Após abrir exatamente acima da região de maior volume acumulado da última sexta-feira (27), o dólar voltou a subir na no pregão dessa segunda-feira (30), fechando a R$5.196,5 e preparando o terreno para uma possível retomada da tendência de alta após curto movimento de consolidação ao longo da semana passada. Resumidamente, esta análise se embasa no estudo do dperfil de volume negociado entre os dias 03 e 30 de março, com auxílio de alguns indicadores técnicos; foram considerados três tempos gráficos: diário (longo prazo), 60 minutos (prazo médio) e 15 minutos (prazo curto).
A conclusão aqui traçada é que frente a essa leitura, o preço tende a não ultrapassar a mínima de R$5.140 ou, mais provavelmente, R$5.160, ambas testadas na sessão de hoje (como mostrarei a seguir). Por outro lado, salvo intervenção do Banco Central ou mudança significativa de fundamentos, podemos vir a observar um novo teste da máxima histórica nominal, em R$5.260. Num eventual rompimento, não seria estranho ver o preço buscar as regiões de R$5.30, R$5.35 ou, na pior das hipóteses, R$5.40, tendo em vista o alto grau de volatilidade gerado pela crise do coronavirus. Uma discussão breve sobre os indicadores utilizados está disponível ao fim do texto.
De início, tomemos o gráfico diário do minicontrato futuro de dólar (WDO), onde prontamente observamos o alinhamento das três médias móveis exponenciais (34, 144, 610) com o preço acima da média mais curta, confirmando o viés de alta. Nosso canal de Donchian (em azul) mostra uma capacidade consistente do preço de romper máximas anteriores e praticamente sem testar a linha em preto, que mostra a média entre as máximas e mínimas dos últimos 20 períodos – tradicionalmente, essa linha é usada para determinar gatilhos de saída ou perda máxima. Tanto o Money Flow Index (MFI) quanto o Relative Strength Index (RSI) – conhecido no Brasil como Índice de Força Relativa (IFR) – mostram forte movimentação de alta com um possível fundo divergente nas sessões de quarta (25) e quinta (26).
Objetivamente, todos esses sinais fortalecem a tese de uma continuidade da movimentação de alta ao longo desta semana, mas gostaria de me deter principalmente no volume de negociação, que oferece uma visão mais confiável a respeito de possíveis zonas relevantes para acúmulo de novas posições. Fica claro, do início de março até o presente momento, que a negociação se concentrou inicialmente nas regiões entre R$4.30 (volume máximo no período), como podemos observar na base do perfil de volume. Desse ponto, o preço rapidamente se moveu para a região de R$4.40 a R$4.50, firmando nova zona de consolidação entre R$4.63 e R$4.70, onde se encontram a mediana (R$4.65) e VWAP (R$4.68) do período em questão.
Isso finalmente nos traz a região atual de negociação, efetivamente instaurada a partir do dia 16 de março e que concentra a maior parte do volume de negociação desse mês. Ao contrário dos picos mais estreitos e compridos, o volume aqui se distribui numa forma mais típica da consolidação, com corpo mais robusto. A quantidade de negócios fechados aqui pode ser indicativa de uma resistência bem mais forte em relação aos preços abaixo de R$5.00 e particularmente abaixo de R$5.07, região de maior concentração de volume.
Em geral, formações de volume semelhantes a essa sugerem um processo de acumulação de contratos, etapa que antecede e permite a movimentação rápida até a próxima região de negociação (mais acima), onde lucros são parcialmente realizados. Basta observar, nesse caso, que o volume registrado nas movimentações (“pernadas”) é pequeno quando comparado ao movimento de consolidação ou lateralização – fenômeno descrito por autores clássicos, como Wyckoff e Dow, já no início do século XX.
Tomando como referência o gráfico de 60 minutos, não só podemos notar que os parâmetros técnicos se mantêm – a exemplo divergências nos fundos registrados pelo MFI e RSI – como também fica um pouco mais claro que a região próxima aos R$5.10 se mostra relevante. É tanto o ponto em que se encontra a média móvel exponencial 34, quanto a média das máximas-mínimas do Canal de Donchian, além claro de uma zona de alta concentração de volume. Que, é bom notar, foi mais uma vez testada na sessão desta segunda-feira (30) e confirmada como relevante, conforme mostra o candle de força impresso logo em seguida.
A depender do preço de abertura, uma nova descida a essa zona de negociação pode se mostrar uma boa oportunidade para compra, caso possa-se arcar com o risco relativamente dilatado, em conformidade com a volatilidade do mercado atual. Entretanto, para compras a curto prazo, é interessante notar a movimentação do gráfico de 15 minutos, que traz nesse caso o perfil de volume por sessão e não por período acumulado. Como podemos observar na base do gráfico de segunda-feira (30), houve rápida acumulação (aprox. 30 minutos) antes do preço se deslocar para a região que vai de aproximadamente R$5.140 a R$5.175, ao qual retraiu antes de formar uma última pernada de alta com concentração de volume entre R$5.160 e R$5.175.
Mais uma vez, esses pontos coincidem com a média exponencial de 34 períodos e a média de máxima-mínima de vinte períodos, que forma a linha central do Canal de Donchian. Sendo essa a zona de maior negociação do dia, é particularmente interessante observar o comportamento do preço caso interaja com ela. Numa eventual retomada de tendência de alta, o preço pode por exemplo abrir com “gap” (diferença entre o fechamento e abertura) de alta, em seguida buscando essa região, no qual o preço pode ser considerado “barato”, para depois de consolidado, buscar novos patamares.
Sobre as ferramentas técnicas
Os recursos técnicos utilizados para essa análise são relativamente simples. Utilizou-se um conjunto de médias móveis exponenciais, que mostram a posição do preço em relação a fechamentos anteriores. Em outras palavras: se o preço está acima ou abaixo de uma média específica, por exemplo X dias ou horas ou períodos, de cinco ou quinze minutos, digamos. No caso, foram usadas as médias sugeridas pelo trader Bo Williams, baseadas na razão áurea (Phi) e que formam a base de seu sistema autoral (PhiCube).
O Canal de Donchian é simplesmente uma marcação das últimas vinte máximas e mínimas, com uma linha central que representa o ponto médio entre esses dois valores. Em geral, um rompimento de uma máxima ou mínima (a depender da tendência) relativamente longa funciona como gatilho para entrada – uma vez que, em tese, o preço está saindo de uma região de consolidação para entrar em movimentação de tendência.
O Money Flow Index (MFI) é um indicador que calcula a movimentação de preço ponderada pelo volume, de modo a mostrar possíveis divergências (discrepâncias): por exemplo, caso o preço imprima uma nova alta ao passo que o MFI faz o oposto, temos uma divergência que pode indicar falta de volume – participação de grandes agentes – no movimento, o que sugere fraqueza. O RSI cumpre basicamente a mesma função, mas sem levar em consideração o volume negociado, o que permite relativizar o impacto exercido por esse último. O último indicador utilizado é o Average True Range (ATR), um medidor de volatilidade (grau de oscilação) dos preços.
Gráficos
Sobre o autor: André Salmerón é jornalista, trader e pesquisador na área de análise do discurso, com ênfase em cultura e economia. Contato: afsalmeron@gmail.com