Às vezes é necessário que se abandone a linha de seriedade e admita-se que o humor de Stanislaw Ponte Preta, autor do samba do crioulo doido, se faz presente, visto que há as mais variadas projeções e “achismos” sem que se tenham efetivos fundamentos, mas que são acreditadas pela necessidade de se construir ambiente de otimismo, que, contudo, só poderão ser desmentidas pela ocorrência da realidade, e isto pode demorar um pouco.
Enfim, todo o acervo de abordagens está ancorado em bases frágeis, e isto percebido com uma visão de maior rigor pelo mercado tira “tração” do comportamento do vários segmentos, não dá lastro convincente às projeções e provoca como consequência continua volatilidade, fruto da incerteza e dúvidas.
Discute-se o estressante tema do rompimento do teto orçamentário, anseio do Presidente Bolsonaro, que não assume o intento claramente, para manutenção do bom momento de aprovação crescente face às benesses que o governo vem distribuindo generosamente à população carente sob o “manto da pandemia do coronavírus”, mas que já se configura agora como campanha eleitoral antecipada, ao mesmo tempo em que a crise fiscal se agrava dia a dia de forma preocupante.
Esta realidade conflitante de interesses leva o governo a um “corner”, e o risco fiscal, se menosprezado em detrimento do agrado político à população, poderá comprometer a trajetória do país para a retomada do crescimento econômico.
A dualidade de posicionamentos do governo “apaga” as perspectivas imediatas para o país, mas impacta estimulando a volatilidade que estimula o “giro de negócios” dos mercados, sem se afastar muito de parâmetros conhecidos e contumazes, ou seja, “patinam” sem construir tendências.
Então, passam a prevalecer os “achismos” e assemelhados, e não há convicções efetivas fundamentadas em perspectivas.
Também nesta linha, equipe econômica prevê que o governo central vai registrar um déficit primário recorde de 252 bilhões de reais em julho, sob o impacto dos pagamentos do auxílio emergencial e um aumento generalizado em diversas despesas, mas que voltará a ter contas superavitárias (sic!) em outubro e novembro, um “achismo”.
A trajetória contrasta com a projeção do mercado, que considera um déficit bem menor para julho, de 103,5 bilhões de reais, mas sem perspectiva de superávits até o final do ano, mostrou nota elaborada pela Secretaria de Política Econômica (SPE).
O mercado tem assistido o esvaziamento gradual da equipe econômica e repercute sua preocupação provocando “temores e destemores” e com isto Bovespa, dólar e juro, acentuam mais severamente suas volatilidades decorrentes dos desconfortos, surgindo o risco latente do liberalismo tão decantado ser colocado à margem.
Os programas de privatizações e desburocratização (administrativa) não evoluíram como imprescindível para o país, e não foram alavancados pela teoria do “câmbio alto e juro baixo” que deveria tornar o país “barato” e atrair investimentos estrangeiros.
A Reforma Tributária precisaria ser desenvolvida com maior rapidez, mas certamente ensejará fortes debates e, em especial o setor de Serviços tem sérias preocupações com eventuais incrementos nos tributos, e este, é o setor que está claudicante não revelando números auspiciosos e indica que o seu novo normal será bem diferente estruturalmente.
O risco fiscal do país é preocupante e comprometedor e a eventualidade do governo entrar “num voo destemido” rompendo o teto orçamentário, mesmo que seja restringindo gastos essenciais em prol dos gastos de conveniência política, provocaria severo impacto negativo ao governo e ao país junto à comunidade internacional, e afastaria de forma mais incisiva o desinteresse dos investidores estrangeiros até para os investimentos em infraestrutura.
Na realidade, no momento, não se sabe exatamente como o governo sairá do “corner” em que está envolvido, contudo, o mercado já demostrou preocupação com a possibilidade de saída do Ministro da Economia, que é o ultimo bastião do liberalismo, e já deixou evidente que está extremamente inseguro quanto a esta possibilidade, embora assuma a conveniente linha do otimismo.
O fato concreto é que, como já dissemos exaustivamente, os indicadores de varejo e da indústria, no seu maior peso, estão alavancados pelos recursos providos pelos programas assistenciais do governo e a interrupção ou redução brusca, certamente, deixaria evidente esta realidade, provocando desgastes ao governo.
Enfim, o país tem um risco fiscal enorme e potencialmente desestabilizador; risco grandioso de desgaste político para o governo se interromper os programas assistenciais; risco de sustentabilidade dos indicadores do varejo e da indústria que estão atrelados a demanda oriunda dos recursos dos programas assistenciais; e nem eliminou ainda o risco generalizado para a retomada da atividade econômica decorrente da crise da pandemia do coronavírus.
Ontem, atenuados os boatos de saída do Ministro da Economia, a Bovespa, o dólar e o juro recompuseram seus parâmetros habituais, e assim deverão permanecer repetindo-se com “mais do mesmo” até que haja efetivas perspectivas consistentes, para o bem ou para o mal, para a economia brasileira.
A carência de fundamentos efetivos sugere que possamos estar presenciando realmente o “voo da galinha” do país, e não encontra nos fatores que alicerçam as convicções presentes sustentabilidade para o otimismo e sim, para a precaução.