Recomeça o jogo
Após longos 4 anos, parece que estamos com o ciclo de juros chegando ao fim. Pode ter algum corte ou outro, mas independentemente disso, é impressionante onde chegamos.
Reduzimos a Selic em 1.200 bps neste ciclo iniciado em 2016, o que já é considerado um dos maiores processos de corte de juros da história econômica brasileira.
Alguns possuem saudades do rentismo, com altos retornos e baixos riscos. Outros, saúdam os juros baixos e o futuro da bolsa.
Agora, olhando em retrospectiva, já parou para pensar como a Selic alta mascarava diversos problemas?
Escondia o fato do brasileiro nunca ter aprendido a conviver com a volatilidade dos mercados.
Camuflava, por meio de um CDI alto, como diversos produtos de alguns bancos eram ruins e com altas taxas.
Mas hoje a realidade é outra. Com os juros em 2,25 por cento, finalmente vemos quem de fato está "nadando pelado".
Com uma Selic tão baixa, o brasileiro precisou começar a experimentar outros produtos de investimento (como, por exemplo, investir fora, em bolsa, em fundos etc..)
E, cada vez mais, fica claro que não há mais espaço para produtos com taxas de administração de 3, 4, 5 por cento ao ano.
Entretanto, essa batalha está longe de ter chegado ao seu fim. Ainda temos muitas pessoas investindo a juro negativo no Brasil.
Os juros negativos: a moda global agora também no Brasil
Após a experiência de 2008, os Bancos Centrais mundiais desenvolveram um “kit anti-crise”.
É um coquetel bastante simples, envolvendo uma pitada de juros zero (ou negativos) e uma grande quantidade de compras de ativos nos mercados.
Em 2020, utilizaram novamente esse receituário. Vimos uma grande enxurrada de liquidez. O reflexo disso é que, hoje, 20 por cento dos bonds no mundopossuem rentabilidade negativa.
E, ao que tudo indica, a moda parece ter pegado também no Brasil.
Mesmo com a Selic no campo positivo, definida na última quarta-feira (17) em 2,25 por cento, diversos fundos de renda fixa ainda cobram taxas de administração superiores a isso.
Mais precisamente, até abril deste ano, eram 193 bilhões de reais investidos em produtos que possuíam rentabilidade NOMINAL zero ou negativa — faixa azul clara da tabela abaixo
Se formos considerar os retornos líquidos de imposto, temos 290 bilhões rendendo valores abaixo de 1 por cento ao ano — algo entre 37 e 10 por cento do CDI.
Ou seja, é basicamente zero! Você nem percebe, mas está deixando bastante dinheiro na mesa.
Você precisa mudar isso, urgentemente! Para tanto, busque fundos de taxa zero (há opções no BTG (SA:BPAC11), na PI, na Rico e na Órama).
Agora um aviso: isso não será a salvação completa. Olhando os próximos 12 meses, todos os 2,2 trilhões de reais investidos em renda fixa terão retornos negativos ao descontar a inflação.
A grande questão é tentar perder o mínimo possível. É não deixar tanto dinheiro na mesa à toa.
Por isso que, neste momento, se torna ainda mais importante entrar em fundos que não cobram nada, ou quase nada, para investir.
Até porque, nesse novo mundo, ter dinheiro no CDI é quase pagar um preço por ter caixa.
Ter caixa é pagar um prêmio
Sim, vamos pagar um preço para deixar o dinheiro repousando no conforto do CDI. Isso acontece pois, com a Selic nos níveis atuais, o retorno descontado a inflação é negativo.
Em outras palavras, é como se o dinheiro "queimasse na mão". A cada dia que ele fica parado, perde um pouco mais do seu poder de compra.
De certa forma, na lógica geral, é parecido com investir em opções. Aqui o investidor paga um prêmio pelo direito de ter liquidez sem a marcação a mercado — podendo, assim, resgatar no momento que achar adequado.
É óbvio, diferentemente das opções, esse dinheiro nunca saiu da sua conta, mas ele está perdendo valor parado ali.
No mundo desenvolvido funciona exatamente assim há anos. Resta a você, então, se acostumar e tentar pagar o menor pedágio possível.
Mas, por favor, não invente ideias malucas. Foque suas energias no lugar certo.
Foque suas energias no lugar certo
Sejamos bem diretos: gestão de caixa não vai lhe deixar rico. Investir para receber 110 ou 120 do CDI, não vai lhe trazer grandes benefícios.
Ao fazer isso, estará recebendo algo como +0,20 a +0,50 por cento ao ano — o que não fará a menor diferença.
Na minha visão, o que pode turbinar seus resultados são duas coisas: (i) alocar risco no lugares certos e (ii) escolher bons gestores para tocar esse dinheiro.
Então, antes de mais nada, foque suas energias nos lugares certos. Corra risco em multimercados e fundos de ações, onde as assimetrias estão ao seu favor.
E o caixa? Bom, deixe ele em um fundo Tesouro Selic Simples com taxa zero. Aqui estão quatro opções que você pode utilizar:
É o melhor que você pode fazer. Com essa distribuição, você conseguirá ter uma carteira melhor e mais rentável.
Por fim, mas não menos importante, escolha bons gestores para cada classe. Isso, sim, terá impactos gigantescos na sua carteira.
Um abraço.