A gigante do varejo Walmart (NYSE:WMT) está desenvolvendo sua própria moeda digital. A megavarejista anunciou, no dia 1 de agosto, que havia solicitado junto à Secretaria de Marcas Comerciais e Patentes dos EUA o registro da patente de uma moeda baseada em blockchain, lastreada em uma moeda tradicional, geralmente chamada de moeda estável, ou stablecoin.
De forma superficial, o registro parece indicar que a moeda proposta pela varejista tem natureza similar à moeda digital Libra, do Facebook (NASDAQ:FB). Além do lastro em uma moeda fiduciária, algo também presente na Libra, “o registro sugere que a moeda proposta pode ajudar a financiar pessoas com acesso limitado a serviços bancários – um dos principais argumentos do Facebook para a criação da Libra, em um esforço para atrair o público (e os órgãos regulatórios) para o token”, informou a CoinDesk.
Uma análise mais aprofundada, contudo, mostra um quadro diferente. Ao contrário da Libra, o projeto de criação de uma criptomoeda pelo Walmart é muito menos ambicioso. O Facebook quer revolucionar o segmento de serviços bancários mundiais, ao permitir transferências monetárias internacionais a baixo custo, em parceria com um consórcio de grandes empresas internacionais, como Mastercard, Visa, Uber (NYSE:UBER) e eBay.
Já a essência da proposta do Walmart é simplesmente criar uma moeda de fidelidade para seus clientes regulares. As informações sobre cada uma das unidades da sua moeda digital serão armazenadas em um bloco de blockchain, e a moeda será usada para comprar produtos no Walmart. Haverá um registro simultâneo do histórico de compras do cliente na plataforma, que calculará quaisquer economias ou créditos para aplicá-los nas compras atuais ou futuras do cliente no Walmart.
Essa iniciativa, respaldada pela sólida reputação dessa gigante do varejo, deve favorecer o uso da moeda do Walmart e fazer com que seja muito mais aceitável aos órgãos reguladores. Por outro lado, os planos mais ambiciosos do Facebook para a Libra geraram sinais de alerta regulatórios em escala mundial. A ética corporativa questionável da empresa provavelmente não ajudará. Uma reportagem publicada no início da semana passada observou que a Comissão Europeia está investigando a moeda Libra por “possível comportamento anticoncorrencial”.
“Ao contrário do Facebook, a entrada do Walmart no mundo das moedas digitais foi objeto de um ceticismo notavelmente menor”, declarou Lilin Sun, CEO da PlatON, rede mundial de computação para a proteção da privacidade. Segundo o executivo, o uso do blockchain via registro de patente pode ser visto como um passo razoável do Walmart em suas atividades de desenvolvimento corporativo.
“Há grandes diferenças entre a Libra e a moeda estável do Walmart: primeiro, a stablecoin da megavarejista não tem a intenção de se tornar uma 'moeda mundial'. Seu lastro se restringe ao dólar estadunidense e seu uso se limitará a determinados pontos de varejo e parceiros. Assim, o token do Walmart pode ser mais bem comparado a um cartão pré-pago que reduz o custo dos pagamentos ao longo do ecossistema de varejo, a fim de melhorar suas taxas de lucro e competitividade.”
“O Walmart é uma empresa muito mais tradicional do que o Facebook”, afirmou Alex Lam, CEO da RockX, nova plataforma de serviços para ativos digitais. “Está baseada em locais físicos, não só na internet. Isso elimina certa ‘escala global’ do Walmart e da sua criptomoeda pretendida, restringindo sua capacidade de ameaçar o atual sistema financeiro e os bancos centrais mundiais”. Lam diz ainda:
“O Walmart pode ressaltar que o Walmart Coin se concentrará na aplicação efetiva da tecnologia blockchain, com a possibilidade de integrar pessoas fora do sistema bancário, criando um tipo de ecossistema monetário para clientes e parceiros. A Libra, por outro lado, enfatizou que pretende implementar a ideia de moeda global. Para o Walmart, o foco na inovação tecnológica gerará uma resistência regulatória muito menor.”
A empresa sediada em Bentonville, Arkansas, também citou o fato de que sua moeda pode contribuir para oferecer serviços financeiros a pessoas fora do sistema financeiro tradicional. Nesse caso, Lam alerta que o Walmart precisará ter cuidado ao promover a aplicação da sua criptomoeda, para não passar pela mesma experiência da Libra, do Facebook, que fez a empresa e seus executivos entrarem na linha de fogo de órgãos reguladores e governos ao redor do mundo.
Lam diz ainda:
“Ao aprender com os erros da Libra, o Walmart pode evitar igualar sua criptomoeda planejada a uma moeda fiduciária ou sugerir que pode servir de sucessora dos sistemas monetários atuais. O fato de a Libra desafiar o poder dos bancos centrais explica a recepção hostil por parte dos governos."
Nova fase para o Blockchain?
Benjamin Simatos, CFO da OV, acredita que esse registro mostra que estamos entrando na fase em que o blockchain alcançará a adoção em massa.
“Empresas tradicionais mudaram para o comércio eletrônico e estão agora começando a ver o valor do lançamento de suas próprias moedas para uso em sua grande base de clientes, além de novos recursos digitais que podem implementar a tecnologia blockchain. As duas abordagens – a Libra, do Facebook, e o Walmart Coin – são, portanto, similares em natureza e podem definitivamente coexistir.”