Volume de Oferta de “Swaps Cambiais” Ainda Está Excessivo

Publicado 09.05.2014, 10:42

Parece que o argumento mais fácil para justificar a apreciação do real tem sido que há um fluxo intenso de recursos estrangeiros para o país, captações, direcionamentos para a Bovespa e renda fixa, etc, que, contudo não encontram respaldo quando analisados os dados do fluxo cambial líquido.

Evidentemente podem ainda estar ingressando recursos especulativos direcionados para a Bovespa ou mais especificamente para renda fixa, mas há um intenso volume de recursos estrangeiros deixando o país, a ponto de ter provocado que o fluxo líquido financeiro de abril já se tornasse negativo em US$ 1,1 Bi. No 1º quadrimestre o fluxo financeiro líquido atingiu tão somente o acumulado de US$ 2,101 Bi, montante bastante discreto para justificar os ruídos em torno da taxa cambial.

Além disto, perduram ainda mais de US$ 13,5 Bi em posições vendidas, detidas pelos bancos que se prestaram à geração de liquidez faltante por insuficiência de fluxo favorável, que precisam ser cobertas, o que deixa evidente que mesmo tendo melhorado o fluxo cambial líquido total neste ano, ainda assim tem sido insuficiente para zerar o fluxo adverso, o que é mais um fator neutralizante dos argumentos indicando que o fluxo é que aprecia o real.

É contumaz a atitude do governo toda vez que intervém no mercado de câmbio e deforma a formação do preço da moeda americana em ação visando fazê-la coadjuvante do juro na contenção inflacionária, apontar como causa o excesso de ingresso de moeda estrangeira, evitando assim assumir a responsabilidade direta pelo fato.

Neste momento o fluxo líquido positivo total de US$ 4,840 Bi no 1º quadrimestre, incluindo o comercial de US$ 2,739 Bi, por si só não tem potencial de apreciação do real, até porque, como salientamos, perduram posições vendidas em poder dos bancos no montante de US$ 13,5 Bi carentes de fluxo positivo para que sejam zeradas. Desta forma, não há fundamento em atribuir-se ao fluxo a causa da apreciação.

No passado, quando o país tinha efetivo volume de ingressos, o BC, com seus leilões de compra intensos, absorvia totalmente os excessos e indo além a ponto de deixa-los com posições vendidas para que atuassem focando a apreciação do real.

Naquela oportunidade o argumento da autoridade era de que o fluxo positivo é que determinava a apreciação do real, o que não se sustentava tecnicamente pois ela própria retirava com leilões todos os excedentes e na realidade o que determinava a apreciação era o fato de retirar do mercado mais do que o excesso e com isto fazia dos bancos parceiros na estratégia de apreciar o real, que era o que funcionava efetivamente.

O que difere os dois momentos é que no passado tínhamos fluxo intenso favorável, então era confortável para os bancos ficarem vendidos, pois havia farta oferta de linhas externas, enquanto que no presente não há fluxo intenso favorável e os bancos estão ficando vendidos para suprir a liquidez faltante no mercado à vista, ancorados em linhas de financiamentos concedidas pela autoridade monetária que assim protela a sua necessidade de vir a realizar leilões de venda para suprir o fluxo faltante.

Portanto, é notório que não decorre do fluxo cambial a apreciação do real que se presencia neste período do ano, visto que ainda perdura insuficiente e sendo “coberto” com as posições vendidas dos bancos ancoradas em financiamentos concedidos pelo próprio BC.

O que está determinando a apreciação do real, desejada e induzida pelo governo, é o excesso de oferta de “swaps cambiais” por parte do BC, embora tenha sinalizado redução da rolagem este mês ainda perdura excessiva e se a taxa cambial e, acreditamos que se houver pressão de intensificação de apreciação do real, o que interessa aos posicionamentos mantidos pelos bancos, o BC poderá reduzir ainda mais a rolagem com oferta de 5.000 contratos diários ou até mesmo interrompê-la prematuramente.


Como temos salientado entendemos que este mês de maio tende a ser um divisor, e, é bastante razoável admitir-se que será intensificada a reversão dos capitais especulativos que ingressaram no 1º quadrimestre, havendo a fragilização da demanda por “hedge”, que ocorre no mercado futuro e contamina o mercado à vista, e pressão de demanda se acentuando diretamente no mercado à vista, onde é necessário moeda efetiva “spot” para dar suporte.

Tudo leva a crer que o fluxo cambial em maio venha a se tornar negativo, o que determinará a elevação das posições vendidas dos bancos para suprir a pressão de demanda, que poderão ser ancoradas pelo incremento das linhas de financiamentos concedidas pelo BC ou por bancos estrangeiros, visto não acreditarmos que o BC venha a realizar leilões de venda de moeda à vista ao mercado.

E por que acreditamos que o fluxo possa se tornar negativo?

Embora haja a perspectiva de afrouxamento monetário nos Estados Unidos por um prazo maior do que o previsto e mesmo se considerando a possibilidade do BCE adotar um QE para impulsionar a recuperação da atividade econômica da euro zona, o mercado brasileiro, embora ainda bastante atraente para renda fixa já que a Bovespa já proporcionou retorno considerável, tem hoje incertezas que estão afetando o comportamento dos preços dos ativos, e incertezas normalmente afastam o capital especulativo.

Nossa expectativa é que se o preço da moeda americana sofrer pressão para depreciá-la mais, aproximando-se dos R$ 2,20 o BC deverá interromper a rolagem, mesmo que parcialmente, da posição de US$ 9,6 Bi vincenda no 1º dia útil de junho. Se isto ocorrer a autoridade dará suporte para que o preço se mantenha entre R$ 2,20 e R$ 2,25, ainda assim bastante irreal, mas também deixará evidente que a demanda por “swaps cambiais” está se retraindo efetivamente, confirmando, em tese que a demanda tende a se transferir para o mercado à vista.

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