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Visita do Premiê do Japão ao Irã Pode Surpreender o Mundo Antes da Reunião da Opep

Publicado 12.06.2019, 08:40
Atualizado 02.09.2020, 03:05
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Da terra do sol nascente vem a nova esperança do Irã. E possivelmente o pesadelo da Opep no curto prazo.

Enquanto o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, e seu eminente ministro da energia, Khalid al-Falih, estão em uma fascinante ofensiva para convencer o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que serão necessários mais cortes de Moscou para salvar os preços do petróleo de um colapso, o Irã está estendendo o tapete para receber um convidado igualmente importante.

Primeiro Ministro do Japão visitará o Irã para selar a paz por Trump

O primeiro ministro japonês, Shinzo Abe, estará em Teerã a partir de hoje até sexta-feira para tratativas com o presidente Hassan Rouhani, antes de se encontrar com o líder supremo do país, o aiatolá Seyyed Ali Khamenei. Como primeiro premiê japonês a pisar em solo iraniano desde a Revolução Islâmica de 1979, a visita de Abe será histórica mesmo sem o que ele espera atingir: selar a paz entre Teerã e Washington.

O ex-diplomata iraniano Jalal Sadatian, ao comentar sobre a visita de Abe em uma entrevista ao site Iranian Diplomacy, deixou claro que o premiê japonês não estava na cidade para preparar um novo acordo nuclear mundial que pudesse restabelecer as relações entre os governos de Rouhani e Trump.

Segundo Sadatian:

“Iraque, Kuwait, Omã, Suíça e Japão não estão levando o Irã e os EUA para a mesa de negociações na expectativa de um resultado similar ao do período Obama.”

Ele estava se referindo ao Plano Global de Ação Conjunta, acordo emblemático de Obama com o Irã, que Trump rasgou logo após assumir o cargo, chamando-o de “um acordo horrível, que beneficia apenas um lado e que nunca deveria ter sido feito”.

Além do Japão, os outros países mencionados por Sadatian tentaram ajudar a restaurar as relações entre Teerã e Washington, que atingiram seu pior nível em quatro décadas depois que Trump cancelou o acordo nuclear da era Obama em maio de 2018 e impôs sanções às exportações petrolíferas iranianas. Paralelamente, o Ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, também está no Irã para tentar salvar o acordo nuclear original de 2015.

Sadatian afirmou que Abe tentaria aliviar as repercussões da crise EUA-Irã que estavam sendo sentidas em todo o mundo. As tensões geopolíticas se acirraram no Oriente Médio no mês passado, devido ao fato de os EUA terem reforçado sua presença militar no Golfo Pérsico, antecipando-se ao que disseram se tratar de um possível ataque iraniano. O Pentágono também acusou a Guarda Revolucionária Iraniana de sabotar quatro petroleiros no Golfo no fim de maio. O Irã tem negado ambas as acusações.

Entre os efeitos das tensões entre EUA e Irã está o impacto nos preços do petróleo, que pode estar mais alto do que o desejado em razão desse enfrentamento.

Gráfico Diário WTI - Powered by TradingView

As exportações petrolíferas iranianas estão cerca de um milhão de barris abaixo da capacidade por causa do embargo norte-americano. O governo Trump também aplicou sanções às remessas de petróleo da Venezuela, em uma tentativa de forçar uma mudança de liderança em Caracas. Essas ações foram favoráveis à Opep, principalmente à líder de fato do cartel, a Arábia Saudita, que simultaneamente cortou a produção com a Rússia para provocar um rali de 40% no petróleo até abril, depois de um crash nos preços de proporções similares no quarto trimestre de 2018. A disparada arrefeceu desde então, e os sauditas precisam da ajuda russa para embarcar em uma nova rodada de cortes até o fim do ano.

Mesmo antes de Moscou tornar pública sua decisão em uma reunião da Opep prevista para daqui a duas semanas – ou mais tarde, dependendo da vontade dos russos – há um sentimento crescente de que EUA e Irã possam anunciar a abertura de negociações nucleares, para a surpresa do mundo.

Poucas coisas poderiam ser mais baixistas para o petróleo se isso acontecer. Há boas possibilidades para que essas tratativas ocorram, em razão das dificuldades econômicas enfrentadas pelo Irã por causa das sanções de Trump e da necessidade de o presidente norte-americano proclamar vitória por um acordo depois da sua incapacidade de resolver a guerra comercial com a China.

Trump disposto a garantir que o petróleo não dispare demais

Há outra razão por que Trump estaria disposto a iniciar conversações com o Irã: garantir que os preços do petróleo não subam tanto quanto em abril, o que fez com que os valores nas bombas americanas também subissem, já que isso poderia prejudicar sua campanha de reeleição no ano que vem. Os futuros de petróleo atingiram as máximas de 2019 no mês passado, com o West Texas Intermediate alcançando US$ 66,60 por barril e o Brent, US$ 75,60. Trump já deixou claro, em diversos tuítes, que não gosta da Opep nem do seu estilo de gestão dos preços do petróleo através de cortes de oferta.

A visita de Trump a Tóquio aumentou ainda mais as especulações de que o presidente norte-americano poderia fechar um acordo com Teerã, já que Abe se ofereceu para mediar a crise pessoalmente. Trump chegou até a sugerir, naquele momento, que os iranianos estariam dispostos a conversar, o que foi rechaçado pelo governo Rouhani logo em seguida.

Mas a presença de Abe em Teerã pode fazê-los mudar de ideia.

Sadation reconheceu isso em sua entrevista ao site Iranian Diplomacy, embora tenha reduzido a importância do papel do premiê japonês como adido de Trump.

O ex-diplomata afirmou que, "embora essa posição da Casa Branca não seja confiável", a presença de Abe “pode ser um sinal de atmosfera positiva [...], capaz de pelo menos atenuar as tensões”.

O suplente do Ministro de Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, e um parlamentar de Teerã, Mohammad Hossein Farhangi, concordaram em declarações separadas.

Araqchi afirmou em uma entrevista à NHK:

“O Japão pode conseguir fazer com que os americanos compreendam a situação atual."

Farhangi complementou:

“Em vista da retirada de autoridades americanas, o primeiro ministro japonês pode transmitir uma nova mensagem em seu nome, porque são os americanos que precisam agir de boa-fé”.

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