Publicada originalmente em inglês em 22/07/2020
Desde pequenos investidores até nomes de peso em Wall Street, todos parecem concordar em um aspecto: é uma questão de tempo para que o ouro atinja a marca de US$ 2.000 por onça.
E por que não? Trilhões dólares de estímulo estão sendo injetados pelos bancos centrais ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, a demanda por ativos de segurança acelerou por conta das preocupações com uma deterioração ainda maior das condições econômicas e sanitárias diante de uma nova onda de infecções de covid-19.
Adicione a isso os juros praticamente zerados nos EUA, os baixos rendimentos reais, a entrada de fluxos recordes em fundos de investimentos lastreados em ouro e a alocação cada vez maior de recursos em metais preciosos de maneira geral, e o resultado é um alinhamento perfeito das estrelas em favor do metal brilhante favorito do mundo.
Voz da razão
Mas a voz da razão nos pede cautela – como sempre o faz em fortes mercados de alta – para reexaminarmos uma possível correção no ouro em seu caminho em direção às máximas recordes de 2011 ou além disso, rumo a US$ 2000.
Os futuros do ouro na COMEX registraram o maior fechamento de pregão a US$ 1.865,75 no início da quarta-feira, subindo US$ 45, ou 3%, um pouco abaixo da máxima de recorde de 2011 de US$ 1.911,60.
O ouro spot, preço do metal com entrega imediata, disparou para US$ 1.865,87. Sua cotação atingiu o pico histórico de US$ 1.920,85 em setembro de 2011.
De fato, o mercado de derivativos mostra que os investidores estão apostando alto em que o ouro atingirá US$ 2000 até o final do ano. Dados do CME Group, que opera os futuros e as opções de ouro na COMEX, mostra que há mais posições em aberto em calls – que concedem o direito, mas não a obrigação, de o titular comprar ouro a um preço determinado em data futura – ao preço de exercício de US$ 2.000 do que qualquer em outro contrato de opções para dezembro de 2020.
Com quase 40.000 lotes em aberto, as calls de dezembro a US$ 2.000 são, de longe, o maior preço de exercício de opções com vencimento no último mês do ano. Isso corresponde a mais de 15% do total de posições em aberto em calls para dezembro de 2020, superando facilmente o próximo preço de exercício a US$ 2.500, com “apenas” 18.000 lotes em aberto.
“Sem obstáculos à vista”, mas rali pode fazer uma pausa para respiro
Slobodan Drvenica, diretor global de análise da Windsor Brokers, em Amã, Jordânia, afirmou que os investidores do ouro “parecem não ver obstáculos até o alvo de US$ 1.920”.
Mas ele alerta que “estudos de sobrecompra nos gráficos diário e semanal sugerem que o rali pode fazer uma pausa para tomar fôlego para sua pernada final até US$ 1.920”.
Drvenica afirmou que uma queda do ouro abaixo da média móvel de 20 dias, a US$ 1.792, poderia sinalizar uma “correção mais profunda”, mas duvidou que um declínio dessa magnitude seja possível antes do primeiro teste de US$ 1.900.
Ouro pode continuar subindo, mas não em linha reta
Sunit Kumar Dixit, analista independente de metais preciosos, tem visão similar:
“Se ouro mantiver seu impulso, as compras podem se intensificar, fazendo-o alcançar uma nova máxima recorde a US$ 1.920 sem muita resistência”.
Mas pode ser que o rali no ouro não aconteça em linha reta, segundo ele.
“Não é possível descartar uma realização de lucros, o que pode fazer o ouro retestar as regiões de US$ 1.830, US$ 1.815 e US$ 1.805".
“Se o nível de US$ 1.800 for perdido, o próximo suporte está a US$ 1.791, abaixo do qual os vendedores podem desencadear um processo de liquidação para US$ 1770-1750, o que pode mudar a tendência no curto a médio prazo”.
Alguns investidores podem ficar “hesitantes”
Adam English, do Outsider Club, em Spokane, Washington, afirmou que o rali do ouro de mais de 20% até agora no ano pode deixar os investidores “um pouco hesitantes” de que os US$ 2.000 possam ser alcançados ainda neste ano.
O analista escreveu recentemente:
“Alguns dos maiores nomes do mercado estão se alinhando atrás da disparada que deixará a máxima história bem para trás".
“Desde pequenos investidores de varejos às maiores instituições financeiras, praticamente todos estão agora apostando em preços muito maiores para o ouro. Alguns grandes nomes novos podem surpreender e saltar a bordo”.
Um fluxo de cerca de US$ 40 bilhões foi injetado em ETFs lastreados em ouro, que geralmente são preferidos por investidores de varejo, no primeiro semestre do ano, segundo reportagem do Wall Street Journal no início deste mês. O periódico ressaltou que o volume nesses fundos superou o recorde anual anterior e destacou a robusta demanda dos investidores por metais preciosos durante a pandemia de coronavírus.
Grandes bancos também apostam no alvo de US$ 2000
Em Wall Street, o Citigroup é o mais recente banco de investimento a considerar que o ouro irá romper a marca de US$ 2.000.
Uma pesquisa da Reuters na terça-feira mostrou que os analistas esperam que o ouro continue seu extraordinário rali até o fim do ano.
O estrategista do Bank of America, Paul Ciana, declarou que vê um potencial de os preços do ouro atingirem máximas entre US$ 2.114 e US$ 2.296.
Três outros grandes bancos de investimento – Morgan Stanley, JPMorgan e Goldman Sachs – já estão a bordo do “trem de ouro” rumo a US$ 2.000 já faz algum tempo.
Os analistas do JPMorgan, John Normand e Federico Manicardi, disseram que quem via uma vulnerabilidade de longo prazo nas principais moedas “deveria simplesmente permanecer comprado na mais antiga moeda de reserva do mundo: o ouro”.
Jeffrey Halley, estrategista da corretora OANDA, compartilhou desse entusiasmo:
“O movimento do ouro continua firme e deve subir depois de uma estreita consolidação durante a maior parte de julho”.
“O ouro precisaria registrar um fechamento diário abaixo de US$ 1.819 por onça para colocar em dúvida a tese altista”.
Aviso de isenção: Barani Krishnan não possui posições nos ativos sobre os quais escreve.