Em 1930, bebendo vinho, mergulhado em uma Grande Depressão mundial, John Maynard Keynes constatou claramente:
"Os mercados podem se manter irracionais por mais tempo do que você é capaz de se manter solvente".
Dizem que a atual crise do corona só tem paralelos com o Crash de 1929, e olhe lá.
Então, mesmo sob o risco de desvirtuar as aspas de um morto (os mortos não podem se defender), arrisco-me a intuir que Lord Keynes constataria o mesmo sob o estado atual das coisas.
A real encenação do script de que um mercado irracional produz inúmeras oportunidades de arbitragem é absolutamente não trivial, embora seja tomada como dada pela nata do value investing.
O mercado é infinitamente maior do que cada um de nós, investidores. Maior em tempo, maior em espaço, maior em densidade e em dimensionalidade.
Não há garantia alguma de que seremos capazes de cavar aqui um de seus buracos fundos e sair mais ricos por um de seus vulcões em erupção no Japão. A maioria se perde no escuro, enlouquece, fica sem gasolina com o barril a US$ 20.
Mas Keynes foi capaz naquela vez. Preservando sua lucidez, percebeu que não basta estar certo.
Não basta ir até a lousa, deduzir equações, provar teorema, quod erat demonstrandum.
O mundo pode continuar errado por muito tempo ainda que você, um pedacinho ínfimo do mundo, esteja corretíssimo em suas premissas e argumentos.
Aceite o fato. Coloque-se no seu indevido lugar.
Existem condições materiais bem definidas para que a arbitragem de um drawdown seja efetivamente aproveitada. Elas remetem à solvência, à liquidez e à sanidade mantidas por tempo INDETERMINADO.
Por isso, pregamos aqui na Empiricus — mil vezes, se for preciso — que nada é mais importante do que sobreviver. Manter-se são por fora e sagrado por dentro.
O investidor que sobrevive tem uma chance de ver o mercado acordar racional amanhã.
Chove demais, acho que para de chover uma hora, o sol nasce enfim, e o Keynes investidor se encontra com o Keynes economista em meio a uma aglomeração de indivíduos sem máscaras.
A visão keynesiana tem menos a ver com ideologia, intervencionismo e mais a ver com a capacidade rara de uma sociedade intertemporal (avós, mães, filhas, netas, bisnetas…) ter a solvência, liquidez e a sanidade necessárias para cavar um buraco hoje e tapar um buraco amanhã.
Ainda que não seja exatamente o mesmo buraco.