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Warren Buffett: “O Risco Vem de Não Saber o Que Você Está Fazendo”

Publicado 06.05.2021, 13:08
Atualizado 09.07.2023, 07:32

Warren Buffett, conhecido também como “Oráculo de Omaha” e considerado por muitos o maior investidor de todos os tempos pelas prodigiosas fortuna e fama que conquistou ao longo de décadas, é autor de muitas frases e ensinamentos de grande repercussão, oriundas principalmente da sua experiência prática no mercado financeiro, mas também do seu vasto conhecimento em diversas áreas. Uma das suas facetas mais conhecidas e admiradas é a paixão pela leitura, ele mesmo já tendo declarado em entrevistas ler mais de 500 páginas por dia – de demonstrações financeiras e jornais a livros sobre temas diversificados – e também destacado que “o investimento mais importante que você pode fazer é em você mesmo”.

A trajetória de sucesso de Buffett confere um grande peso à sua frase que intitula este meu artigo de hoje e a sua ideia central consiste na importância essencial do conhecimento quando investimos. Buffett enfatiza nesta frase o impacto da insuficiência de conhecimento no nível de risco. Apesar de ser uma consequência notavelmente perigosa e indesejável – uma vez que, neste caso, tratam-se de riscos não assumidos de forma consciente e deliberada –, os níveis de rentabilidade e de liquidez (tão fundamentalmente importantes, em qualquer investimento, quanto o seu nível de risco) também são afetados. E, sobretudo, há um desdobramento mais amplo e, portanto, ainda mais relevante: em última instância, a carência de conhecimento adequado impede que o investidor atue de forma “racional”, ou seja, consistente com os seus objetivos, perfil e necessidades.

Por esta razão é que “conhecimento”, juntamente com “autoconhecimento”, “processo decisório” e “implementação”, é um dos quatro componentes primordiais da abordagem decisória que eu tenho recomendado em meus artigos no Investing.com. No meu artigo aqui publicado em 11/12/2020 (“Investir: “não saber” é arriscado; “achar que sabe” pode ser ainda mais perigoso”) eu dissertei sobre os aspectos gerais do componente “conhecimento”. No artigo de hoje e nos próximos eu detalharei cada um destes aspectos.

CONHECIMENTO: O QUE É NECESSÁRIO SABER PARA INVESTIR?

Avalie as perguntas a seguir:

  1. Se a taxa de juros cair, o que deve acontecer com os preços dos títulos prefixados?

  2. Verdadeiro ou falso? A compra de ações de uma empresa geralmente proporciona um retorno mais seguro do que um fundo de investimentos de ações.

  3. Considerando um longo período de tempo (por exemplo, 10 ou 20 anos), qual ativo deve oferecer o maior retorno segundo a teoria de Finanças?

( ) Caderneta de poupança;

( ) Títulos de renda fixa;

( ) Ações.

As respostas corretas são, respectivamente, “subir”, “falso” e “ações”. Se você acertou todas e considera estas perguntas – propostas por Lusardi & Mitchell (2017) juntamente com outras que, em seu conjunto, foram denominadas “perguntas sofisticadas sobre alfabetização financeira” – fáceis ou básicas demais, você provavelmente pertence à minoria da população que possui um certo nível de conhecimento de Finanças (“financial literacy”).

Na minha Tese de Doutorado, desenvolvida no COPPEAD/UFRJ em parceria com a CVM, conhecimento de Finanças emerge com destaque como decisivo para a tomada de decisão de investidores, tendo sido o seu efeito já demonstrado por muitos estudos publicados. Por exemplo: executivos do mercado financeiro nacional que eu entrevistei no âmbito desta minha tese relataram que o baixo nível médio de conhecimento de Finanças dos investidores os leva a focar basicamente no curto prazo e na rentabilidade, não dando a devida atenção ao risco e à liquidez e, frequentemente, gerando desgaste entre o investidor e o intermediário financeiro (banco, corretora, etc.) quando o investidor sofre perdas.

Qual nível de conhecimento de Finanças um investidor deve possuir? A amplitude e a profundidade dos conhecimentos necessários depende principalmente de dois fatores:

  1. O grau de complexidade e sofisticação dos investimentos nos quais se pretende investir. Compreender e lidar com a caderneta de poupança é uma coisa, fazer o mesmo com derivativos é outra completamente distinta. Contudo, mesmo um simples fundo de investimento não é plenamente compreendido pela maioria dos investidores no Brasil.

  2. O grau de autonomia pretendido pelo investidor. Se este busca atuar sem qualquer assessoramento fornecido por especialistas, necessariamente precisará se qualificar mais em Finanças. Porém, mesmo quando assessorado tecnicamente é imperativo que o investidor desenvolva um nível de conhecimento pessoal mínimo em Finanças que seja suficiente para analisar de forma crítica as informações e orientações obtidas.

Os conhecimentos financeiros mínimos necessários abrangem disciplinas como Macroeconomia, Renda Fixa e Variável, Matemática Financeira, Mercado Financeiro, Gestão de Riscos e Finanças Comportamentais. De acordo com os dois fatores supracitados, outras mais também podem ser necessárias.

A obtenção destes conhecimentos pode e deve ser contínua e de inúmeras formas: cursos em modalidades (presencial, on-line, etc.), formatos e com durações variáveis; autoaprendizado com livros, revistas, jornais e mídias digitais cada vez mais diversificadas; experiência prática ao investir e estudar os seus resultados; participando de fóruns de discussão; observando e interagindo com investidores mais experientes etc.

A profusão de novas fontes e formas de aprendizado financeiro é notável, especialmente as decorrentes de novas tecnologias e modelos de negócio. A democratização do acesso ao conhecimento é uma das maiores conquistas do mundo contemporâneo, porém junto com uma maior oferta há também uma maior diversidade na qualidade e na confiabilidade dos conhecimentos disponíveis.

Portanto, o investidor que busca ampliar os seus conhecimentos deve estar atento a este aspecto fundamental – ainda mais destacadamente no que se refere a “influenciadores digitais” –, sempre selecionando de forma criteriosa as fontes de aprendizado financeiro. E sempre avaliando também se há conflito com os seus interesses, o que é evidente quando o modelo de remuneração da fonte de aprendizado analisada compromete a sua isenção.



* Ronaldo Deccax é Doutor em Administração com ênfase em Economia/Finanças Comportamentais, Mestre em Administração com ênfase em Estratégia no COPPEAD/UFRJ e Professor, Consultor e Pesquisador em Julgamento & Tomada de Decisão, Economia/Finanças Comportamentais, Negociação e Compras/Suprimentos. Ele pode ser contactado através do e-mail ronaldo.deccax@coppead.ufrj.br e no LinkedIn em linkedin.com/in/ronaldo-deccax-phd-169217.

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