O feriado da Sexta-feira Santa amanhã em várias partes do mundo encerra a semana de negócios hoje, mas isso não significa que também irá interromper o rali de três dias no mercado financeiro global. Afinal, os ativos de risco registram ganhos firmes desde segunda-feira, apesar do fato de que nem os dados econômicos nem os números sobre a pandemia de coronavírus começaram a revelar a enorme crise econômica em que o mundo está mergulhado desde o início do Carnaval nem quanto tempo a atividade irá levar para acelerar novamente quando tudo isso acabar. Ainda assim, os investidores se antecipam.
Ontem, os ativos de risco marcaram um terceiro dia de alívio, com os investidores confiantes de que os piores momentos da crise do coronavírus no mundo já passaram. Aqui no Brasil, ainda que os números da doença sigam em trajetória de alta, os mercados domésticos pegaram carona nesse otimismo externo.
O Ibovespa encostou-se à faixa dos 80 mil pontos, no maior nível em quase um mês, ao passo que o dólar caiu abaixo de R$ 5,15, na terceira queda seguida. Mas as notícias locais sobre a pandemia não são nada tranquilizadoras. Em apenas 24 horas, o número de mortes pela doença subiu em mais de 130, para 800, e os casos confirmados saltaram em 2 mil.
Com isso, o Brasil já registra quase 16 mil infectados, figurando na lista dos 15 países com mais registros de coronavírus no mundo. E sabe-se que esses números oficiais refletem apenas uma parcela ínfima da realidade da doença no país, em meio aos relatos de elevada subnotificação no anúncio de novos casos e de óbitos por covid-19.
Mr. Magoo
Portanto, a visão do mercado financeiro de que a pandemia está ficando para trás parece ser míope, distorcendo o horizonte à frente - e não apenas em relação ao Brasil. Afinal, levou-se menos de uma semana para um aumento de 500 mil casos confirmados de coronavírus no mundo, totalizando a marca sombria de 1,5 milhão e quase 90 mil mortes.
Só o estado de Nova York tem mais casos confirmados do que qualquer país do mundo. Aliás, os Estado Unidos registraram ontem mais de 2 mil mortes em decorrência do coronavírus, caminhando a passos largos para assumir o segundo lugar hoje da Espanha em número de mortos pela doença no mundo - ficando atrás apenas da Itália.
Ainda assim, os investidores se apoiam em uma potencial reversão antecipada das medidas de isolamento social implementadas para combater a disseminação da covid-19. Essa ideia vem sendo analisada pela Casa Branca, que já considera reabrir a economia dos Estados Unidos, e deve ser seguida pelo presidente Jair Bolsonaro, que também pretende afrouxar o confinamento.
Ele prepara medidas para ampliar a lista de atividade consideradas essenciais, incluindo 14 novas categorias. Ontem à noite, em novo pronunciamento em rede nacional, Bolsonaro deixou claro que a quarentena adotada em muitos estados para combater a doença é de responsabilidade dos governadores e disse que “a maioria dos brasileiros” quer voltar a trabalhar. Ele afirmou também que a equipe de ministros deve estar sintonizada a ele.
Rali sem fim
Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram com alta firme, de mais de 1%, o que garante uma abertura no azul na Europa, onde as principais praças exibem ganhos de até 2%. Na Ásia, o avanço foi modesto, sendo que Tóquio oscilou em baixa (-0,04%), com os investidores tendo dificuldades para escolher o foco positivo sobre o coronavírus. Ainda assim, o volume financeiro está fraco, antes do feriado em muitos países.
Nos demais mercados, destaque para o aumento acelerado nos preços do barril de petróleo, após a Rússia sinalizar que está pronta para fazer cortes na produção. A coalizão da Opep+ e o G-20 reúne-se hoje em duas videoconferências, que podem confirmar a redução de 10 milhões de barris de petróleo por dia, dando fim à guerra de preço da commodity deflagrada por sauditas e russos.
Entre as demais commodities, o minério de ferro subiu 1,5% a tonelada métrica. O ouro também se fortalece, cotado acima de US$ 1,655 por onça-troy. Nos bônus, o rendimento (yield) do título norte-americano de 10 anos (T-note) cai a 0,75%, assim como a maioria dos bônus soberanos europeus. Nas moedas, o euro oscila em alta, assim como o iene e a libra esterlina, enquanto o dólar australiano oscila em baixa.
Esse comportamento lá fora tende a embalar os mercados domésticos, como já se tem observado nos últimos três dias, apesar de o Brasil ainda estar longe do pico da crise do coronavírus, com o aumento de novos casos e mortes pela doença levantando questões sobre quando as medidas restritivas podem ser relaxadas. Mas ainda hoje são importantes dados sobre a inflação no Brasil e o emprego nos EUA.
Dia de agenda cheia
A semana encurtada pelo feriado da Sexta-feira Santa, amanhã, termina com uma agenda carregada de indicadores econômicos. No Brasil, o destaque fica com a inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA), que deve desacelerar a 0,15% em março, já com efeitos da pandemia sobre o câmbio e os combustíveis, e acumulando taxa de 3,4% em 12 meses.
Os números efetivos serão conhecidos às 9h. No mesmo horário, sai uma nova estimativa para a safra agrícola neste ano. Já no exterior, o destaque fica com os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA, que devem registrar mais um salto de 5 milhões de solicitações, totalizando mais de 10 milhões nas últimas três semanas.
O resultado oficial será divulgado às 9h30. No mesmo horário, sai o índice de preços ao produtor (PPI) norte-americano. Depois, às 11h, é a vez dos estoques no atacado dos EUA em fevereiro e da prévia deste mês do índice de confiança do consumidor no país. Ainda às 11h, merece atenção o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.
No eixo Europa-Ásia, o Banco Central Europeu (BCE) publica a ata da reunião de política monetária de março (7h30), quando foram anunciadas medidas de estímulo à zona do euro. No fim do dia, a China entra em cena para anunciar a inflação no atacado (PPI) e no varejo (CPI) no mês passado.