Hoje trago à discussão um assunto que todos que estão iniciando nos investimentos devem conhecer, sobretudo aqueles que estão buscando ser adeptos do Investimento em Valor (Value Investing). Trata-se da recompra de ações.
Provavelmente, muitos leitores já ouviram falar do programa de recompra de ações, realizado por companhias. Mas você conhece as vantagens que a recompra proporciona aos investidores?
Eventualmente, uma companhia decidirá comprar de volta algumas de suas ações que são negociadas pelo mercado, isto é o que chamamos de recompra, ou buyback. Trata-se de algo bastante comum e, geralmente, capaz de proporcionar benefícios aos investidores.
Por meio deste procedimento, a empresa pode gerar valor aos seus acionistas, mesmo que não tenha crescido durante um período. Tomemos um exemplo fictício, supondo uma empresa que possua 50 mil ações em circulação, cada uma cotada a R$ 100,00.
Sendo assim, o valor de mercado da companhia seria de R$ 5 milhões, isto é, o preço de cada ação, multiplicado pela quantidade de ações em circulação.
Além disso, no exemplo, cada ação equivale a 0,002% de participação na companhia, ou seja, 100% dividido pela quantidade de ações.
Agora, consideraremos que no último ano a companhia realizou um lucro líquido de R$ 1 milhão. No entanto, a companhia vendeu a mesma quantidade de produtos do que no ano anterior, deixando seus gestores preocupados, pois isso significaria uma taxa de crescimento nula.
Seus executivos decidem, então, tomar alguma atitude para retornar capital para seus acionistas, de modo que optam por utilizar todo o lucro para uma recompra de ações para, em seguida, destruí-las (tirá-las de circulação).
Assim, o lucro é suficiente para comprar 10 mil ações, uma vez que são cotadas a R$ 100,00. Após a recompra, restam 40 mil ações em circulação.
Cabe notar que a recompra, caso seja mantido o mesmo múltiplo preço / lucro de antes, isso não irá alterar o valor de mercado da companhia, de modo que cada ação tenderá a valer R$ 125,00 para que o valor de mercado se mantenha igual a antes do procedimento.
Consequentemente, uma ação agora representa uma participação maior na companhia: 0,0025%.
Assim, a recompra no exemplo proporcionou um aumento de 25% na participação relativa na empresa para seus acionistas.
No entanto, cabe ressaltar que os programas de recompra não são uma boa escolha se a companhia pagar mais do que suas ações valem, pois neste caso haveria destruição de valor, seria como pagar dois reais numa moeda de um real.
Embora a participação dos acionistas aumentasse, no longo prazo eles sentiriam o efeito da destruição de valor. Além disso, se a recompra é massiva, isso pode afetar a liquidez do papel.
Basta lembrar do pensamento de Warren Buffett e Charlie Munger que nos diz que mesmo uma ótima companhia pode dar origem a um mau negócio, caso seu preço esteja acima do que ela realmente vale.
No caso de papéis precificados acima do valor intrínseco, cabe à empresa buscar outros investimentos que tragam melhores retornos, ao invés de realizar uma recompra.
Sendo assim, a recompra é um bom negócio se a companhia julga que seus papéis estão sendo negociados abaixo do valor intrínseco, pois assim estará gerando valor, beneficiando seus investidores.
Ressalto que a recompra não é a confirmação de que seja uma boa empresa, nem de que a empresa esteja barata. Trata-se de um indicador que possibilita identificar potenciais empresas que se encaixam em tais situações.