Por Clement Thibault
Desde a crise financeira de 2008, dos "quatro grandes" bancos norte-americanos — JPMorgan Chase (NYSE:JPM), Bank of America (NYSE:BAC), Citigroup (NYSE:C) e Wells Fargo (NYSE:WFC) — dois, JPMorgan e Wells Fargo, têm constantemente liderado o grupo, tanto ao navegar com sucesso pela crise financeira quanto a manter a lucratividade constante.
O lucro líquido de cada um destes bancos, embora tenha ficado mais baixo durante a última crise econômica, nunca passou para o território negativo, um resultado de sua abordagem conservadora de negócios e gestão estável. Logo, não é nenhuma surpresa que investidores ao considerarem realizar compras no setor financeiro, JPM e WFC estejam no topo da lista por conta da rentabilidade comprovada.
Com cada banco se preparando para divulgar os resultados do 2º tri de 2017, ambos na sexta-feira 14 de julho antes da abertura dos mercados, nós nos perguntamos qual poderia ser o melhor investimento agora.
Wells Fargo: Ainda o Rei dos Bancos dos EUA?
For anos, o Wells Fargo foi o rei do setor bancário dos EUA. A instituição financeira mostrava crescimento e capacidades de gestão exemplares. Warren Buffett (NYSE:BRKa) tem investido fortemente no banco por anos; ele atualmente possui US$ 26,7 bilhões em papéis WFC, o que leva à sua participação na propriedade a ficar pouco abaixo de 10%.
Historicamente, as ações do Wells Fargo refletiam os traços positivos da empresa e o banco deu retorno de 320% aos acionistas de fevereiro de 2009 a agosto de 2016. Em comparação, no mesmo período, o retorno do JP Morgan foi de 195%.
O Wells Fargo agora é negociado em torno de US$ 55 por ação, enquanto o JP Morgan é negociado próximo de US$ 93. De um ponto de vista de capitalização de mercado, o JPMorgan tem maior valorização, US$ 331 bilhões em comparação aos US$ 277 bilhões de valor de mercado do Wells Fargo.
Contudo, em 8 de setembro de 2016, o Wells Fargo sofreu um golpe violento em sua marca e reputação ao surgirem notícias de que o correto e estável Wells Fargo teria participação em um escândalo de fraude de muitos anos envolvendo a criação de milhões de contas correntes e poupanças falsas por empregados do banco, utilizando informações insuspeitas de clientes reais a pedido da gestão. Desde então, ações do Wells Fargo subiram apenas 12%, em comparação a 40% do JPM. Já há quase um ano desde que as notícias surgiram, mas o Wells Fargo não se saiu muito bem.
Quando o escândalo se tornou público, John Stumpf, diretor-executivo, se demitiu, criando uma crise de gestão ao banco que ainda está sendo resolvida. O Wells Fargo continua a fazer mudanças organizações em seu segmento de banco de varejo para "restabelecer a confiança dos clientes". Isso é uma admissão direta de que as mudanças no enfoque gerencial junto com as mudanças na cultura interna são necessárias para se reconstruir a posição do banco aos olhos do consumidor na arena financeira.
Além disso, o banco continua a ser responsável por multas e ações decorrentes do escândalo. No início dessa semana, o Wells Fargo recebeu aprovação preliminar para sua proposta de US$ 142 milhões de acordo coletivo para compensar clientes que tiveram contas não autorizadas abertas em seu nome.
JP Morgan: Navegação Tranquila pela Frente
O JPMorgan, por outro lado, nem navegado tranquilamente sob o comando de Jamie Dimon, o diretor executivo, que lidera o banco desde 2006. Dimon é amplamente considerado como um dos mais bem-sucedidos diretores-executivos do banco atualmente. Ele é também um dos principais acionistas do JPM, com aproximadamente 6,75 milhões de ações, em um valor total de US$ 620 milhões.
Embora ambos funcionem como bancos, seus modelos empresariais não são exatamente os mesmos. Seus fluxos de receitas, por exemplo, vêm de diferentes áreas do setor bancário. O Wells Fargo é principalmente orientado ao consumidor norte-americano; 60% de suas receitas são originadas no segmento de banco de varejo. Pouco mais de 40% das receitas do JP Morgan tem origem nesta divisão.
A vantagem do JP Morgan está em suas atividades no atacado, fornecendo serviços a organizações como grandes clientes corporativos, institucionais, empresas de médio porte, financiamento de comércio internacional e corretores de hipoteca. Esse segmento é quase igual em tamanho à sua divisão de banco de varejo. Em contraste, a divisão de banco de atacado do Wells Fargo é quase a metade do tamanho de seu segmento de banco de varejo.
Com o Wells Fargo ainda se desembaraçando dos recentes eventos fraudulentos, teria esse banco alguma chance de retornar ao desempenho anterior ao escândalo neste trimestre?
Receitas e Lucros
A receita do Wells Fargo nos últimos dois trimestres foi de US$ 43,6 bilhões de dólares contra US$ 43,8 bilhões em período comparável em 2016, uma queda de 0,5%. Seu lucro líquido caiu de US$ 11 bilhões para US$ 10,7 bilhões, uma queda de 2,7%.
