Recentemente Warren Buffett publicou sua carta anual para os acionistas da Berkshire Hathaway, fazendo a introdução de maneira diferente à utilizada durante os últimos 30 anos.
Nessa carta, Buffett mudou seu jeito de abertura do texto, antes iniciado com uma descrição da evolução do valor patrimonial por ação ao longo dos anos.
Buffett disse que essa mudança se fez necessária pois o múltiplo está perdendo sua relevância como parâmetro para a evolução da ação ao longo do tempo.
Ele realçou que é provável que, com o tempo, a Berkshire faça, cada vez mais, recompras significativas de suas ações.
A recompra de ações é uma maneira da empresa distribuir seus lucros aos acionistas.
Uma recompra ocorre quando uma empresa utiliza seu caixa para comprar suas próprias ações em circulação no mercado, e com isso, remove essas ações de circulação.
Essa redução do número de ações em circulação aumenta a participação relativa de cada ação remanescente na empresa e, consequentemente, nos lucros.
Essas transações, segundo Buffett, serão realizadas a preços acima do valor contábil de patrimônio líquido por ação (preço / valor patrimonial maior que 1), mas abaixo da estimativa da Berkshire de valor intrínseco por ação.
Quando uma empresa recompra suas ações a um preço abaixo do valor patrimonial por ação, o patrimônio líquido por ação aumenta.
Mas, quando uma empresa compra de volta suas ações a um preço acima do valor patrimonial por ação, o patrimônio líquido por ação diminui.
Portanto, Warren Buffett ao recomprar as ações da Berkshire Hathaway com um preço / valor patrimonial acima de 1, está fazendo algo que, por definição, diminui o valor patrimonial por ação.
A lógica por trás das recompras é simples, cada transação faz com que o valor intrínseco por ação suba (maior participação nos lucros), enquanto o valor patrimonial por ação cai.
Dessa forma, o valor patrimonial contábil fica cada vez mais fora sincronia com a realidade econômica.
Podemos ver os efeitos das recompras de ações até mesmo nas participações acionárias da Berkshire Hathaway.
A empresa de Warren Buffett possui 151.610.700 ações da American Express.
Sem adquirir uma ação a mais sequer, a participação da Berkshire aumentou de 12,6% para 17,9% do total da empresa, apenas com as recompras feitas pela American Express.
No ano passado, dos US$ 6,9 bilhões ganhos pela American Express, US$ 1,2 bilhão pertencia à Berkshire.
Esse montante equivale a 96% dos US$ 1,3 bilhão que Buffett pagou pela participação na empresa.
Quando os lucros aumentam e as ações em circulação diminuem, os sócios, ao longo dos anos, geralmente se saem bem.