Na quarta-feira da semana passada, dia 23 de junho, Warren Buffett, CEO da Berkshire Hathaway (NYSE:BRKa) (SA:BERK34), divulgou por meio de um comunicado a atualização do seu programa anual de doação das ações da empresa. Em 2006, o mago de Omaha havia se comprometido a doar para obras filantrópicas toda a sua participação na Berkshire, o que, segundo ele, representa mais de 99% do seu patrimônio líquido. O montante doado este ano, avaliado em US$ 4,1 bilhões, representa mais do que um ato de generosidade, mas um marco pessoal para Buffett: o cumprimento de metade do seu compromisso. Das 474.998 ações que ele possuía em junho de 2006, agora ele possui “apenas” 238.624, avaliadas em US$ 100 bilhões.
O documento de três páginas impacta não apenas pelo seu conteúdo, mas também pela forma. O bom humor de Buffett é divinamente destilado através dos seis principais tópicos, nos quais ele expressa sua sabedoria e seus dilemas em relação ao tema ao longo de sua vida.
À primeira vista, nota-se que o documento trata o ato de doar de forma muito prática e objetiva, subtraindo o sentimento de abnegação que naturalmente é associado ao fato. Buffett afirma que os US$ 4,1 bilhões e os demais montantes já doados até o momento não representaram um sacrifício pessoal ou familiar em prol de um bem social maior. Ao contrário, “os juros compostos, o longo prazo, sócios maravilhosos e nosso incrível país [EUA] simplesmente fizeram a mágica”. Ele ainda pontua: “A sociedade tem um uso para o meu dinheiro; eu não”.
O pragmatismo, porém, em nada diminuiu o senso de responsabilidade de Buffett com o processo e o resultado prático das doações. Não era de se esperar que o modus operandi que norteou a tomada de decisão por décadas a fio fosse desconsiderado no assunto filantropia. Para demonstrar isso, destaco os dois pontos que considerei os mais interessantes do documento publicado.
O primeiro está relacionado ao timing. Buffett confessa que, em conversas com sua primeira esposa, preocupava-se com o momento de iniciar a doação de suas ações na companhia. Encantado pelo milagre dos juros compostos, ele decidiu ser mais paciente do que sua então esposa sugeria. Buffett ainda afirma que, se tivesse esperado até hoje para iniciar a doação das ações, sua contribuição saltaria de US$ 41 bilhões para US$ 100 bilhões. Entretanto, reconhece que a decisão não teria levado necessariamente a um benefício social maior. Enquanto a “magia” dos juros compostos recai sobre os ativos financeiros, o tempo também atua sobre a complexidade dos problemas sociais.
O segundo ponto é em relação ao aproveitamento do tempo. Buffett faz outra confissão ao dizer que muito pouco do seu tempo pessoal foi destinado diretamente às atividades filantrópicas. Em contrapartida, enquanto ele se dedica à multiplicação do saldo a ser doado, preferiu escolher e delegar a (uma carteira de) cinco instituições perfeitamente alinhadas ao seu propósito e dedicadas integral e profissionalmente à causa: Bill & Melinda Gates, Susan Thompson Buffett Foundation, Sherwood Foundation, Howard G. Buffett Foundation e NoVo Foundation.
Essa pode ser a realidade da maioria de nós. Em geral, a origem dos recursos que constroem o nosso patrimônio fica longe do destino que gostaríamos de dar para eles. É natural que, após anos de estudo, intenso treinamento prático e dedicação vocacional, o maior potencial de geração de valor de um profissional esteja intimamente ligado ao seu trabalho diário.
Se geramos mais valor — seja ele financeiro ou não — dedicando-nos à profissão que escolhemos seguir, o tempo destinado a outras atividades passa a ser detrator do objetivo que queremos alcançar.
Neste ponto, você deve ter percebido qual é a riqueza mais equânime de todas: o tempo. O tempo é a única dádiva que todos recebem igualmente. Não importa quão rico você seja, seu dia durará 24 horas e sua semana terá sete dias.
Administrar esta riqueza chamada tempo é um desafio para Warren Buffett tanto quanto é para você. A boa notícia é que a solução escolhida por Buffett — delegar parte dos seus recursos a especialistas aliados com o seu propósito — também está disponível para você, através dos fundos de investimento.
A verdade é que o benefício de ter o seu patrimônio gerido pelos maiores especialistas do mercado financeiro ainda é bastante subestimado. Os fundos de investimento proporcionam ao investidor o acesso a uma estrutura completa que engloba gestão ativa de patrimônio, análise de risco, pesquisa econômica, compliance, backoffice, entre outras áreas que fazem parte de um fundo. Sem contar os benefícios tributários que os fundos de previdência, por exemplo, podem oferecer, além de uma maior facilidade no momento de declarar o Imposto de Renda.
Tudo isso ainda está disponível, em grande parte dos fundos, a partir de um valor mínimo acessível, o que contribui para a democratização dos investimentos.
Por fim, mas não menos importante, o comunicado de Buffett não deixa de ser um lembrete à responsabilidade social e um chamado à filantropia. Quando nossos recursos são usados não apenas para melhorar nossa qualidade de vida e a de nossa família, mas para transformar a realidade que nos cerca, os benefícios são exponenciais. É exatamente esta a mensagem final do comunicado de Buffett. “Filantropia continuará a unir o talento humano com os recursos financeiros [que] combinados, farão do mundo um lugar melhor — muito melhor — para as gerações futuras.”
É a magia dos juros compostos na sociedade.