Warren Buffett, conhecido também como “Oráculo de Omaha” e considerado por muitos o maior investidor de todos os tempos pelas prodigiosas fortuna e fama que conquistou ao longo de décadas, é autor de muitas frases e ensinamentos de grande repercussão, oriundas principalmente da sua experiência prática no mercado financeiro, mas também do seu vasto conhecimento em diversas áreas. Uma das suas facetas mais conhecidas e admiradas é a paixão pela leitura, ele mesmo já tendo declarado em entrevistas ler mais de 500 páginas por dia – de demonstrações financeiras e jornais a livros sobre temas diversificados – e também destacado que “o investimento mais importante que você pode fazer é em você mesmo”.
A trajetória de sucesso de Buffett confere um grande peso à sua frase que intitula este meu artigo de hoje e a sua ideia central consiste na importância essencial do conhecimento quando investimos. Buffett enfatiza nesta frase o impacto da insuficiência de conhecimento no nível de risco. Apesar de ser uma consequência notavelmente perigosa e indesejável – uma vez que, neste caso, tratam-se de riscos não assumidos de forma consciente e deliberada –, os níveis de rentabilidade e de liquidez (tão fundamentalmente importantes, em qualquer investimento, quanto o seu nível de risco) também são afetados. E, sobretudo, há um desdobramento mais amplo e, portanto, ainda mais relevante: em última instância, a carência de conhecimento adequado impede que o investidor atue de forma “racional”, ou seja, consistente com os seus objetivos, perfil e necessidades.
Por esta razão é que “conhecimento”, juntamente com “autoconhecimento”, “processo decisório” e “implementação”, é um dos quatro componentes primordiais da abordagem decisória que eu tenho recomendado em meus artigos no Investing.com. No meu artigo aqui publicado em 11/12/2020 (“Investir: “não saber” é arriscado; “achar que sabe” pode ser ainda mais perigoso”) eu dissertei sobre os aspectos gerais do componente “conhecimento”. No artigo de hoje e nos próximos eu detalharei cada um destes aspectos.
CONHECIMENTO: O QUE É NECESSÁRIO SABER PARA INVESTIR?
Avalie as perguntas a seguir:
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Se a taxa de juros cair, o que deve acontecer com os preços dos títulos prefixados?
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Verdadeiro ou falso? A compra de ações de uma empresa geralmente proporciona um retorno mais seguro do que um fundo de investimentos de ações.
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Considerando um longo período de tempo (por exemplo, 10 ou 20 anos), qual ativo deve oferecer o maior retorno segundo a teoria de Finanças?
( ) Caderneta de poupança;
( ) Títulos de renda fixa;
( ) Ações.
As respostas corretas são, respectivamente, “subir”, “falso” e “ações”. Se você acertou todas e considera estas perguntas – propostas por Lusardi & Mitchell (2017) juntamente com outras que, em seu conjunto, foram denominadas “perguntas sofisticadas sobre alfabetização financeira” – fáceis ou básicas demais, você provavelmente pertence à minoria da população que possui um certo nível de conhecimento de Finanças (“financial literacy”).
Na minha Tese de Doutorado, desenvolvida no COPPEAD/UFRJ em parceria com a CVM, conhecimento de Finanças emerge com destaque como decisivo para a tomada de decisão de investidores, tendo sido o seu efeito já demonstrado por muitos estudos publicados. Por exemplo: executivos do mercado financeiro nacional que eu entrevistei no âmbito desta minha tese relataram que o baixo nível médio de conhecimento de Finanças dos investidores os leva a focar basicamente no curto prazo e na rentabilidade, não dando a devida atenção ao risco e à liquidez e, frequentemente, gerando desgaste entre o investidor e o intermediário financeiro (banco, corretora, etc.) quando o investidor sofre perdas.
Qual nível de conhecimento de Finanças um investidor deve possuir? A amplitude e a profundidade dos conhecimentos necessários depende principalmente de dois fatores:
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O grau de complexidade e sofisticação dos investimentos nos quais se pretende investir. Compreender e lidar com a caderneta de poupança é uma coisa, fazer o mesmo com derivativos é outra completamente distinta. Contudo, mesmo um simples fundo de investimento não é plenamente compreendido pela maioria dos investidores no Brasil.
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O grau de autonomia pretendido pelo investidor. Se este busca atuar sem qualquer assessoramento fornecido por especialistas, necessariamente precisará se qualificar mais em Finanças. Porém, mesmo quando assessorado tecnicamente é imperativo que o investidor desenvolva um nível de conhecimento pessoal mínimo em Finanças que seja suficiente para analisar de forma crítica as informações e orientações obtidas.
Os conhecimentos financeiros mínimos necessários abrangem disciplinas como Macroeconomia, Renda Fixa e Variável, Matemática Financeira, Mercado Financeiro, Gestão de Riscos e Finanças Comportamentais. De acordo com os dois fatores supracitados, outras mais também podem ser necessárias.
A obtenção destes conhecimentos pode e deve ser contínua e de inúmeras formas: cursos em modalidades (presencial, on-line, etc.), formatos e com durações variáveis; autoaprendizado com livros, revistas, jornais e mídias digitais cada vez mais diversificadas; experiência prática ao investir e estudar os seus resultados; participando de fóruns de discussão; observando e interagindo com investidores mais experientes etc.
A profusão de novas fontes e formas de aprendizado financeiro é notável, especialmente as decorrentes de novas tecnologias e modelos de negócio. A democratização do acesso ao conhecimento é uma das maiores conquistas do mundo contemporâneo, porém junto com uma maior oferta há também uma maior diversidade na qualidade e na confiabilidade dos conhecimentos disponíveis.
Portanto, o investidor que busca ampliar os seus conhecimentos deve estar atento a este aspecto fundamental – ainda mais destacadamente no que se refere a “influenciadores digitais” –, sempre selecionando de forma criteriosa as fontes de aprendizado financeiro. E sempre avaliando também se há conflito com os seus interesses, o que é evidente quando o modelo de remuneração da fonte de aprendizado analisada compromete a sua isenção.
* Ronaldo Deccax é Doutor em Administração com ênfase em Economia/Finanças Comportamentais, Mestre em Administração com ênfase em Estratégia no COPPEAD/UFRJ e Professor, Consultor e Pesquisador em Julgamento & Tomada de Decisão, Economia/Finanças Comportamentais, Negociação e Compras/Suprimentos. Ele pode ser contactado através do e-mail ronaldo.deccax@coppead.ufrj.br e no LinkedIn em linkedin.com/in/ronaldo-deccax-phd-169217.