Uma das coisas que estou aproveitando para fazer durante este momento de pandemia é aprimorar algumas de minhas habilidades. Nos últimos dias, assisti as aulas do professor Aswath Damodaran sobre como fazer valuation de empresas, presentes em seu canal do YouTube. Isso me provocou algumas reflexões, que gostaria de compartilhar neste artigo.
Seu curso começa com uma pergunta que me chamou muito atenção: qual das alternativas abaixo você concorda mais? As opções: a) Valuation é uma ciência; b) Valuation é uma arte; c) Valuation é mágica ou d) Nenhuma das anteriores.
A grande maioria das pessoas, eu inclusive, ficaria em dúvida entre a primeira e a segunda alternativa. E, se possível, diria que é um mix entre ciência e arte.
No entanto, para uma das maiores autoridades em valuation no mundo, o processo de avaliação de uma empresa é um ofício. Valuation não pode ser a alternativa A, pois a ciência exige que, caso as premissas estiverem corretas, os resultados devem, necessariamente, ser corretos.
Pense nas leis da física e da matemática, por exemplo, elas são universais, não há exceções. 2+2 são = 4 e sempre serão = 4. Acontece que no valuation precisamos trabalhar com o futuro e estimar os resultados da empresa nos próximos anos. O que, como sabemos, é uma tarefa extremamente difícil.
Por conta disso, o investidor que chega em um valor exato para uma empresa e se convence que está certo é ingênuo, pois o futuro é extremamente incerto. Dessa forma, é muito mais fácil, e recompensador, estimar um intervalo de valor para a empresa, e se certificar de que está pagando muito menos por ele, exigindo uma confortável margem de segurança.
Os analistas que afirmam com convicção que a empresa XYZ, por exemplo, vale R$ 23,84 por ação soam precisos, mas, na verdade, são extremamente imprecisos. Os números possuem esse poder, de passar uma noção de controle, precisão. Informação que, em muitos casos, podem refletir justamente o contrário.
Portanto, valuation não é uma ciência, pois não conseguimos chegar em um resultado exato. Ou seja, não há uma resposta 100% correta.
E quanto à arte? Damodaran também não concorda com essa afirmação. Pois, para ele, em uma arte existem elementos que podem ser ensinados, como algumas técnicas de pintura e sombreado. Mas também há uma certa mágica, ou seja, um talento necessário, que ou você possui, ou não. A essência da arte é que ou você já nasce um ótimo artista, ou não. Eu, particularmente, sou um péssimo artista.
Mas então o que é valuation? É um ofício, pois é uma habilidade que você aprende praticando. Quanto mais você fizer, melhor vai ficar. Simples assim, não há segredo. Todos com uma base de contabilidade e um conhecimento prévio de finanças, nada complexo, podem estimar o valor intrínseco de uma empresa.
Acontece que muitos profissionais querem complicar o que deveria ser simples. Dessa forma, criam modelos com centenas de variáveis, utilizam termos complexos e assustam os investidores de varejo, que, infelizmente, começam a acreditar que não são capazes de fazer aquilo.
O valor de uma empresa é derivado de três características: seus fluxos de caixa, seu crescimento e o risco desses fluxos de caixa se materializar. Ao focar em muitas estimativas, você está perdendo a oportunidade de focar maior tempo e esforço nas poucas e principais premissas que realmente criam valor para a empresa.
Sendo assim, em valuation, muitas vezes, menos é mais. Não acredite nas pessoas (muitas vezes, essa pessoa é você mesmo) que lhe falam que você não é capaz. Damodaran não nasceu sabendo como avaliar uma empresa, e também não nasceu com um talento para tal. O professor colocou horas de esforço em aprimorar essa habilidade e, portanto, depois de muito treinamento, transformou-a em um ofício que pode ser ensinado.
Sou suspeito para falar, mas creio que é uma habilidade que todos deveriam ter. Se você é um investido, por exemplo, precisa se certificar de que está comprando US$ 1 por US$ 0,75. Por outro lado, se você é um empreendedor, precisa aumentar o valor de sua empresa. Mas, como você irá aumentar o valor de sua empresa se: a) não sabe quais são os drivers de criação de valor; e b) não consegue medir e se certificar de que a estratégia adotada está gerando retornos? Sendo assim, pratique, pratique e pratique. É o único jeito de aprender e dominar um importante ofício, como a habilidade de avaliação de empresas