As atividades desaceleraram para o Wells Fargo e sua última apresentação de resultados forneceu indicações sobre o motivo. Comparando com o 1º tri de 2016, a interação total em agências caiu 4% no 1º tri de 2017, a abertura de contas correntes aos clientes caiu 35% e solicitações de cartões de crédito caíram 42%. A lealdade dos consumidores também caiu de 62% para 58%, refletindo a perda da confiança no Wells Fargo como instituição.
Mas não houve só más notícias para o WFC; houve ainda crescimento nos depósitos bancários (6,5%), média dos empréstimos (4%) e Rendimento Líquido dom Juros (5%). No entanto, o crescimento não foi suficiente para compensar as perdas criadas pelo escândalo.
O JP Morgan, por outro lado, registrou seus melhores números de receitas trimestrais em quase quatro anos. Suas receitas pelos últimos dois trimestres foram de US$ 48 bilhões, aumento de US$ 1,9 bilhão, ou 4%, a partir dos US$ 46,1 bilhões de receitas geradas durante o mesmo período do ano passado. Seu lucro líquido nos últimos dois trimestres atingiu US$ 13,1 bilhões, 20% a mais do que os U$ 11 bilhões recebidos em 2016. Além disso, a média de depósitos subiu 11% e a média dos empréstimos subiu 5%, superando o Wells Fargo em duas métricas críticas de bancos de varejo.
Lucratividade
A regressão nas receitas e lucros do Wells Fargo pode ser temporária, mas suas métricas de lucratividade são preocupantes. Durante os últimos três anos, o retorno sobre o patrimônio líquido, o retorno sobre os ativos e as margens de lucro do WFC têm caído de forma constante. Há três anos, o retorno sobre o patrimônio líquido do banco era de 14,5% — o melhor no setor — ultrapassando o JPMorgan com uma margem de 3,7%. Hoje, o retorno sobre o patrimônio líquido do WFC caiu para 12,4% enquanto o do JPM subiu para 11,2%, diminuindo a margem de liderança do WFC para apenas 1,2%, um terço do que era no passado.
O retorno sobre os ativos parece estar exatamente da mesma forma. O Wells Fargo costumava estar bem à frente, com 1,47% de retorno sobre os ativos em comparação aos 0,9% do JPM. Contudo, atualmente, eles estão quase iguais, com 1,15% para o WFC e 1,03% para o JPM.
A diferença nas margens de lucros não apenas diminuiu entre os dois bancos como o JPM passou à frente do WFC. É agora o banco com maiores margens de lucro entre os grandes bancos: as margens do Well caíram de 27,4% para 22,9% ao passo que as do JPMorgan cresceram de 24,9% para 26,4%.
Valorização
Nesse momento, o JPMorgan parece ser o melhor negócio. Não é nenhuma surpresa que o Wells Fargo ainda está tentando deixar para trás o escândalo ao passo que as ações do JPMorgan estão em níveis máximos históricos. Contudo, acreditamos ser uma métrica ilusória.
Primeiramente, as taxas de juros estão subindo e o JPMorgan está em uma posição impressionante para tirar proveito. Para cada ponto percentual que os juros aumentarem, o JPMorgan espera ver o crescimento nos lucros de US$ 2,4 bilhões, o que significa cerca de US$ 600 milhões por decisão do Fed de aumentar os juros.
O preço sobre o valor patrimonial do banco é 1,9, reconhecidamente muito maior do que a média de 1,46 de três anos do banco. Entretanto, mesmo em 1,9, o JPMorgan ainda está bem longe de seus níveis de valorização de 2,8 vezes o valor patrimonial.
O preço sobre o valor patrimonial do Wells Fargo está completamente alinhado com sua valorização média de três anos de 2,1. Isso é obviamente maior do que os números do JPMorgan, mesmo com as tendências negativas recentes para o WFC. Em uma proporção de preço/lucro, o JPMogan é apenas um pouco mais caro, com uma proporção de 14,5 contra 14 do Wells Fargo.
Conclusão
Uma coisa é clara - o JPMorgan é atualmente o banco líder do mercado norte-americano, tomando o título do Wells Fargo. Não é apenas o melhor desempenho, é também a instituição financeira que mostrou mais aperfeiçoamento durante os últimos anos. É uma combinação muito atraente para os investidores.
Mas não contem com o Wells Fargo fora de campo. Longe disso. Ele atualmente mantém sua posição como um dos dois bancos líderes do mercado norte-americano. Contudo, há mais questões do que respostas agora sobre o Wells Fargo. Não está claro por quanto tempo a queda nas receitas e nos lucros vai durar e nem o quão profundamente o escândalo afetou a percepção dos clientes.
Ainda mais preocupante é a tendência negativa de vários anos em lucratividade. Por anos, o Wells Fargo foi conhecido como o banco mais rentável e mais eficiente, uma instituição que alocava recursos de maneira inteligente e tinha os melhores retornos com uma margem significativa.
Contudo, nesse momento, parece que esses dias ficaram no passado. Para recuperar sua antiga posição de melhor banco dos EUA, o Wells Fargo precisará reverter as tendências atuais reiniciando o crescimento e aperfeiçoando todas as métricas. Até que isso aconteça, não há dúvidas de que o JPMorgan é o melhor banco e o melhor investimento.