A véspera do fim de semana prolongado no Brasil, por causa do feriado na próxima segunda-feira, tem tudo para ser um dia calmo no mercado financeiro, tal qual visto ontem. Sem novidades no front fiscal nem burburinho vindo de Brasília, o Ibovespa conseguiu subir mais de 2%, o dólar veio abaixo de R$ 5,60 e os juros futuros caíram firme.
E essa quietude política pode durar até depois das eleições municipais, em novembro, esticando o alívio técnico dos ativos locais. Mas enquanto a discussão em torno do Renda Cidadã e o “teto dos gastos” não mudar, qualquer melhora por aqui tende a ser mais pontual do que sustentável, em um típico rali do mercado de baixa (bear market rally).
Afinal, o risco fiscal segue crescente e ainda não se sabe como o novo programa social será bancado. Após a contabilidade criativa ter sido descartada, nem o governo nem a equipe econômica conseguiram apresentar uma fórmula sem pedaladas fiscais, adiando o prazo do anúncio para quando Deus quiser.
Apesar das especulações e desconfianças diante da rápida piora do quadro das contas públicas, os investidores podem até continuar sendo compelidos a assumir algum risco, mas a instabilidade tende a continuar. E o que deve definir o rumo do dia é a agenda econômica, que traz dados de inflação, mas sem descuidar do cenário externo.
Exterior em banho-maria
Lá fora, os investidores continuando ponderando as chances de um novo pacote fiscal nos Estados Unidos antes das eleições em 3 de novembro, apesar dos sinais confusos vindos de Washington. Medidas adicionais de estímulo são vistas como fundamentais para encorajar a recuperação econômica norte-americana, ainda afetada pela pandemia.
Por isso, as esperanças seguem vivas, o que sustenta os índices futuros das bolsas de Nova York em alta. Ainda assim, os ganhos são limitados e não empolgam tanto o pregão europeu. Na Ásia, prevaleceu o sinal negativo, com leves perdas em Hong Kong (-0,3%) e em Tóquio (-0,1%), enquanto Xangai voltou do longo feriado no azul (+1,7%).
O índice dos gerentes de compras (PMI) do setor de serviços na China, calculado pelo Caixin, subiu a 54,8 em setembro, de 54 em agosto, impulsionado pela forte demanda doméstica. Foi o quinto mês seguido que o indicador permaneceu acima da linha divisória de 50, que indica expansão da atividade, e também a maior alta em três meses.
Os números sugerem sinais de aceleração da recuperação econômica chinesa pós-coronavírus no terceiro trimestre deste ano. É válido lembrar que a China está um trimestre à frente em relação ao mundo no ciclo pandêmico de retomada, uma vez que o surto de covid-19 ocorreu logo no início do ano.
Mas a doença por lá permanece sob notável controle, com medidas eficazes de combate à disseminação, isolando áreas onde há infecção e promovendo testagem em massa. Ontem, a parte continental do país asiático ultrapassou a marca de 50 dias consecutivos sem casos locais de transmissão do vírus.
Nos demais mercados, o petróleo cai, mas o preço do barril consegue se sustentar acima da faixa de US$ 40, ao passo que o dólar perde terreno para as moedas rivais.
Agenda cheia no Brasil
A agenda econômica desta sexta-feira traz como destaque as publicações no Brasil, antes do fim de semana prolongado pelo feriado na próxima segunda-feira. Às 8h, sai a primeira prévia deste mês do IGP-M, que deve seguir “salgado”, ainda que em ligeira desaceleração. Depois, às 9h, é a vez do índice oficial de preços ao consumidor brasileiro.
A expectativa é de aceleração do IPCA, para 0,50% em setembro, mais que o dobro da alta apurada em agosto. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses deve ficar dentro do intervalo de tolerância perseguido pelo Banco Central, entre 2,50% e 5,50%, pela primeira vez após cinco meses consecutivos abaixo do limite inferior.
Já no exterior, o calendário traz apenas os estoques no atacado nos EUA em agosto (11h).