1888.80 no mercado à vista se deu “em um número da sorte na Ásia”.
“O mais impressionante foi que o ouro disparou mesmo com a inclinação maior da curva de juros nos EUA”, complementou, referindo-se ao título de 10 anos do tesouro americano.
Para fins de contexto, a Moderna afirmou que sua vacina experimental foi 94,5% eficiente na prevenção da covid-19, contra 90% de eficácia da vacina da Pfizer. O produto da Moderna precisa apenas de refrigeração normal, contra os -70 graus Celsius da vacina da Pfizer.
Como o ouro enfrentou o último desenvolvimento de vacina sem cambalear, Halley acredita que o alvo de alta de US$ 1905-US$ 1907 para o lingote é possível, referente às médias móveis de 50 e 100 dias.
Se romper essa faixa, seu próximo alvo é US$ 1935.
Halley disse ainda:
“O suporte na linha de tendência ascendente está em US$ 1866,50 por onça, seguido da zona de US$ 1850,00 por onça. A perda de US$ 1850,00 por onça abriria espaço para um recuo mais acentuado até a MMD 200 a US$ 1789,00 por onça.”
Mesmo assim, resiste em dizer que o ouro seja uma aposta de direção única: “a menos que sobreviva a alto como um tuíte surpresa de Trump que abale violentamente os mercados acionários”.
O analista complementou:
“Uma advertência para a perspectiva altista é que o ouro ainda precisa se descorrelacionar dos agressivos sell-offs do mercado de ações”.
O lingote na MME 50 continua sendo ‘interessante’
O grafista Christopher Lewis afirmou que o pregão de segunda mostrou um significativo suporte para o lingote na média móvel exponencial de 50 dias (MME 50), fazendo com que o metal "continue interessante".
Ele disse ainda, em uma postagem no site FX Empire:
“O fato de o indicador estar no nível de 1900 sugere que o mercado está tentando ver se consegue romper para cima ou não. Mas, no fim das contas, acabamos tendo aquele grande candlestick vermelho da semana passada, que pode continuar mostrando sinais de negatividade; esse tipo de candlestick não ocorrer sem algum tipo de continuidade.”
“Além disso, o nível inferior de US$ 1800 será o melhor lugar para se posicionar na compra, devido à possibilidade de um grande rompimento e, claro, a MME 200 está posicionada ali. Se tudo permanecer como está, é uma oportunidade de entrar no ouro em um importante nível de suporte, mas eu também reconheço que o mercado continuará bastante sensível ao índice Dólar, em vista da correlação negativa”.
Pode ser uma questão de tempo para que o ouro suba, afirmou Lewis, mas sem que o movimento esteja livre de volatilidade e condições difíceis.
O analista complementou:
“Por isso, o melhor a fazer é ficar de olho no candlestick de suporte diário antes de colocar o dinheiro para trabalhar. Neste momento, ainda não temos esse cenário, mas está começando a se estabilizar, o que é um bom sinal”.
Alvo de curto prazo acima de US$ 1.900
Sunil Kumar Dixit, da SK Dixit Charting, em Kolkata, Índia, afirma que o ouro vem mantendo o suporte a US$ 1.890 e, desde que mantido, o alvo US$ 1901 continua sendo uma possibilidade.
O analista complementou:
“Acima disso está a resistência de US$ 1.915, a média móvel simples de 20 semanas, a US$ 1.927, e a resistência crítica a US$ 1.934.”
Mas Dixit também afirma que uma fraqueza abaixo de US$ 1.890 pode fazer com que o ouro teste os níveis inferiores de US$ 1.860 e US$ 1.836.
"A extensão do sell-off pode marcar o tão aguardado fundo a US$ 1.768, que coincide com a MME de 20 semanas.”
Goldman continua com seu alvo de US$ 2.300
O Goldman Sachs, enquanto isso, ainda mantém o alvo de US$ 2.300 para o lingote em 2021.
Em um relatório publicado na sexta-feira, o banco de investimento afirmou que sua perspectiva para o ouro se baseava no retorno da economia global ao equilíbrio entre notícias positivas de possíveis vacinas para a covid-19 e os riscos ainda elevados de maior dano econômico de mais ondas virais.
De minha parte, considero que o lingote ainda está no modo "venda" no curto prazo, tomando como base o Indicador Técnico Diário do Investing.com. Seguindo essa projeção, vejo um suporte de três níveis, começando por US$ 1.869,07 e progredindo para US$ 1.849,60, antes que a compra final seja retomada a US$ 1.834,46.
Se o ouro spot acabar virando para a alta, provavelmente encontrará uma resistência de curto prazo de três níveis em US$ 1903,68, US$ 1.918,82 e US$ 1.938,28.
Como em todas as projeções, interprete as visões apresentadas com base nos fundamentos e opere com moderação – sempre que possível.
Boa sorte.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.