Naturalmente, é inquestionável que a aprovação da Reforma da Previdência, seja seu resultado R$ 750,0 Bi ou US$ 1,0 Tri, é um fato relevante e da mais alta importância, aliviando as pressões presentes sobre expectativas preocupantes decorrentes da crise fiscal e provendo alívio à mesma ao longo dos próximos 10 anos.
Contudo, há divergências presentes quanto às perspectivas de curto prazo para o Brasil, e isto se revela na disparidade de projeções, em especial em torno do PIB para 2019 e atividade econômica para o 2º semestre, e que confrontam as expectativas.
A Reforma da Previdência é considerada pela comunidade financeira como a determinante inicial para a retomada da atividade econômica do país que, contudo, sabidamente deverá ser promovida pelos investimentos privados, já que a Reforma não proverá o governo de capacidade financeira para investimentos, mas tão somente promoverá a contenção dos dispêndios para os quais não teria condições de adimplência.
Há uma euforia imediata puramente emocional neste momento.
A Bovespa sinalizou tendência de alta com posterior volatilidade e aparentemente sem sustentabilidade, movida por investidores internos, sendo notório que o investidor estrangeiro é mais pragmático e está esperando reflexos mais concretos decorrentes da Reforma. Mas ocorrem projeções exacerbadas, mas que dependem de fundamentos sustentáveis neste momento de projeção de economia estagnada para o 2º semestre.
O dólar perdeu força frente ao real, num ambiente em que o país tem fluxo cambial negativo e as perspectivas de reversão desta situação não são de grande convicção, o que tem, portanto, muito mais de emocional do que de racional, havendo ainda o risco de qualquer movimento de aversão impactar na demanda e no custo do cupom cambial, podendo até ocorrer a necessidade do BC vir a realizar oferta de moeda efetiva ao mercado a vista.
E, o BC reduz a projeção do PIB para este ano de 2,2% para 0,82%; o governo de 1,6% para 0,81%; o Boletim FOCUS de 0,82% para 0,81%!
Além disto, a previsão para a atividade econômica do próprio governo, via COPOM, para o 2º semestre é de estagnação.
Por outro lado, é sabido que a capacidade ociosa do setor produtivo é elevada, o que não sugere investimentos no curto prazo até que seja exaurida e haja convicção sobre a retomada da atividade econômica e o país registra expressivo e preocupante nível de desemprego, o que contém a renda e o consumo.
Há, portanto, contradições no entorno da relação causa-efeitos da Reforma da Previdência aprovada, pois nem governo e nem mercado sancionaram melhora nas suas projeções face à aprovação, muito pelo contrário, e então por que ocorre o conflito de “falas” otimistas e “projeções” pessimistas?
Está efetivamente faltando coerência no comportamento dos segmentos do mercado e sinergia entre os fatos, e isto compromete as projeções de curto prazo.
Nestas circunstâncias, parece normal a ocorrência de volatilidade.
No nosso entender, a redução da projeção de redução do PIB do BC, de 2,2% para 0,82%, e do próprio governo, de 1,6% para 0,81%, é a evidência do descrédito sobre os efeitos positivos e imediatos sobre as perspectivas da Reforma, portanto, muito severa/negativa.
Ao governo como um todo deveria propagar o estímulo ao otimismo, para que seja coerente a sua afirmação antecedente de que caberia ao setor privado os investimentos para dinamizar a retomada do desenvolvimento e atividade econômica.
Desta forma, fica bastante nebulosa a perspectiva de curto prazo, 2º semestre, e o Brasil pode não ter o fluxo de investimentos externos esperados, pois, pragmáticos, os investidores estrangeiros podem continuar retraídos movidos pelos prognósticos governamentais.
Ressalta então, que a FGV está sendo absolutamente coerente ao projetar o PIB para o 2º semestre em 1,2%, já que é bastante improvável que a Reforma da Previdência não altere de forma concreta as perspectivas, se bem que as projeções governamentais têm um peso concreto maior.
Enfim, por enquanto, acreditamos que a volatilidade deverá persistir.