Semana passada peguei um táxi com um dos taxistas mais simpáticos que já conheci. Senhor Luiz, nos seus 70 e poucos anos, esbanjava disposição e profissionalismo na condução do automóvel. Com o trânsito costumeiro de São Paulo, pegar uma corrida com um taxista gente boa é sempre uma oportunidade antropológica.
- Sr. Luiz, há quanto tempo está no táxi?
- “Desde 2001, passa rápido viu?”
- E antes, onde o Sr. trabalhou?
- “Em padaria, a vida inteira em padaria. Primeiro como empregado, depois eu e meus irmãos montamos uma nossa. Era muito trabalho viu, não tinha hora, mas o dinheiro era bom.”
- E depois, o que aconteceu? A padaria fechou?
- “Sim, a padaria quebrou. Essa história de fornecedor é complicada viu... você compra em um dia, só chega depois de uma semana. A padaria fica sem estoque. Nessa época era diferente, acabava o leite, e pronto, não tinha mais. Hoje isso não existe mais.”
- Então depois que a padaria fechou o Sr. foi para o táxi?
- “Não imediatamente. Eu fui para o táxi porque minha esposa já não me aguentava mais dentro de casa o dia todo ... Sabe, eu guardei um bom dinheiro nos tempos da padaria. Desde quando eu era empregado, eu guardava uma boa parte. Quando eu comecei a padaria com meus irmãos e o dinheiro começou a vir mais gordo, eu cheguei a guardar mais da metade do que eu ganhava todos os meses.”
- Que beleza hein Sr. Luiz, eu trabalho com educação financeira, fico feliz em ouvir a sua história.
- “Pois é meu jovem, eu sempre tive essa ideia de guardar dinheiro, a gente não sabe o dia de amanhã, né? Meus irmãos não guardavam, hoje estão aí em uma “pindaíba” danada. Eu comprei esse Corolla aqui e fico passeando pela cidade e conversando com as pessoas, ainda recebo um bom trocado.”
- Mas o Sr. então não precisaria trabalhar?
- “Se eu quisesse meu filho, ficava em casa. Mas sabe como é, tem que preservar o casamento, tem que ter uma atividade também né, senão a gente enlouquece. Mas eu graças a Deus hoje consigo fazer minhas viagens para a praia, comprei meu sítio e vou com meus netos todos os finais de semana, tudo graças ao dinheiro que sempre guardei.”
A conversa com o taxista me inspirou a escrever esse texto e trazer um assunto que ainda é pouco falado aqui no Brasil. A cultura do planejamento financeiro ainda está distante da esmagadora maioria das pessoas.
O que você se imagina fazendo daqui a 10 anos? E daqui a 20 anos, como será a sua vida? Financeiramente falando, você se vê melhor ou pior?
Provavelmente você se vê melhor, mas o que de fato você está fazendo para esse futuro financeiro melhor? Trabalhando muito e escalando os degraus da vida corporativa? Por mais bem qualificado(a) e experiente que você seja, depender de um emprego não é uma estratégia muito sólida, financeiramente falando.
Se você não tem um plano, não se sinta só. Segundo pesquisa realizada pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), apenas 21% dos brasileiros dizem planejar o futuro no longo prazo.
Nessa pesquisa foi identificado que apenas 1 em cada 10 pessoas pretendem viver no futuro com o dinheiro dos seus investimentos. Cerca de 6% contam com o retorno de um plano de previdência privada, cerca de 4% pretendem viver dos aluguéis de imóveis que possuem.
Essa é a expectativa das pessoas, a realidade é ainda pior. Hoje no Brasil temos cerca de 90% das pessoas dependendo exclusivamente da previdência pública para viver. Somente 6 em cada 100 pessoas são sustentadas pela previdência privada e menos de 1% vivem do dinheiro aplicado em produtos financeiros!
Bom, se você acredita que sua vida será melhor no futuro e não está hoje se preparando para isso e se você quer ser parte dos 90% dos que dependem da Previdência Pública, guarde esse número: 6 mil reais e alguns quebrados. Sim, o teto do INSS atualmente está em R$6.433,71.
Bom, isso se você contribuir com o teto pelo tempo máximo, 40 anos para homens e 35 para mulheres. Sabemos que 6 mil reais é uma renda altíssima para a maioria das famílias brasileiras. Mas se você hoje tem uma renda maior do que essa e quer ter uma aposentadoria ainda maior, não será via INSS.
Na mesma pesquisa da ANBIMA foi identificado que 72% dos brasileiros acreditam que terão um padrão de vida maior na aposentadoria do que agora. Na prática, apenas 34% das pessoas aposentadas disseram que o seu padrão de vida melhorou depois da aposentadoria.
Independentemente das suas expectativas para os próximos anos, aprender a poupar parte da sua renda e investir é essencial. Idealmente, se você construir a partir de hoje essa reserva, poderá trabalhar apenas por opção, não por necessidade.
Você não quer precisar trabalhar para viver, até morrer. Então, comece a investir! Encontre sua maneira, desenvolva a sua disciplina e leve isso a sério. Se lembre, quando achar uma bobagem aprender sobre educação financeira, que você não quer trabalhar até morrer. Quando você for comprar algo completamente desnecessário, quando você ficar com medo de te chamarem de “mão de vaca", lembre- se que você não quer trabalhar até morrer.