O “quase pânico” instalado no mercado global com os receios em torno da retomada da pandemia, agora com a variante Delta, afastou todos os fundamentos acerca da recuperação da economia mundial e impôs postura defensiva forte de todos os segmentos do mercado financeiro mundial.
A postura defensiva nem sempre representa o desmanche de posições, mas afeta principalmente o psicológico e determina, por vezes, deterioração dos preços por expectativa do pior e, por isto, o recomendável é não se precipitar e observar muito.
Evidentemente que o novo momento da pandemia tem grandiosidade para impactar negativamente na economia mundial, mas sempre há precipitações e movimentos especulativos envolvidos nestes movimentos bruscos, razão pela qual embora ocorra o afastamento dos fundamentos, é recomendável que não se afaste a sensatez.
É bastante factível que hoje ocorram reacomodações dos preços dos diversos segmentos do mercado, ajustando-os face às exacerbações havidas, embora perdurem as preocupações que se acentuaram com a ameaça da retomada da pandemia a nível mundial.
Estes movimentos abruptos, com causa efetiva, mas exacerbados, são alertas consistentes dos desafios que o Brasil tem pela frente, visto que só conseguiu imunizar duplamente pouco mais de 15% da população e há um comportamento social bastante expositivo à ocorrência de retomada mais incisiva da pandemia e seus efeitos deletérios na atividade econômica, geração de emprego e renda.
O Brasil ainda está muito vulnerável à pandemia, embora o hábito da convivência com a mesma, por vezes, a transpareça menor à percepção popular.
Como destacamos ontem, há nos Estados Unidos um entendimento contraditório entre governo e setor produtivo acerca da inflação presente na sua economia, e que os faz divergir com percepção díspare, enquanto o governo a vê como temporária e o setor produtivo a entende como sustentável e a repassa para os preços.
Prevalecendo o entendimento do governo, certamente o FED não procederá a mudanças em sua política monetária, sustentando desejar o dólar mais fragilizado como estratégia para aumentar a competitividade exportadora do país e inibir importações, protegendo, ainda que momentaneamente, sua indústria.
Se verdadeira esta assertiva, o real poderá acentuar, tecnicamente, o viés de apreciação, embora ainda permaneça muito vulnerável aos ruídos impertinentes emanados da área política.
Acreditamos que a perspectiva inflacionária no Brasil consistente e a convicção de que o COPOM procederá aos ajustes necessários na taxa SELIC promoverá a atratividade do país ao capital especulativo, principalmente focando a renda fixa, com base em fluxos ancorados em operações de “carry trade”, e isto, se ocorrer, poderá ser contributivo para a apreciação do real.
A Bovespa dá sinais de que está carente da presença dos investidores estrangeiros, mas a atratividade ancorada no desempenho de nossa economia ainda está fragilizada, embora haja inúmeros IPO's programados.
Há quase um consenso de que o preço da moeda americana no Brasil deveria estar no patamar de R$ 5,00, porém a intensificação da antecipação da campanha eleitoral focando a sucessão presidencial e o desgaste e intranquilidade que isto vem proporcionando pela forma e conteúdo, que afetam perspectivas acerca da reforma tributária e, praticamente, inviabilizam a reforma administrativa, cria pontos de resistência ao ajuste efetivo do preço do câmbio.
Afora a pandemia e eventual retomada, o país tem no radar a crise hídrica, o empobrecimento com crescimento da miséria que impõe gastos ao governo já carente de receitas, a queda indireta da renda pela voracidade da inflação presente corroendo os ganhos dos assalariados, agora também ameaçados de perderem benefícios como vale refeição e vale alimentação, com o novo tratamento sugerido na reforma tributária, enfim, uma gama enorme de desafios consistentes e perturbadores.