As palavras faladas voam. A escrita fica. Algumas coisas precisam estar registradas em papel, para que resistam ao teste do tempo ao serem devidamente documentadas.
“Verba volant, scripta manent”, além de um provérbio em latim, faz referência à carta escrita por Michel Temer a Dilma Rousseff, que poderia ser definida como uma das maiores inflexões político-econômico-sociais da história brasileira. Ali, começamos a irromper contra a trajetória na direção do “Fim do Brasil”, para construir uma 'Ponte para o Futuro”.
A turma mais canhota poderia insistir na narrativa do golpe. Do outro lado, críticas virão sobre o início de uma relação menos transparente com um STF acusado de penetrar territórios de outros poderes e elevar-se demais mediante profusão de decisões monocráticas.
A despeito de ponderações possíveis e da vil insistência na balela do golpe, a catálise de um movimento em prol do impeachment da ex-presidente Dilma abriu caminho para um profundo programa de reformas, para que se evitasse qualquer ruptura institucional ou fiscal e voltássemos a uma velha e ortodoxa matriz econômica, pois a "nova" nunca deveria ter existido.
Construiu-se um governo de notáveis e o Brasil foi (talvez ainda seja) por anos o país com o ritmo mais acelerado de reformas estruturantes. Michel Temer nunca foi ou será um presidente popular, mas talvez por isso mesmo poderá ser julgado pela História. Sem a possibilidade da reeleição ou dos (des)prazeres do populismo, ficou mais fácil a postura institucional e de estadista. Também as circunstâncias lhe foram favoráveis para a implementação das reformas, claro — o Brasil flertava com o princípio e, para respeitar sua vocação macunaímica, sua complacência e sua tendência à mediocridade, por definição, precisava reverter à média. Se estávamos com a nota 1, seria natural voltarmos para nossa tradição de aluno nota 5.
Desviamos da rota Argentina para perseguir um orçamento mais equilibrado, um mercado de trabalho mais flexível, uma melhora do ambiente de negócios (por que paramos de falar nisso?) e uma evolução da produtividade dos fatores. Não só evitamos a catástrofe da dominância fiscal e/ou a perda do valor de nossa moeda, como temos colhido até hoje os benefícios daquele longo e profundo programa de reformas. Há três anos, o PIB brasileiro cresce mais do que o esperado, em cerca de cinco pontos percentuais. A maior parte dos economistas concorda que um bocado dessa diferença decorre das aprovações estruturantes do governo Temer, continuadas e ampliadas por Paulo Guedes na administração Bolsonaro. Com honestidade intelectual, precisamos reconhecer que outra parte ainda carece de explicação, como se tivéssemos um resíduo inexplicável até o momento para a fortaleza da economia (fenômeno, inclusive, que é global; a esta altura, todos já esperariam, por exemplo, que os EUA estivessem em recessão).