Muito mais que o acordo ocorrido na União Europeia envolvendo 750,0 bilhões de euros para incentivo à recuperação da economia da área, ou a costumeira argumentação de apetite ao risco pelo mercado global, a redução da volatilidade sugere ter sido objetivamente a responsável pela forte apreciação do real, e, isto é, operacional e local.
Pode ser até uma sinalização de percepção do mercado de que a SELIC poderá não ser reduzida na próxima reunião do COPOM, já que grande parte da volatilidade pode ser atribuída ao mote do “juro baixo e câmbio alto”, sendo que o juro baixo tem limites que podem ser relacionados a inflação presente e inércia da atividade econômica, enquanto o dólar alto é algo ainda sem parâmetro confiável e ficou “solto” à mercê inicialmente do anseio governamental, posteriormente pela forte especulação e, por fim, afetado pela crise da pandemia do coronavírus, visto que tendo virado o ano em R$ 4,00 já atingiu R$ 6,00 e gradualmente vem amenizando o grau de incerteza.
No pico do preço, o BC acabou sinalizando verbalmente “seu poder de fogo” e posteriormente tendo uma intervenção mais incisiva que provocou expressivo recuo do preço até o entorno de R$ 4,80, para depois se situar no intervalo entre R$ 5,25/5,50, com expressiva volatilidade que entendemos decorrente do barateamento do hedge pelo juro e o ingresso massivo de pequenos contratos e novos atores neste mercado.
A volatilidade diária dólar/real chegou a expressivos 30%, fato extremamente danoso aos negócios, e notoriamente decorria da insegurança quanto ao preço da moeda americana que tendo atingido R$ 6,00, ficou com este preço como referência para preocupação.
O preço do câmbio tem se mantido relativamente estável já há algumas semanas, com baixa intervenção do BC que se limita as profiláticas de rolagem de posições vincendas de swaps cambiais e baixíssimo volume de oferta no mercado a vista e até redução do estoque de linhas externas fornecidas aos bancos.
O câmbio perdeu “tensão”, o ambiente se mantém tranquilo, mas a insegurança quanto ao “dólar alto” ficou como uma mácula e com o juro baixo a dinâmica do hedge foi mantido, pois afinal o hedge está barato e não vale a pena correr o risco.
Ocorreu uma queda gradual no volume monetário na medida em que houve um recrudescimento nos haveres e deveres em moeda estrangeira, mas não na quantidade de eventos, e mais recente a curva da volatilidade sinalizou redução, principalmente depois que o BC divulgou o Relatório Trimestral de Inflação ajustando a projeção do déficit em transações correntes no ano de US$ 41,0 Bi para US$ 14,0 Bi, deixando evidente que não haveria em estoque grande demanda no mercado de câmbio e, portanto, sobre o preço da moeda.
O comportamento do CDS Brasil 5 anos evidencia que a volatilidade no conceito risco do país foi bastante mutante. Em 20 de fevereiro apontava excelente 91,8 pontos elevando abruptamente em 19 de março a 374,9 pontos e atualmente se situa em 209,3 pontos.
O IIF (Instituto Internacional de Finanças) estima que o preço do dólar no Brasil, considerando déficit em transações correntes e reservas cambiais, devesse estar em R$ 4,50, mas este preço seguramente conspira contra os interesses do governo que procura restabelecer atratividade ao país com uma taxa cambial (câmbio alto) mais elevada, que consideramos não menor do que R$ 5,00 ou pouco mais para tornar o país “barato” para as privatizações e incentivo em investimentos externos na infraestrutura.
Evidentemente não se pode esperar que a volatilidade caia a 5% como num passado distante, mas pode recuar mais do que os 19% de ontem, assim como o risco país pode recuar até uns 150 pontos no máximo, mas com alguns senões face a existência de pontos relevantes preocupantes no “radar”, como o déficit fiscal e a longevidade e deteriorações como legado da crise da pandemia do coronavírus, assunto inquestionavelmente não resolvido no país e que ainda compromete severamente a retomada da atividade econômica, colocando-a mais na perspectiva de desenvolver-se em “U” do que em “V”.
A priori, a queda do câmbio ontem nos pareceu excessiva tendo em vista que a propositura do governo foi um passo ainda discretíssimo no sentido da reforma tributária. O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional) disse que a mudança proposta é "tímida, decepciona em relação à esperada simplificação e pode gerar aumento da carga tributária" no país.
Pode ser que mixada com as propostas em tramitação no Congresso que são mais abrangentes resulte em algo mais promissor e efetivo.
Por outro lado, persiste a má prática nas posturas de análises e induções do mercado financeiro, que atribuímos ao anseio intenso que acaba por distanciar-se da realidade, visto que fatos positivos que eventualmente ocorrem em regiões econômicas pontuais ou incentivos anunciados visando a recuperação das atividades econômicas destas regiões acabam “contagiando” o sentimento interno como se ocorressem localmente, e perde-se o foco na nossa real situação e os desafios presentes.
Este fato tem sido mais acentuado e merecido análises pontuais de algumas instituições financeiras relevantes e que acaba sinalizando, por exemplo, distanciamento do comportamento da Bovespa da realidade da nossa economia. Muitos entendem que podemos estar convivendo com uma bolha visto que o movimento não é ancorado de forma harmônica.
O Brasil sabidamente não tem atraído recursos externos disponíveis em abundância para a Bovespa, e por razões conhecidas perdeu apelo aos investimentos estrangeiros em renda fixa. Há na atualidade presença massiva de investidores pessoas física oriundas do mercado de renda fixa, e esta pode ser uma base vulnerável, pois este investido é sensível a perdas e se retira.
É preciso empenho para superar o quadro atual, mas sem perder a percepção sobre os nossos efetivos problemas e desafios que são grandiosos e não ainda não há clareza de como poderá ocorrer a superação, visto que o governo tem recursos limitados e grave problema fiscal e o país tem um elevado desemprego com perspectivas de ser aumentado, o que afeta renda e consumo.
O momento requer muita sensatez, não sugerindo otimismos excessivos e nem pessimismo, mas atenção à efetiva realidade.