Segundo a prévia do varejo de novembro (IPCA-15), tivemos a maior alta da carne bovina desde o início de 2020, intervalo da série disponibilizada pelo IBGE para esses dados.
Na média dos cortes de carne bovina, a alta em novembro foi de 7,6%, com destaque para o acém, que se valorizou 10,0%, seguido pelo peito bovino, que subiu 9,9%.
Os cortes de dianteiro normalmente têm peso maior nas exportações e essa valorização tem influência dessa via de escoamento. Em novembro, considerando os dados parciais disponíveis, dos primeiros 14 dias úteis, o Brasil embarcou uma média diária de 12,9 mil toneladas de carne bovina in natura (Secex), valor que, se mantido, será o maior já registrado, superando em 4,6% o recorde diário do mês anterior.
Além das exportações, com a alta da carne bovina, assim como qualquer produto para o qual existem substitutos, há algum deslocamento da demanda. Esse deslocamento ocorre de maneira gradual.
Por exemplo, há a substituição de cortes mais caros por outros mais baratos ou mesmo da carne bovina por outras carnes ou proteínas. Parte do consumo de cortes de traseiro passa para cortes de dianteiro (que também são exportados), o que ajuda a reforçar esse movimento de alta.
Por outro lado, também há deslocamento da demanda por cortes bovinos para outras carnes, principalmente a de frango, pela maior competitividade em termos de preços (na comparação com a carne suína), além de ser uma carne amplamente consumida, ou seja, já está na rotina do brasileiro.
A propósito, no acumulado de janeiro a outubro a carne bovina já superou os valores totais de 2023, mas considerando apenas os dez primeiros meses, carne de aves e suínos também estão nas máximas para o volume embarcado.
Pensando nessa relação entre o consumo de carnes e proteínas alternativas, trouxemos as variações de preços em novembro, frente a outubro, também segundo o IPCA-15.
Veja a figura 1.
Figura 1. Variações de preços ao consumidor em novembro (IPCA-15).
Fonte: IBGE / Elaboração: HN AGRO
O cenário de altas fortes para o boi gordo desde meados do ano tem sido repassado aos elos seguintes, embora nem sempre na mesma proporção. Esse movimento chegou ao varejo.
As carnes ovina, suína e de frango também subiram no último mês. A carne ovina tem uma demanda menos popular no Brasil, mas frango e suíno também subiram menos que a carne bovina, o que acirra a competição pela escolha do consumidor.
Dezembro costuma ser o melhor momento do ano para o escoamento no varejo, o resultando, normalmente, em valorizações no elo final da cadeia. No caso das carnes suína e de frango, ainda há uma sazonalidade específica do período, relacionada às ceias no Natal e Ano Novo, quando essas carnes são tradicionalmente consumidas.
Em termos de escoamento, a carne bovina perdeu competitividade ao longo de novembro. Para dezembro é provável que haja mais uma rodada de valorização entre as carnes, mas como preços do frango e suíno também devem evoluir, a competitividade da carne bovina deve ter menos impacto sobre suas vendas do que as altas acumuladas nos preços nos últimos meses.
Cabe o destaque de que as valorizações tipicamente ocorrem nesses períodos por questões que reforçam a demanda, como décimos terceiros e contratações temporárias. Ou seja, o final de ano é um período no qual “um pouco a mais” pode ser pago pela carne, a questão é sempre o quanto.