Existem pessoas que ocupam posições altamente remuneradas na sociedade, mas que gastam tudo o que ganham ou até mais do que ganham. Criou-se, inclusive, um acrônimo para representar os participantes deste grupo: HENRY. Ele vem do inglês “High Earnings Not Rich Yet”, e significa algo como “Altos rendimentos, mas ainda não é rico”.
É muito comum vermos indivíduos que vão subindo nas carreiras, ganhando aumentos, promoções, bônus, mas ao mesmo tempo não conseguem economizar e suas despesas aumentam no mesmo nível. O sujeito leva uma vida de luxos, comprando todos os produtos que deseja, fazendo as melhores viagens, com direito a casa na praia, no campo, carros novos e muitas festas.
Essa equação, de alguma maneira, impede as pessoas de guardarem recursos para o futuro, muitas vivendo a ilusão de que a situação de fartura de hoje se manterá no futuro e sempre (o que já é uma negação da realidade, pois o futuro é incerto). Muitas dessas pessoas não têm nem a reserva de emergência!
Parece existir uma crença de que as carreiras são sempre ascendentes. Que seremos sempre abençoados por desempenhos maravilhosos e ganhos maiores ainda. E se tudo está dando certo, por que não dar tudo de melhor para a família?
Infelizmente, não é assim que acontece na prática. Em algum momento, as carreiras entram em declínio (seja porque ela chega ao fim com a aposentadoria, porque o desempenho diminui ou mesmo porque a exigência aumenta).
No mundo corporativo, só como exemplo, a pirâmide é cruel. Na parte final, lá no cume, só tem lugar para pouquíssimos eleitos. Uma dúzia de ultra executivos que tiveram a fortuna de atingir o ápice da carreira e, com isso, alcançarem um acúmulo de riqueza que vai dar conforto e garantir a manutenção dos luxos.
Cada empresa é diferente, mas digamos que existam 20 cargos de diretores-executivos e vice-presidentes em uma grande corporação, além do grande chefe, o CEO, claro. Abaixo dessa turma, convivem uma centena de outros executivos que brigam para chegar lá. 80% não vão conseguir e vão ficar pelo meio do caminho.
É assim que funciona, darwinismo corporativo, os mais fortes ou mais adaptados sobrevivem. Alguns vão se realocar em outras empresas após a frustração de terem sido preteridos, mas talvez nunca mais voltem a ter a mesma remuneração anterior.
Aqui entra um ponto muito importante da vida financeira que volta e meia esquecemos: A variável que mais dominamos é a coluna das despesas. É aquela parte onde podemos tomar alguma atitude que mude as coisas. Cortar, reduzir, eliminar, esses são os verbos válidos.
O lado dos ganhos e receitas é sempre mais difícil de controlar e de garantir que o que você espera realmente se transforme em realidade. Já vi muito executivo competente que não prestou atenção a isso e hoje tem dificuldades de fechar as contas no fim do mês. Muitos dependem da aposentadoria do INSS.
Veja alguns pontos importantes para não se deixar levar por essa sina – a do Henry:
1. Sempre, sempre, gaste menos do que você ganha
É uma recomendação simples, mas é a mais poderosa que existe. Em muitos casos, as pessoas deixam o tempo ir passando, acreditando que em algum momento vão conseguir fazer isso, e nunca conseguem.
2. Faça um orçamento honesto e, caso tenha família, divida a informação com ela
Faça desse orçamento um objetivo de todos. Sofrer sozinho porque as contas não fecham não é uma boa estratégia. Já se foi o tempo do pai ou mãe super-herói, precisamos de ajuda. Seja sempre brutalmente honesto com sua família sobre isso. Excluindo as crianças que ainda não entendem, é claro.
3. Tenha um orçamento formalizado para seguí-lo à risca
Quanto mais organizado estiver seu processo de administração das contas (receitas e despesas) e investimentos da família, mais fácil será obter a liberdade financeira.
4. Pague a você primeiro
Este é outro conselho já clássico, e deriva da economia comportamental, ciência nova que tem dado contribuições importantes para a melhoria das finanças pessoais. O ato de guardar o valor separado para investimento como primeira ação, assim que receber seus rendimentos, vai te fazer não correr o risco que nós, humanos pobremente racionais, caímos nas tentações alicerçadas pelas ações mercadológicas e que nos atacam todos os dias.
5. Inclua receitas advindas da renda passiva (o mais rápido possível)
Diversificando suas fontes de renda, você deixa de ser totalmente dependente de apenas uma variável. Assim, tem mais autonomia e tranquilidade em tempos de crises.
6. Tenha sempre um plano B
Não podemos nos dar ao luxo de sermos pegos de surpresa pelo acaso. Por inúmeras razões, o imponderável acontece, inclusive nas finanças. Pense em maneiras de se preparar frente a eventos que diminuam o fluxo de uma determinada fonte de renda, a falência de um empreendimento, etc. Ter planos alternativos pode impedir que você tenha que contrair dívidas a juros altos em momentos assim.
Esteja atento a sua vida financeira. Mais que uma boa ideia, é uma obrigação moral, pelo menos com sua família.