A percepção predominante é de que o COPOM precisaria do dólar com preço ligeiramente acima do ponto de equilíbrio, para conter as projeções de desvalorização cambial que compõe os agregados de formação do custo do cupom cambial, para que pudesse promover de forma confortável a redução da taxa SELIC hoje, confirmando a queda de 0,50%, em concomitância com a expectativa de que o FED americano reduza a taxa nos Estados Unidos em 0,25%, evitando a denominada disfuncionalidade.
Todavia, o que se percebeu no comportamento do mercado nos últimos dias foi a intensificação por parte dos fundos de hedge, interna e externamente, do desmonte de posições “compradas”, por reversão, e incremento das posições “vendidas”, envolvendo o real, o que conteve o viés de depreciação da moeda brasileira e, agora, até permite a ilação de que possa estar ocorrendo um súbita mudança de perspectivas para o Brasil no curto prazo.
Efetivamente, o país vem apresentando fluxo cambial deficitário sem expectativas imediatas de recuperação no curto prazo, mas, há sinalizações ainda que sutis, e sem grande fundamentação no momento, de que o Brasil esteja migrando do ambiente de baixíssima atratividade para uma melhor avaliação em perspectiva de curto prazo, e que este sentimento seja a força motriz que está determinando a redução de apostas contra o real, colocando-o já numa projeção mais tênue para fechamento ao final do ano.
O BC tem atuado bem suplementando a carência de fluxo cambial positivo, focando a liquidez e não a interferência na formação do preço da moeda americana, o que contorna com a ancoragem que opera com a oferta de swaps cambiais reversos.
A estratégia ainda perdurará minimamente ao longo deste mês de setembro, podendo prolongar-se por outubro, porém não se espera que se torne contumaz e duradouro no tempo, mas foi suficiente para pôr em prática a “garantia de liquidez” sempre alardeada e nunca praticada com moeda efetiva, o que agrega confiança ao investidor, sancionando um contexto diferente dos demais países emergentes, que podem representar um risco cambial maior, hipótese que no Brasil é praticada nula e agora ratificada pela atitude do BC na prática.
Há manifestações de algumas instituições financeiras e organismos internacionais enaltecendo as perspectivas para o Brasil, a despeito da inércia da atividade econômica predominante e dos problemas de carência de recursos governamentais para investimentos estruturais fundamentais, mas há a percepção de que o governo, apesar do forte açodamento pró-desgaste, vem avançando com suas reformas na direção correta e que visam reordenar o país.
As projeções para o PIB neste ano são tímidas, mas 0,87% quando se observam grandes economias claudicantes já passa a ser visto não tão negativo, porém o país tem baixa inflação, juros baixos, CDS excelente, e terá oportunidades proporcionadas pelo governo na área de privatizações e precisa que o setor produtivo retome o “espírito empreendedor”, já que está desmotivado dado a expressiva capacidade ociosa e queda do consumo, renda e o país tenha expressivo desemprego.
Seria o prenúncio da virada?
As perspectivas já sugerem que se anteveja, se projete o preço do dólar para o final do ano em torno de R$ 3,80/3,85 e agora em R$ 3,90/3,95? E assim a taxa cambial em torno de R$ 4,05/4,10 já esteja em patamar de conforto para o BC/COPOM sancionar o corte na taxa SELIC, e esta percepção se consolida com a atitude dos fundos vendendo ou desfazendo de suas posições compras no mercado futuro, aqui e no exterior?
É possível, mas é preciso que haja a sinalização mais forte com intensificação dos fluxos de recursos externos para o país, revertendo a deficiência de fluxo cambial positivo, seja em direção da Bovespa, ou mesmo para o mercado de juro, embora as margens para operações de “carry trade” tecnicamente estejam exauridas ou quase inviabilizadas, mas a visão de que a apreciação do real pode se acentuar atenuaria a formação do custo do cupom cambial.
O contexto global está muito complexo e confuso, mas o Brasil pode ter excelentes oportunidades de incremento de suas exportações, em especial nas commodities agrícolas e alimentares, podendo a partir deste ambiente galgar alguma recuperação do emprego, renda e consumo, então estimulando outros setores produtivos.
Há percepção de que o país está na direção certa, a despeito de todos os atropelos políticos, mas é preciso que ganhe velocidade e quem sabe os estrangeiros não estejam antevendo o melhor ambiente antes dos nacionais que tem se mantido fortemente em embates ideológicos desgastantes?
Está muito difícil de vislumbrar tendências efetivas neste momento, mas tudo leva a crer que o "clima" em torno do Brasil está com sinalizações mais otimistas.