Por muitos momentos, escuto (ou leio) de economistas da academia um olhar meio viesado, de desprezo até, sobre a atuação dos profissionais do mercado financeiro. Muitos dizem, inclusive, que estes só visam ganhar dinheiro, só rentabilizar seus fundos e produtos financeiros. São como "tubarões" só visando o ganho imediato, sem atuação intelectual mais aprofundada.
Na opinião deles, são os economistas de repartições públicas, das universidades, os que realmente atuam aplicando seus conhecimentos acumulados nos bancos das universidades, não se desviando da função profícua da profissão.
Tolices, tolices, tolices. Aliás, como existe vaidade neste ambiente? O economista atua em várias frentes, nas empresas privadas, em áreas de análise, planejamento, custos, avaliação de projetos; nas empresas públicas, mais em grandes projetos de longo prazo, formulação, planejamento, mas também análises de empresas, de investimentos, e também no mercado financeiro. Me atrevo até a dizer que neste ambiente o economista se realiza bastante e aplica seus conhecimentos acadêmicos.
De primeira, é preciso dizer que os economistas do mercado financeiro não são muito diversos dos da academia, das universidades, dos centros de pesquisa. Não há nada muito excludente em ambas as atuações. Talvez o timing de atuação seja diferente, os do mercado mais pragmáticos e rápidos nas análises e avaliações, os acadêmicos, mais lentos e eruditos na abordagem de temas.
No mercado financeiro, estes profissionais são obrigados a se certificarem para poder atuar nas tomadas de decisão. São variadas as certificações, como CEA, CFA, CFP, CNPI, e por aí vai. Sim, porque predomina neste mercado a chamada "auto-regulação". Como as agências de regulação, Apimec, ANBIMA e até CVM não possuem capilaridade suficiente, usam como pré-condição para um profissional atuar no mercado a necessidade de certificação. E estas não são nada fáceis de serem obtidas. Muitos consideram, inclusive, a Chartered Financial Analyst (CFA) a mais difícil por este profissional atuar em instituições financeiras globais, equivalendo à cursos de pós-graduação nas melhores escolas de finanças e economia do mundo.
Sendo assim, os profissionais de mercado financeiro, muitos economistas, outros engenheiros, administradores, físicos, matemáticos, são altamente qualificados e só assim, com muito estudo, construção de modelos, e acompanhamento estreito, conseguem sobreviver neste ambiente. Há de considerar também que muitos destes profissionais administram grande montante de recursos de terceiros, o que aumenta ainda mais sua responsabilidade. Assim sendo, acabam se tornando meio que uma "bússola" para os investidores, aumentando o peso e a responsabilidade nas decisões, alocações e estratégias a serem seguidas. Por isso, prezam por um mercado mais previsível, embora isso se torne, muitas vezes, algo difícil. Talvez em momentos de calmaria, com a economia (local ou global), em "velocidade de cruzeiro", sem solavancos, como pandemias, ataques terroristas, escorregadas populistas, crises cambiais ou de crédito, entre outras. Mas este cenário pode ser considerado "um sonho numa noite de verão". Algo muito difícil nos dias de hoje, tal a velocidade dos acontecimentos.
O economista de mercado é antes de tudo um pragmático, deve atuar sempre atento, não perdendo o timing dos eventos, até porque só assim é possível se antecipar e angariar ganhos ou evitar perdas. Seu grau de conhecimento é o que lhe diferencia dos outros. Um economista-chefe de uma Consultoria, banco, corretora, enfim, precisa de excelência acadêmica, muitos, em alguns casos egressos de importantes cargos no setor público, e sua formação acadêmica também é um "selo de qualidade". Podemos destacar também que os economistas de mercado podem atuar como assessores de investimento, analistas, de empresas, de renda variável, ou de renda fixa, na retaguarda das instituições financeiras, orientando os clientes, ou formulando estratégias e cenários futuros.
Na academia, ao contrário, o ritmo de produção é outro, em outra patamar, mais erudita, mais restrita a um ambiente de discussões e debates acadêmicos intermináveis. A excelência acadêmica também é um diferencial, mas não acredito, em termos de qualidade, que estes sejam mais preparados do que os do mercado, São apenas esferas de atuação distinta, mas não menos ou mais nobres. Muitas vezes, um economista acadêmico, ao se confrontar à um ambiente frenético de uma corretora, um banco de investimento, acaba revendo muitos dos seus preconceitos e avaliações viesadas. Acho, inclusive, saudável, que isso acontecesse. As avaliações viesadas, muitas vezes, partem do desconhecimento.
Vamos conversando.